
Passando pelas duas primeiras salas do andar t�rreo do Centro Cultural do Banco do Brasil de Belo Horizonte (CCBB-BH), o visitante se depara com pinturas abstratas, que mesclam nas telas areia, juta, papel, rede met�lica, gesso, entre outros materiais recicl�veis. As cores quentes e frias das telas, juntamente com a luz morteira do local, comp�em o cen�rio, que, embora pare�a m�rbido num primeiro momento, � sereno e agrad�vel. Ali est�o as obras mais recentes do artista pl�stico italiano Umberto Nigi.
� medida que o visitante vai avan�ando, as telas abstratas de Nigi v�o dando lugar a imagens de estilo naif, tamb�m criadas pelo artista italiano. No final da exposi��o, saem de cena as formas geom�tricas criadas com jutas, gesso e areia para entrar personagens concretos que fumam, bebem e jogam uma partida de cartas na taberna, todos concebidos enquanto Nigi iniciava sua carreira art�stica, ainda na It�lia, na d�cada de 1970.
Essa esp�cie de cronologia invertida � uma das propostas da mostra “Cor e forma: A poesia do equil�brio”, individual de Umberto Nigi que entra em cartaz nesta quarta-feira (21/9), no centro cultural na Pra�a da Liberdade. Ao todo, s�o 100 obras do artista italiano que percorrem seus 50 anos de carreira.
“Comecei a fazer telas no estilo naif e figurativo. Depois, rodando o mundo e vivendo em outros pa�ses, acabei tendo contato com obras de artistas de vanguarda e me afastei do que vinha fazendo. Passei, ent�o, a me dedicar a um tipo de arte que est� entre o figurativo e o moderno, que � o que fa�o hoje”, observa Nigi, que est� radicado em BH e conduziu uma visita guiada � mostra para um grupo de jornalistas, na manh� de ter�a (20/9).
Al�m das telas figurativas e abstratas reunidas na exposi��o, h� tamb�m pinturas sobre madeira, “um material que n�o h� nada que se compare na natureza”, segundo o italiano.

A busca do equil�brio
O visitante mais atento perceber� que essas pe�as em madeira parecem ter sofrido algum tipo de desmazelo devido �s falhas e imperfei��es na mat�ria-prima. No entanto, isso � intencional, garante o artista. � uma forma de estabelecer um equil�brio entre o abstrato – que para Nigi � a n�o representa��o da realidade – e a pr�pria realidade.A busca por esse equil�brio, portanto, � o que guia o italiano ao longo de sua trajet�ria. Em mais de uma oportunidade, ele cita o jornalista e escritor americano Robert Bridge ao dizer que “a nossa estabilidade � somente equil�brio e a nossa sabedoria est� no controle do imprevisto”.
“Manter o equil�brio em todas as coisas � muito importante para mim”, diz ele. “No abstrato, � dif�cil conseguir isso, mas � extremamente necess�rio”.
Como exemplo, o artista cita a juta, “um material que, se voc� n�o domina, ela o domina. Assim, eu preciso coloc�-la do jeito que eu quero, e n�o do jeito que ela quer ser colocada. Porque, se n�o tem equil�brio nos quadros, o sentido deles acaba”, afirma.

Da It�lia ao impressionista Van Gogh
Nascido em Gorgona, menor ilha do arquip�lago toscano, Nigi se mudou cedo para Livorno. L�, teve contato com obras dos conterr�neos Amedeo Modigliani (1884-1920) e Renzo Casali, cujo est�dio frequentou. Tamb�m foi em Livorno que conheceu o Macchiaioli – movimento composto por pintores que buscavam no ufanismo a oposi��o ao academicismo no intuito de romper com o Neoclassicismo e com o Romantismo.Foi o Impressionismo de Van Gogh, contudo, que deteve a aten��o do italiano, de modo que Nigi partiu para Paris somente para ver as obras do holand�s. De l�, voltou com outra cabe�a e come�ou a pintar com maior intensidade.
“A arte � como uma droga. Ela d� aquele est�mulo para continuar a viver, continuar progredindo. Ela � important�ssima. Precisamos de algum objetivo na vida, e ela d� a voc� um objetivo que n�o tem fim”, afirma Nigi.
A arte de Nigi tamb�m se prop�e a agu�ar a criatividade e a imagina��o de quem a contempla. De todas as 100 obras reunidas em “Cor e forma: A poesia do equil�brio”, nenhuma conta com t�tulo. Isso porque n�o foram concebidas de uma �nica vez. Todas elas passaram por um per�odo de gesta��o.
“A vida e a arte s�o feitas de momentos. Quando come�o a fazer um quadro, nunca sei se vou fazer da maneira que o concebi em minha mente. Por exemplo, come�o a fazer e n�o termino no mesmo dia. Deixo de lado para continuar no dia seguinte. Quando retomo, n�o estou vivendo mais aquilo que vivia no dia anterior. J� � outro momento da minha vida”, diz.
"Por que n�o o Brasil?"
Em se tratando de momentos da vida, um especial � o que Nigi tem vivido nas �ltimas duas d�cadas, desde que resolveu se instalar definitivamente no Brasil, depois de ter morado em mais de 30 pa�ses – j� viveu na Inglaterra, Egito, Iraque, EUA, It�lia, entre outros.Ao longo dos cerca de 20 anos no pa�s, Umberto Nigi j� realizou ao menos cinco exposi��es na capital mineira. “N�o sei dizer quantas j� fiz no Brasil. Sei que fora de Belo Horizonte j� expus em S�o Paulo, Petr�polis, Bras�lia, Ouro Preto e Tiradentes”, cita.
“Quando me perguntam por que escolhi o Brasil, devolvo a pergunta: por que n�o o Brasil?”, provoca. Morando atualmente na capital mineira, ele conta que, do Brasil – mais especificamente de Belo Horizonte –, o que mais o fascina � o azul do c�u, que, conforme ressalta, tem uma pigmenta��o singular.
A cor do c�u, contudo, n�o foi o motivo da vinda para o Brasil, admite Nigi. E nem foi o primeiro contato que ele teve com o pa�s. Uma de suas primeiras intera��es com o Brasil se deu ainda na It�lia, quando come�ou a usar materiais recicl�veis em suas obras. Na �poca, estava em um caf� italiano e viu ali um saco de juta com a impress�o: “Caf� do Brasil”.
O pa�s n�o lhe chamou a aten��o mais do que o material do qual era feito o saco. O artista comprou todos eles no intuito de inseri-los em suas obras e, assim, desde que come�ou a criar telas abstratas com materiais que v�o al�m das tintas, j� estavam ali fragmentos do Brasil.
A vinda de Nigi, entretanto, s� ocorreu por motivo de for�a maior: a mulher por quem se apaixonou e que se tornou sua esposa � brasileira. Assim, t�o logo se casou, Nigi fez para si mesmo a pergunta que hoje usa para rebater jornalistas: “Por que n�o o Brasil?”.
Em paralelo � mostra “Cor e forma: a poesia do equil�brio”, o CCBB promove na pr�xima quarta-feira (28/9) show do acordeonista italiano Pietro Roffi e do quarteto de cordas Fam�lia Barros. No repert�rio, pe�as de Astor Piazzolla (1921-1992) e Vivaldi (1678-1741). A apresenta��o � gratuita mediante retirada de ingressos na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura.
“COR E FORMA: A POESIA DO EQUIL�BRIO”
Individual de Uberto Nigi. No Centro Cultural Banco do Brasil (Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios. (31) 3431-9400). Em cartaz desta quarta (21/9) a 14/11, de quarta a segunda-feira, das 10h �s 22h. Entrada franca, mediante a retirada de ingressos na bilheteria do CCBB ou pelo site bb.com.br/cultura