'Pantanal' � aposta certeira na era de ouro das novelas brasileiras
Folhetim chega � reta final comprovando o f�lego da adapta��o de antigas tramas ao olhar contempor�neo, abordando quest�es que mobilizam o espectador
Zaquieu (Silvero Pereira) se torna o valente pe�o gay de "Pantanal", depois de enfrentar o preconceito dos trabalhadores da fazenda de Jos� Le�ncio (foto: Globo/divulga��o
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Na virada de agosto para setembro, HBO e Amazon Prime Video lan�aram as respectivas apostas no universo das s�ries de fantasia, “A Casa do Drag�o” e “Os An�is de Poder”. Os spin-offs de “Game of Thrones” e “Senhor dos An�is” mobilizaram o planeta, com os primeiros epis�dios batendo os 20 milh�es de espectadores.
O Brasil, entretanto, s� quis saber de Maria Bruaca (Isabel Teixeira), Trindade (Gabriel Sater), Velho do Rio (Osmar Prado), Juma (Alanis Guillen) e Cramulh�o (apelido do diabo), personagens da novela “Pantanal”, exibida na faixa das 21h pela TV Globo. Nas redes sociais, houve quem apresentasse n�meros das telenovelas globais, sobretudo do folhetim das nove, superiores aos da s�ries estrangeiras.
Remake do sucesso da TV Manchete na d�cada de 1990, escrito por Benedito Ruy Barbosa e considerado cl�ssico da teledramaturgia brasileira, “Pantanal” estreou em 28 de mar�o, com direito a “an�ncio solene” pelo �ncora do Jornal Nacional, William Bonner.
De cara, a trama assinada por Bruno Luperi, neto de Benedito Ruy Barbosa, recuperou parte da audi�ncia perdida pela antecessora “Um lugar ao sol”, o primeiro t�tulo in�dito da Globo desde a eclos�o da pandemia de COVID-19.
Nesta reta final – o �ltimo cap�tulo ser� exibido na sexta-feira que vem, 7 de outubro –, a expectativa � de que “Pantanal” consiga superar a m�dia de 30 pontos de audi�ncia, desempenho prejudicado pelo hor�rio eleitoral gratuito ao longo de setembro.
"Reiva" de Juma (Alanis Guillen), que na foto acerta as contas com Levi (Leandro Lima), inspirou at� o rei Roberto Carlos (foto: Globo/divulga��o
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Twitter � o "ibope" destes tempos
Atualmente, o sucesso de uma novela n�o se mede apenas pela quantidade de aparelhos de TV ligados. Ali�s, a repercuss�o da trama pantaneira nas redes sociais � consider�vel: por v�rias vezes, ela ficou entre os assuntos mais comentados do Twitter. Foi tamb�m uma das atra��es mais assistidas na plataforma de streaming da Globo.
“Pantanal” caiu – mesmo – na boca do povo, como se diz. O linguajar dos pe�es da fazenda de Jos� Le�ncio (Marcos Palmeira) ganhou as ruas do pa�s.
“Ara!”, “larga m�o” e “reiva” conquistaram tamb�m as redes sociais. At� Roberto Carlos aderiu. Ao explicar por que mandou um f� que atrapalhava seu show se calar, o Rei avisou: “Quando fico com 'reiva', nem a Juma segura!”...
O impacto da est�tica pantaneira se refletiu at� na nova camisa da Sele��o Brasileira, que disputar� a Copa do Mundo do Qatar, com in�cio em em novembro. Ela traz relevo inspirado na on�a-pintada, a outra face de Juma Marru�.
A Nike, que fornece material para o time, usou elementos do bioma do Pantanal no material de divulga��o do uniforme, embora tenha negado a influ�ncia da novela, propriamente dita, em seu produto.
Machismo e LGBTfobia
Devido a ajustes feitos por Bruno Luperi ao longo do remake, temas pol�micos tratados de forma preconceituosa na primeira vers�o de “Pantanal”, como homossexualidade e “LGTBfobia”, ganharam novo enfoque.
O neto de Benedito Ruy Barbosa p�s muitos holofotes sobre o machismo, por exemplo. E o protagonista Jos� Le�ncio fez mea-culpa sobre sua ignor�ncia e dos pe�es a respeito tanto do homossexualismo de Zaquieu quanto do jeito delicado de Jove (Jesu�ta Barbosa), tachado de “floz�” e alvo de chacotas.
Maria Bruaca conquistou o Brasil ao se rebelar contra a tirania do marido, Ten�rio (Murilo Ben�cio), machista e violento. Fez isso redescobrindo a pr�pria sexualidade, relacionando-se com rapazes mais jovens do que ela.
O Brasil apoiou a autodescoberta pessoal e sexual da dona de casa Maria Bruaca (Isabel Teixeira) (foto: Jo�o Miguel J�nior/Globo
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Bruno Luperi enfatizou tamb�m a import�ncia de preservar o meio ambiente e, sobretudo, o desenvolvimento sustent�vel, atrav�s de decis�es empresariais no agroneg�cio. O herdeiro Jove, por exemplo, defende a utiliza��o nas terras do pai de sistemas agroflorestais, os SAFs.
O jornalista Maur�cio Stycer, especializado em TV, considera que o remake conseguiu apresentar “entretenimento conectado � realidade, que fez pensar sobre v�rios assuntos”. Para ele, de modo geral, “Pantanal” representa a tentativa, por parte da Globo, “de resgatar a �poca de ouro das novelas, apesar de ter sido uma aposta c�moda e segura.”
Elenco de primeira
Stycer ressalta a qualidade do elenco “enxuto”, que entregou alto n�vel de interpreta��o. De acordo com o colunista do site Uol, � at� “injusti�a” destacar algu�m em particular.
Nesta �ltima semana, atores e atrizes que participaram da vers�o original surgir�o como convidados do casamento triplo de Fil� (Dira Paes) e Jos� Le�ncio (Marcos Palmeira), Tadeu (Jos� Loreto) e Zefa (Paula Barbosa), e Irma (Camila Morgado) e Jos� Lucas (Irandhir Santos).
Estar�o no cas�rio Cristiana Oliveira, que deu vida a Juma na Manchete, S�rgio Reis, o Tib�rio original, Giovanna Gold, a primeira Zefa, e Ingra Lyberato, que interpretou Madeleine. Al�m, claro, de Almir Sater, Gisela Reimann e Marcos Palmeira, que atuaram na primeira vers�o como Tib�rio, �rica e Tadeu, e agora interpretam o chalaneiro Eug�nio, Ingrid e Jos� Le�ncio.
A Globo tem o costume de n�o divulgar resumos dos �ltimos cap�tulos de suas novelas. Mas nesta reta final, j� se sabe de algumas mudan�as em rela��o � “Pantanal” dos anos 1990.
Na primeira vers�o, Ten�rio (Antonio Petrin) castrou Alcides (Angelo Ant�nio) devido ao caso dele com sua ex-mulher Maria Bruaca (�ngela Leal). Agora, Ten�rio (Murilo Ben�cio) torturou a ex (Isabel Teixeira) e estuprou Alcides (Juliano Cazarr�).
A morte � o destino do vil�o machista e violento. Mas Alcides e Maria Bruaca n�o v�o partir para longe, como ocorreu nos anos 1990. Desta vez, o casal comparecer� � festa tripla de casamento na fazenda de Jos� Le�ncio.
Tradi��o e modernidade: Velho do Rio (Osmar Prado) � guardi�o do Pantanal, enquanto o neto Jove (Jesu�ta Barbosa) p�e em pr�tica o desenvolvimento sustent�vel nas fazendas do pai (foto: Estevam Avellar/Globo)
Salva de tiros eliminada
Outra mudan�a: na primeira vers�o, havia salva de tiros no enterro de Jos� Le�ncio. Luperi excluiu a cena, neste Brasil �s voltas com a propaga��o do armamentismo pelo presidente da Rep�blica e viol�ncia pol�tica, a pedido do elenco.
Jos� Le�ncio vai morrer do cora��o, como ocorreu na primeira trama, e o bast�o das fazendas ficar� com Joventino (Jesu�ta Barbosa). O patriarca ser� o novo Velho do Rio, guardi�o do Pantanal, no lugar de seu pai.
Na primeira vers�o, Claudio Marzo fez o papel dos dois. Ali�s, o ator, que morreu em 2015, ganhou homenagem, com ajuda de efeitos de intelig�ncia artificial, ressurgindo na comitiva formada por pantaneiros j� mortos, em cap�tulo exibido em agosto.
Tadeu (Jos� Loreto) vencer� a competi��o pela sela de prata do av�, mas � Jove quem ficar� � frente dos neg�cios da fam�lia.
Guta (Julia Dalavia) e Marcelo (Lucas Leto) repetir�o final feliz da trama original, enquanto Zuleica (Aline Borges) e Renato (Gabriel Santana) administrar�o os neg�cios de Ten�rio, executado por Zaquieu (Silvero Pereira) e Alcides. O corpo dele ser� arrastado pelo Velho do Rio para ser comido pelas piranhas.
O ex-mordomo Zaquieu assumir� o crime e se firmar� como pe�o – gay – na fazenda que ser� comandada por Jove.
Algo que foi especulado, mas n�o ocorreu, foi a mudan�a da hist�ria de Madeleine. Na segunda fase da trama original, a m�e de Jove (Marcos Winter), interpretada por Ittala Nandi, desaparece em acidente de avi�o. O desfecho se deu por solicita��o da atriz, que faria um trabalho na �ndia. Havia a expectativa de que agora a personagem (Karine Teles) fosse salva pelo Velho do Rio. Mas ela continuou desaparecida.
Escala��o de Jade Picon para viver Chiara, em 'Travessia', causou tititi nas redes (foto: Estevam Avelar/Globo)
'Travessia' nem come�ou, mas causa pol�mica
Em 10 de outubro, estreia “Travessia”. Ap�s o sucesso de “Pantanal”, vem a� a aposta da emissora para manter a audi�ncia, sob a batuta de Gloria Perez. O novo folhetim j� causa pol�mica.
Al�m da controversa escolha da influenciadora Jade Picon para o elenco, ele furou a fila do hor�rio nobre e empurrou “Todas as flores”, de Jo�o Emanuel Carneiro (“A favorita”; “Avenida Brasil”), para a plataforma de streaming Globoplay.
Na �ltima ter�a-feira (27/9), Gloria Perez curtiu um tu�te em apoio a Jair Bolsonaro em seu perfil no Twitter, desagradando parte do p�blico noveleiro, que amea�ou boicot�-la. A novelista negou ser bolsonarista.
Enquanto o remake de “Pantana” indica a poss�vel adapta��o de fen�menos como “Roque Santeiro” e “Vale tudo” pela Globo, o folhetim “O arroz de palma”, parceria de Bruno Luperi com a m�e, a escritora Edmara Barbosa, especulado para a faixa das 18h, por enquanto continua na gaveta onde a emissora guarda suas produ��es originais.
* Estagi�rio sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria
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