
Lucas Fr�es - Folhapress
Em entrevista ao jornalista Geneton Moraes Neto, em 1998, o produtor dos Beatles, George Martin, lembra que a primeira impress�o que teve da m�sica dos quatro rapazes de Liverpool n�o foi boa. “N�o vi nenhuma evid�ncia de que eles seriam grandes compositores”, afirmou.
“Eles aprenderam, copiaram o que ouviam dos Estados Unidos. Aprenderam o of�cio da composi��o bem depressa”, disse Martin sobre o in�cio da carreira do quarteto.
H� 60 anos, em 5 de outubro de 1962, no mesmo dia em que o primeiro filme da saga James Bond estreava, o mundo come�ou a tomar conhecimento dos Beatles. Produzido por George Martin, o primeiro lan�amento do grupo, um compacto com as m�sicas “Love me do”, no lado A, e “P.S. I love you”, no lado B – duas composi��es da dupla Lennon e McCartney –, chegou �s lojas de discos do Reino Unido e abriu as portas para a beatlemania.
“Eles tinham carisma. Eu sabia que se pudesse achar a m�sica certa para eles, ent�o seria um hit”, disse Martin.
Primeiro lugar nos EUA
Na virada do ano, “Love me do” alcan�ou a 17ª posi��o na parada brit�nica. Lan�ada mais tarde nos Estados Unidos, chegou ao primeiro lugar das listas americanas em 1964.
“John e eu come�amos a compor alguns anos antes de conseguirmos um contrato de grava��o. N�s costum�vamos perder aula, ir para minha casa e tentar escrever can��es. Fizemos um monte juntos, uma delas foi 'Love me do'”, disse Paul McCartney � BBC, em 1982, nos 20 anos do lan�amento da m�sica.
“Quando George Martin me perguntou, na primeira sess�o de grava��o, se eu poderia cantar 'Love me do' nessa parte, disse que sim”, relembrou McCartney durante o especial “Chaos and creation at Abbey Road”, em 2005.
Nervoso e intimidado com o est�dio da EMI, que em 1976 mudaria de nome para Abbey Road por causa do disco de 1969 dos Beatles, McCartney cantou, aterrorizado. “Voc� pode ouvir isso no disco, se escutar atentamente”, declarou.
Foi mais ou menos naquela �poca que surgiram as imagens publicadas recentemente pelo jornal ingl�s Evening Standard, que estampou duas fotos in�ditas dos Beatles, tiradas em julho de 1961. Os m�sicos est�o se apresentando no famoso Cavern Club, em Liverpool, vestidos � paisana, sem as jaquetas, � �poca habituais.
Os quatro haviam acabado de retornar de Hamburgo, na Alemanha, onde tocaram em boates e clubes por tr�s meses. No ano anterior, quando estavam na Holanda, a caminho da primeira ida a Hamburgo, John Lennon furtou, numa loja de instrumentos musicais, a gaita que usaria na grava��o de “Love me do”.
“De volta a Liverpool, conseguimos muito trabalho. Eles achavam que �ramos alem�es, mas que fal�vamos bem ingl�s”, contou Lennon no especial “Mersey sound”, em 1963.

Brian Epstein no Carvern Club
Durante a estadia em Hamburgo, em 1961, os Beatles serviram como banda de apoio do cantor Tony Sheridan na grava��o de “My bonnie”. Com o lan�amento do single, a garotada do Cavern Club correu para comprar o disco na loja do empres�rio Brian Epstein, chamando a aten��o dele. Epstein foi ao Cavern para saber quem eram aqueles quatro rapazes.
“Fui imediatamente pego pela m�sica, pela batida e pelo senso de humor no palco”, contou Epstein no especial “Mersey sound”. O empres�rio ofereceu contrato � banda, arrumou mais apresenta��es, fez com que trocassem as jaquetas por ternos e come�ou a correr atr�s de uma gravadora. At� conseguir audi��o na Decca Records, agendada para o primeiro dia de 1962. Mas os Beatles n�o foram aprovados.
“Dick Rowe, o homem que n�o quis nos contratar, o chefe da Decca, disse: ‘Grupos de guitarra est�o acabando, Epstein’”, revelou George Harrison no document�rio “The Beatles anthology”, lan�ado em 1995.
Sai Decca, entra EMI
Com a grava��o realizada na Decca em m�os, Brian Epstein foi a Londres mostr�-la ao produtor de discos de com�dia e maestro George Martin. “Era bem ruim, e pude entender por que todos tinham recusado”, contou Martin na entrevista a Geneton Moraes Neto.
O produtor, no entanto, disse a Epstein que trouxesse os Beatles a Londres. De acordo com o historiador Mark Lewisohn, eles j� chegaram para o encontro com Martin, em 6 de junho de 1962, como contratados da EMI.
Na tal sess�o de grava��o, Martin n�o gostou do desempenho do ent�o baterista Pete Best e disse a Epstein que providenciaria outro.
Acumulando desaven�as antigas com Best, os outros tr�s beatles pediram a Epstein que contratasse no lugar dele um baterista que havia tocado algumas vezes com o grupo, chamado Richard Starkey, rapaz que tinha mecha branca no cabelo, v�rios an�is nos dedos, era dono de um carro Zephyr Zodiac e atendia pelo nome art�stico de Ringo Starr.
“Historicamente, pode parecer que fizemos algo desagrad�vel com Pete, mas a hist�ria tamb�m mostra que Ringo era o membro do grupo. Ele s� n�o tinha entrado no filme at� uma determinada cena”, comentou Harrison no filme “The Beatles anthology”.

Olho roxo
A troca n�o foi bem recebida por todos. Em Liverpool, a mudan�a de baterista enfureceu a plateia do Cavern Club. Nas grava��es de “Love me do” e “P.S. I love you”, Harrison aparece de olho roxo nas fotos, depois de tomar uma cabe�ada de um dos revoltados.
“George lutou por mim”, ironizou Ringo Starr. “Quando Ringo veio para a grava��o, ningu�m me disse que ele estava vindo. Eu j� tinha reservado Andy White para tocar”, contou Martin no document�rio “The Beatles anthology”.
Por isso, duas vers�es de “Love me do” chegaram �s lojas. Nas primeiras prensagens do compacto de estreia, Ringo Starr � o baterista. Nas seguintes e no LP “Please, please me”, lan�ado em 1963, Andy White segura as baquetas. White tamb�m tocou em “P.S. I love you”. Em 1995, na colet�nea “Anthology 1”, veio a p�blico uma nova vers�o, dessa vez com Pete Best na bateria.
No in�cio daquele ano, o produtor Giles Martin, filho de George, publicou um v�deo antigo em que o pai, morto em 2016, conta � fam�lia sobre seu primeiro encontro com os Beatles. “Eles eram o tipo de pessoas das quais voc� gosta de estar junto”, disse Martin.
“Meu pai pegava as ideias (dos Beatles) e as interpretava como uma antena parab�lica que poderia transmiti-las para um disco de vinil”, comparou Giles em entrevista ao site NME.
No pr�ximo dia 28 de, ser� lan�ada a edi��o especial de “Revolver”, quinto disco dos Beatles a ganhar remixagem e remasteriza��o da dupla Giles Martin e Sam Okell.
Em entrevista � televis�o estatal francesa, em 1990, George Martin foi perguntado sobre o que seria dos Beatles sem ele.
“Teriam sido os Beatles, tenho certeza. Eles eram muito bons para n�o acontecerem”, respondeu. Questionado em seguida sobre o que seria dele como produtor sem os Beatles, George Martin declaou que “provavelmente continuaria fazendo discos de com�dia”. E riu.
TR�S BATERISTAS PARA UM SINGLE


