
Ieda Marcondes - Folhapress
Apesar do t�tulo f�nebre, “Morte Morte Morte” � mais mist�rio do que terror. Imagine o tabuleiro de Detetive com vers�es atualizadas do Coronel Mostarda, da Dona Violeta e de todos os outros suspeitos cl�ssicos. Produzido pela A24, o segundo longa-metragem de Halina Reijn � uma esp�cie de “Entre facas e segredos” da gera��o Z.
Em 2019, Rian Johnson fez sucesso com sua homenagem a Agatha Christie e deu tom sat�rico ao suspense que resultou na divertida cr�tica social estrelada por Daniel Craig e Ana de Armas. Em menor escala, “Morte Morte Morte” tenta fazer o mesmo, mas tendo jovens de 20 e poucos anos, quase todos ricos e mimados, como alvo.
A b�lgara Maria Bakalova, revela��o de “Borat: Fita de cinema seguinte”, interpreta a estrangeira Bee, nova namorada de Sophie, dependente qu�mica em recupera��o vivida por Amandla Stenberg, de “Jogos vorazes”. Sophie leva Bee para conhecer os amigos, que pretendem fazer festa numa mans�o remota para aguardar a passagem de um furac�o.
Na festa est�o David (o comediante Pete Davidson); Chase Sui Wonders no papel de sua namorada, Emma; a sincerona Alice, encarnada pela vibrante Rachel Sennott, de “Shiva Baby”; seu paquera quarent�o Greg, vivido por Lee Pace, da trilogia “O Hobbit”; e a aborrecida Jordan (Myha'la Herrold).
Drogas
N�o demora muito para os convidados come�arem a beber ou usar drogas e os �nimos esquentarem, durante brincadeira parecida com o popular videogame Among Us. Com a chegada da tempestade, a energia el�trica da mans�o cai, os celulares s� servem como lanternas e as primeiras v�timas s�o descobertas.A cada morte, os remanescentes trocam acusa��es e, por acidente ou n�o, revelam segredos comprometedores que geram ainda mais desconfian�a. Mesmo com o vocabul�rio da moda, que envolve termos elegantes como gaslight e gatilho, a fachada politicamente correta e good vibes do grupo vai desmoronando no decorrer da noite.
Enquanto o impressionante talento c�mico de Bakalova � desperdi�ado num papel sisudo, Sennott j� demonstra todo o seu potencial de estrela. Com poucos homens no elenco, as jovens atrizes roubam a cena. Na dire��o, � promissor o talento da holandesa Reijn, que tamb�m � atriz e j� trabalhou com Paul Verhoeven.
O roteiro, que captura o zeitgeist dos chamados nativos digitais, � assinado por Kristen Roupenian, autora do conto viral “Cat Person”, publicado pela revista New Yorker, e Sarah DeLappe, finalista do Pr�mio Pulitzer com a pe�a “The wolves”. Para quem n�o vive acorrentado �s redes sociais, no entanto, nem todos os di�logos podem funcionar.
“Morte Morte Morte” lida com personagens propositalmente irritantes, que n�o s� est�o por dentro de todas as tretas do Twitter como devem ter participado da maioria delas.
Aqueles que j� enfrentaram a f�ria irracional dos jovens na internet conhecem bem a forte tend�ncia que eles t�m ao prejulgamento e �s rea��es desproporcionais.
O filme de Reijn � como testemunhar um bate-boca tragic�mico na rede social da sa�de mental, com a diferen�a de que os cancelados sofrem consequ�ncias muito mais graves do que o block.
“MORTE MORTE MORTE”
EUA, 2022, 95min. De Halina Reijn, com Amandla Stenberg, Pete Davidson, Maria Bakalova, Chase Sui Wonders e Myha'la Herrold. Jovens se re�nem em mans�o e se divertem com jogo fict�cio de assassinatos, at� que mortes de verdade come�am a ocorrer. O grupo tenta se unir, mas isso � imposs�vel devido ao comportamento egoc�ntrico da turma. Em cartaz nas salas das redes Cinemark e Cineart.
