
"Meu projeto, no momento, � levar esse show com Paulinho para Belo Horizonte e ver o Brasil voltar a ser uma na��o que acredita em si mesma e olha para a frente. Depois, � continuar cantando por a�, escrevendo e inventando desafios"
Z�lia Duncan, cantora e compositora
Artistas de uma mesma gera��o, que despontaram nos anos 1990, Z�lia Duncan e Paulinho Moska s�o amigos h� 30 anos. Durante todo esse tempo de parcerias e trocas em diversas inst�ncias, sempre alimentaram a ideia de um show juntos. O projeto, enfim, se concretizou em maio deste ano, quando a dupla deu in�cio � turn� “Um par �mpar”, que chega a Belo Horizonte, com �nica apresenta��o nesta sexta-feira (21/10), no Pal�cio das Artes.
Empunhando seus respectivos viol�es, Moska e Z�lia desfilam um repert�rio que se ancora, sobretudo, nas m�sicas que compuseram juntos. O roteiro se completa com temas de um e de outro em parcerias com outros m�sicos e com algumas composi��es de lavra alheia, como “Tudo ou nada” (Itamar Assump��o e Alice Ruiz) e “L� vou eu” (Rita Lee).
Al�m de can��es registradas ao longo da discografia dos artistas, h� dois temas in�ditos – “Verdade na fonte” e a m�sica que d� t�tulo � turn�, composta h� quase 10 anos e que permaneceu na gaveta para que pudesse ser apresentada a partir desse encontro no palco. Al�m de Z�lia e Moska, o show conta apenas com a participa��o do violonista argentino Miguel Bestard.
Guerra sem inimigos
A sele��o das m�sicas que a dupla canta no show foi uma “guerra em que ningu�m era inimigo de ningu�m”, segundo Moska. Ele conta que, estabelecida a lista das parcerias com Z�lia que a dupla achava pertinente incluir no roteiro, um come�ou a indicar os temas da autoria do outro de que mais gostava.
“Amo o repert�rio dela, e ela admira o meu trabalho, ent�o cada um fez sua lista de preferidas. Da�, fomos, junto com Rodrigo Suricato, que � o diretor musical do show, cortando uma aqui e outra ali, mas com muita dor. Durante esse processo j� fiquei com a impress�o de que a gente vai precisar fazer um volume 2 desse show para podermos cantar mais coisas”, diz.
Z�lia, por sua vez, concorda que chegar ao repert�rio que “Um par �mpar” abarca n�o foi f�cil. “Era uma lista imensa; fomos testando, vendo o que nos dava mais prazer e tamb�m o que parecia ter import�ncia para o p�blico. No final das contas, ficaram alguns dos nossos cl�ssicos, duas m�sicas novas e algumas boas surpresas”, aponta.
Moska ressalta que o show �, antes de mais nada, a celebra��o de uma amizade que ultrapassa a quest�o da m�sica. Ele diz que isso � algo que fica evidente para o p�blico, a verdade da rela��o entre os dois, o “transbordamento de amor”, conforme diz, que se expressa na sintonia que demonstram na execu��o das can��es.
“Somos amigos confidentes. J� chorei muito no ombro da Z�lia e ela no meu, j� sofremos e celebramos muito; ent�o, o que est� no palco � o reflexo desse amor que nutrimos um pelo outro. Isso n�o se inventa, n�o se ensaia e n�o se mente; aparece quando � verdadeiro. O p�blico percebe essa intimidade, v� que esse show n�o � uma ideia marqueteira, � um projeto de vida de dois amigos”, aponta.
Ele se recorda de quando, no in�cio da carreira de ambos, antes de gravarem seus respectivos �lbuns de estreia, se esbarraram pela primeira vez. Moska e Z�lia estavam participando de uma premia��o promovida por um bar onde ambos costumavam se apresentar, ainda sem se conhecer. Ele estava indicado como melhor cantor e ela, como melhor cantora.
“Eu tinha acabado de comprar um viol�o maravilhoso, um Takamine, e, quando entrei no camarim, vi um igual ao meu. Fiquei preocupado de a pessoa confundir e levar o meu embora. De repente, entrou tamb�m uma cabeluda, que era a dona do outro viol�o; eu estava igualmente cabeludo, achei que era um espelho, aquela figura com um visual parecido com o meu, n�s dois com viol�es id�nticos. Ficamos amigos imediatamente”, conta.
"Somos amigos confidentes, j� chorei muito no ombro da Z�lia e ela no meu, j� sofremos e celebramos muito; ent�o, o que est� no palco � o reflexo desse amor que nutrimos um pelo outro. Isso n�o se inventa, n�o se ensaia e n�o se mente; aparece quando � verdadeiro"
Paulinho Moska, cantor e compositor
Ele diz que poucos meses depois desse primeiro encontro recebeu uma letra de Z�lia, para que fizesse a m�sica. “A gente come�ou a compor juntos e, ao longo dos anos, devemos ter feito umas 15 boas m�sicas, que entraram para o meu repert�rio ou para o dela”, diz. Dessa safra, est�o presentes no show “Carne e osso”, de 2005, “Sinto encanto”, de 2019, e “O tom do amor”, de 2011, entre outras.
“Desde quando t�nhamos umas seis ou sete m�sicas compostas em parceria, fal�vamos dessa possibilidade, desse sonho de um show em dupla. Z�lia � amiga de tudo, � ombro, � ouvido, boca, palavra, comportamento, voz; � um espelho mesmo”, diz Moska. Sua parceira no palco diz que o show demorou a sair do plano das ideias em raz�o de conting�ncias das carreiras solo de um e de outro.
“Quando resolvemos fazer esse show, veio a pandemia. O bom � que, passado tanto tempo, o que n�o nos falta � assunto para cantar”, diz ela. Moska conta que a t�o aguardada estreia de “Um par �mpar”, em maio deste ano, quando percorreu cidades do interior paulista, correspondeu �s expectativas.
“Demos in�cio a essa turn� com muita alegria e muita tranquilidade. Temos nossas atividades e n�o estamos nos obrigando a parar tudo em fun��o dela. Tamb�m n�o temos um prazo para cumprir. No Rio de Janeiro, a gente s� vai fazer esse show em fevereiro do pr�ximo ano; em S�o Paulo, em janeiro. A toada ser� essa. Acho que vamos ficar com essa turn� pelo resto da vida”, diverte-se.
Do folk ao pop
Z�lia diz que s�o muitos os pontos de converg�ncia entre a sua m�sica e a de Moska, e muitas caracter�sticas que os aproximam como compositores. “Vai desde a sonoridade entre o folk e o pop que a gente tira com o viol�o de a�o at� alguns temas, o que passa por vis�o de mundo, afeto, confian�a. Adoramos criar e cantar juntos, nos divertimos, nos emocionamos, e as pessoas v�m junto na nossa viagem”, diz.
Moska observa que Z�lia � fundamentalmente uma letrista, que n�o costuma compor m�sica, e que, portanto, a principal caracter�stica de seu trabalho como criadora � o tra�o po�tico. “Ela se formou em letras j� adulta, j� como uma cantora reconhecida, ent�o tem uma profunda rela��o com a palavra, uma rela��o que � – diferentemente da minha – te�rica, rigorosa. Tudo o que ela me envia eu acho interessante, porque, justamente, tem esse dom�nio, esse trato com a palavra”, elogia.
Z�lia, por sua vez, assente e devolve o afago: “Sempre me guiei mais pelas palavras e procurei estar bem acompanhada de produtores e arranjadores, que me ajudam a fazer o que me caracteriza. Paulinho � um excelente m�sico e comp�e j� com os arranjos sugeridos, isso lhe d� muita particularidade. Quando componho com ele, em geral fa�o as letras, mas como ele faz as duas coisas muito bem, suas palavras s�o altamente bem-vindas junto com as minhas”.
O show tem sido muito bem recebido nas cidades por onde j� passou, segundo Moska. Ele diz ter a impress�o de que o que mais cativa o p�blico � ouvir as m�sicas de um na voz do outro. Essa foi uma sacada que a dupla teve, conforme aponta.
“Cada um come�a cantando a m�sica que � do repert�rio do outro. Z�lia introduz, por exemplo, ‘Pensando em voc�’ e ‘A seta e o alvo’, e eu come�o ‘Me revelar’, ‘Catedral’, a m�sica do Itamar Assump��o e da Rita Lee, que s�o extra�das da discografia dela. Tem esses jogos, essas surpresas”, adianta.
Sobre os projetos pessoais, que correm em paralelo com a turn� “Um par �mpar”, ele diz que est� �s voltas com o show intitulado “Os viol�es F�nix do Museu Nacional”, que se vincula com o document�rio “F�nix – O voo de Davi”, produzido e exibido pela Globo News e atualmente dispon�vel no Globoplay.
A bordo desse projeto, que envolve outros cinco artistas – Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Hamilton de Holanda, Nilze Carvalho e Felipe Prazeres –, ele tem se apresentado com dois viol�es feitos com madeira de rescaldo do inc�ndio do Museu Nacional, em setembro de 2018. Os instrumentos foram confeccionados pelo subtenente do Corpo de Bombeiros Davi Lopes, que trabalhou no combate ao inc�ndio e que tem como atividade paralela a luteria.
“� um projeto lindo. O Davi teve essa ideia de recuperar a madeira, fazer viol�es com ela e vender, de forma que os recursos possam ajudar na recupera��o do Museu Nacional. Criamos um grupo para tentar viabilizar esse sonho dele. Fizemos um document�rio e viramos padrinhos desses instrumentos, que, afinal, pertencem ao Estado”, conta.
Olhar para a frente
J� Z�lia n�o est� envolvida com nenhum outro projeto espec�fico e diz que tem procurado mirar o futuro dando um passo de cada vez. “Meu projeto, no momento, � levar esse show com Paulinho para Belo Horizonte e ver o Brasil voltar a ser uma na��o que acredita em si mesma e olha para a frente. Depois, � continuar cantando por a�, escrevendo e inventando desafios”, destaca.
A prop�sito, at� para falar do atual cen�rio pol�tico e social do pa�s, Moska e Z�lia demonstram sintonia. Ambos recorreram � palavra “caos” para definir o atual estado das coisas. “Estamos vivendo um caos, que j� era de se esperar, ao ver eleito um presidente que desrespeita nossas caracter�sticas mais importantes e semeia o desequil�brio na sociedade brasileira”, diz ela.
“A gente est� vivendo o verdadeiro caos, e o principal personagem desse caos � a mentira, que impede voc� de acessar a verdade, da� voc� entende que metade do pa�s apoie e concorde com todas as aberra��es que t�m acontecido. A gente tem um mentecapto na Presid�ncia, uma pessoa cruel, que tem o discurso, os atos e os projetos do autoritarismo, da ignor�ncia e da viol�ncia”, afirma Moska.
“UM PAR �MPAR”
• Show de Paulinho Moska e Z�lia Duncan. Nesta sexta-feira (21/10), �s 21h, no Grande Teatro do Pal�cio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro, 31.3236.7400).
• Ingressos para plateia 1 a R$ 300 (inteira) e R$ 150 (meia), plateia 2 a R$ 280 (inteira) e R$ 140 (meia) e plateia superior a R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia).
• Ingressos para plateia 1 a R$ 300 (inteira) e R$ 150 (meia), plateia 2 a R$ 280 (inteira) e R$ 140 (meia) e plateia superior a R$ 240 (inteira) e R$ 120 (meia).
• Promo��o para fam�lia e/ou amigos: na compra a partir de dois ingressos (inteira), o valor de cada um cai para R$ 170 (plateia 1), R$ 160 (plateia 2) e R$ 140 (plateia superior). � venda na bilheteria do teatro e pelo site Eventim