Morte de Jerry Lee Lewis encerra fenomenal carreira do rock and roll
Com a morte de Jerry Lee Lewis, aos 87, de causas naturais, foi-se o �ltimo dos sobreviventes - e o maior dos anti-her�is - do time de pioneiros do rock'n'roll
Jerry Lee Lewis, em Los Angeles, em fevereiro de 2005, quando recebeu o pr�mio Grammy pela carreira
(foto: AP Photo/Reed Saxon)
Ele foi e fez tudo muito – e isso n�o foi necessariamente positivo. Com a morte de Jerry Lee Lewis ontem, aos 87 anos, de causas naturais, foi-se o �ltimo dos sobreviventes – e o maior dos anti-her�is – do time de pioneiros do rock’n’roll lan�ados pelo Sun Studios, de Memphis, Tennessee (colegas de gravadora: Elvis Presley, Roy Orbison, Johnny Cash e Carl Perkins).
The Killer, o apelido que o acompanhou por toda a vida, protagonizou, por mais de meio s�culo, uma carreira err�tica. Em que mais de uma vez sua tumultuada trajet�ria pessoal suplantou suas conquistas musicais. Mas isso n�o tira dele, de maneira alguma, a import�ncia e o protagonismo no universo do rock.
“Great balls of fire” (1957) � seu primeiro disco – e, diante dele, o mundo veio abaixo e nunca mais foi o mesmo. Assim como Elvis, Lewis veio das entranhas do Sul dos Estados Unidos, terra do blues e da m�sica negra.
Nascido em 29 de setembro de 1935, em Ferriday, Louisiana, em uma fam�lia humilde, tinha apenas 8 anos quando o pai hipotecou sua casa para lhe dar um piano. Na �poca, aluno de uma escola evang�lica, acabou sendo expulso por tocar vers�es aceleradas de hinos religiosos.
Nunca mais voltou a estudar e abra�ou a m�sica de todas as maneiras que p�de – country, boogie-woogie, rhythm’n’blues, gospel. Sua primeira apresenta��o, aos 14 anos, foi na inaugura��o de uma concession�ria de carros. Em 1956, bateu �s portas da Sun Records e logo se tornou pianista de Cash, Perkins e Elvis, grupo posteriormente apelidado de Million Dollar Quartet.
O astro do rock se apresentou em Belo Horizonte, em 20 de setembro de 2009, um domingo, encerrando sua turn� pelo Brasil no Music Hall, em Santa Efig�nia
(foto: Eugenio Gurgel/Especial para o EM D.A. Press - 21.set.2009 )
Chutes
Um ano mais tarde, viria o �lbum de estreia. Irritado porque, com o piano, n�o podia dan�ar no palco como Elvis e sua guitarra, Lewis n�o fez por menos: passou a chutar seu pr�prio instrumento. E, ao longo de sua trajet�ria, passou a fazer de tudo com o piano: tocava com os p�s, com os punhos cerrados e at� mesmo com o traseiro. Tudo era poss�vel no palco.
Para al�m de “Great balls of fire”, Lewis teve outros sucessos, n�o muitos, mas que lhe garantiram seu lugar como arquiteto do rock’n’roll: “Whole lotta shakin’”, “High school confidential” e “Breathless”, “Lovin’ up a storm” e “Chatilly lace” s�o as mais conhecidas de uma trajet�ria que somou 40 �lbuns de est�dio.
Sua vida pessoal � uma somat�ria de trag�dias e acontecimentos desmedidos que impressionam por n�o ter catapultado sua carreira na m�sica. Ao se casar com a prima Myra Gale Brown, ent�o com 13 anos, Lewis colocou uma p� de cal em sua pr�pria trajet�ria.
Na �poca, 1958, ele estava no auge e em plena turn� pelo Reino Unido. Quando o esc�ndalo foi revelado, o restante dos shows foi cancelado. Esta��es de r�dio e promotores de shows dos EUA tamb�m o escantearam, e sua popularidade desapareceu. Ele nunca mais teve um hit no Top 20 dos EUA.
Casamentos
Myra Gale foi a mulher n�mero tr�s de Lewis – ao todo, foram sete casamentos. Ele, que teve seis filhos, ainda testemunhou a morte de dois – Steve Allen Lewis se afogou em uma piscina, aos 3 anos, e Jerry Lee Lewis Jr., que chegou a tocar bateria com ele, morreu em um acidente de carro, aos 19 anos.
Sua quarta mulher, Jaren Elizabeth Gunn Pate, tamb�m morreu afogada em uma piscina, em meio a um div�rcio turbulento. J� a quinta, Shawn Stephens, sucumbiu a uma overdose.
Mais: em seu 41º anivers�rio, Lewis atirou no peito de seu pr�prio baixista. Tamb�m jogou um Rolls Royce em um fosso, viciou-se em analg�sicos e sangrou, quase at� morrer, de uma �lcera no est�mago.
A s�rie de �lceras foi respons�vel por perder um ter�o do est�mago. Em 1986, dois anos ap�s ter sobrevivido � cirurgia, ele chegou ao Rock’n’roll Hall of Fame, tendo como colegas Chuck Berry e Elvis. Com o primeiro, ficou not�ria a hist�ria do show em que Lewis incendiou o piano por n�o aceitar tocar antes que Berry. Com Elvis tamb�m houve alterca��es. Em 1976, Lewis foi preso depois de aparecer b�bado em Graceland com uma arma carregada no painel de seu carro.
Ganhou muito, mas acabou devendo centenas de milhares de d�lares ao fisco. Em 1994, quando come�ou a receber turistas em sua resid�ncia perto de Nesbit, Mississippi – cuja piscina tinha a forma de um piano – ele criou um n�mero de telefone para que os f�s pudessem ligar para uma mensagem gravada. Custou, na �poca, US$ 2,75 por minuto.
A despeito de tamanha bagagem, Lewis conseguiu se reinventar na m�sica. Na d�cada de 1960, fez sucesso no country, per�odo em que ganhou tr�s Grammys. Mais recentemente, reuniu outros grandes como ele em tr�s �lbuns, seus �ltimos discos.
Convidados
“Last man standing” (2006) contou com a participa��o de 21 grandes – Mick Jagger, Jimmy Page, Bruce Springsteen, B. B. King e Keith Richards entre eles. Quatro anos mais tarde, Lewis levou Jagger, Richards, Sheryl Crow e Tim McGraw, entre outros, para participar do �lbum “Mean old man”. Seu derradeiro trabalho � “Rock & roll time” (2014), que contou com sess�es de est�dio de Richards, Ron Wood e Neil Young.
H� 13 anos, apresentou-se em Belo Horizonte. Em 20 setembro de 2009, encerrou uma turn� pelo Brasil no finado Music Hall, em Santa Efig�nia. Noite de domingo, a casa estava pela metade. Mas nada disso fez diferen�a para o m�sico, um senhor de sapatos brancos e camisa bicolor, e a plateia.
Prestes a completar 74 anos na �poca, disse a esta rep�rter que n�o era mais o mesmo. “Os reflexos est�o mais lentos. � claro que n�o pulo mais como antes. A precau��o vem junto com a idade. E voc� sabe que fiz muitas coisas loucas na minha vida.”
Sua trajet�ria foi parar no cinema em 1989, no filme “A fera do rock”, com Dennis Quaid como Lewis e Winona Ryder como Myra Gale. Sobre estas “coisas loucas” retratadas no cinema, Lewis disse n�o concordar: “Atualmente, vejo esse assunto de uma forma melhor do que no passado. A verdade � que n�o fiquei nada feliz quando ele foi lan�ado. Ali�s, ningu�m da minha fam�lia ficou.”
Na conversa, n�o perdeu a fleuma de maneira alguma – e apesar das muitas pelas quais passou na vida. “N�o vejo ainda hoje algu�m tocando piano como eu. Costumo dizer que basta me dar um piano para da� a 15 minutos as pessoas come�arem a balan�ar, gritar e tremer dos p�s � cabe�a.” (Com ag�ncias de not�cias)