
“O Milton pintou na minha vida primeiro porque foi morar em Alfenas, minha terra natal, entre 1962 e 1964. Ent�o, meus tios e av�s j� cantavam suas m�sicas, inclusive eram contempor�neos dele. Quando ou�o Milton, Clube da Esquina, me lembro de Minas Gerais, da minha casa, da minha inf�ncia e adolesc�ncia. Sinto o cheiro de casa, um neg�cio maravilhoso. � impressionante como um som, um tipo de m�sica, um canto, uma coisa de melodia, de harmonia, possa representar t�o profundamente o lugar de onde a gente �. N�o sei se as pessoas que n�o s�o daqui sentem isso, mas elas devem sentir alguma outra coisa quando ouvem a produ��o musical do Milton. Em 2000, quando est�vamos gravando o terceiro disco do Jota Quest, ‘Oxig�nio’, ficamos sabendo que o Milton estava l� (no est�dio). Chamamos ele para gravar conosco ‘Desses tantos modos’, uma m�sica suave que tem um refr�o bem Clube da Esquina. Depois disso houve muitos encontros, mas o grande momento foi em 2017, quando ele cantou com a gente no ‘Ac�stico ’ a can��o ‘O sol’ (Ant�nio J�lio Nast�cia), que j� tinha gravado em um disco dele. Foi a honra das honras.” (Rog�rio Flausino)

“Em 1982, montei o show ‘Cora��o brasileiro’ e o apresentei no Teatro da Imprensa Oficial. O Milton foi l� assistir e, a partir da�, abriu as portas para nos tornarmos amigos. Em certo momento, me perguntou se eu tinha algum disco. Eu disse que n�o e ele falou: ‘Vamos produzir o seu disco’. Foi o primeiro choque que tomei. Tamb�m disse: ‘Quero gravar uma m�sica sua’. Gravou ‘Cora��o brasileiro’, que saiu no �lbum ‘�nima’ (1982). Perguntei a ele: ‘Mas quem iria tocar o viol�o?’ Ele respondeu: ‘Voc�’. Fomos para o Rio de Janeiro, junto com o Grupo Uakti e o Juarez Moreira. Fiquei muito emocionado, porque estava tocando viol�o para o Milton Nascimento gravar uma m�sica minha. No ano seguinte, Milton produziu meu primeiro LP, ‘Cora��o brasileiro’. H� pouco tempo, fiquei sabendo de onde veio o dinheiro para produzir aquele disco. Milton iria receber um dinheiro da gravadora e disse: ‘Em vez de eu receber esse dinheiro, vou peg�-lo, escolher alguns nomes, produzir discos e voc�s v�o coloc�-los para vender.’ Fui uma dessas pessoas. Ele nunca me falou disso, fiquei sabendo h� pouco tempo e n�o por ele. Gravamos uma parte do disco aqui na Bemol e o finalizamos no Rio de Janeiro. Numa noite de mixagem, a gente j� cansado e, de repente, ele ficou meio no ar, olhando para o vazio. Eu perguntei o que houve e ele respondeu: ‘Estou pensando em minha comadre’. A comadre dele era a Elis Regina (1945-1982), que tinha morrido no ano anterior. Bituca ficou baqueado e choroso e, de repente, vira pra mim e diz: ‘Sei que voc� est� pensando que estou fazendo muita coisa pra voc�, Celso Adolfo, mas n�o estou, n�o. Quem ia fazer muito por voc� era a minha comadre’. Mais uma vez fiquei impressionado com esse golpe de mod�stia da parte dele.” (Celso Adolfo)

“Minha hist�ria com o Bituca � muito importante como m�sico e como um cara que nasceu em Minas. N�o gosto muito de regionalizar a m�sica do Milton, porque, das coisas feitas no Brasil, s�o as mais internacionais, mais universais, ao lado da bossa nova. Bituca � m�sica do mundo. O primeiro disco que me lembro, tinha uns 5 anos, era o ‘Clube da Esquina’ (1972), obrigat�rio l� em casa. Gosto de todos os discos do Clube, mas o do Milton e do L� tem um significado especial para mim. Ainda que n�o tivesse me tornado m�sico, ainda assim a m�sica do Milton ia ser determinante na minha vida. Ela � a s�ntese do Brasil. Voc� tem coisas da m�sica latina, africana, sacra claras ali. Por isso � que se fala m�sica de Minas, porque tem alguma coisa da m�sica religiosa, algo meio m�ntrico tamb�m. Quando o Skank apareceu, come�ou um papo de que a gente n�o agradaria o gosto do Bituca, porque a nossa m�sica era muito diferente, com pouco acorde e muito pop. Um belo dia, a gente estava tocando em um bar em BH e ele apareceu. Bituca � antenado em tudo que � novo, um descobridor de talentos. Quando a gente se conheceu, j� est�vamos no segundo disco, o ‘Calango’ (1994). Ali come�ou uma amizade, a gente passou a se falar e essa foi a primeira vez que encontrei com ele em uma posi��o de vocalista de uma banda. Na �poca, a gente tocava muito nos bares a m�sica ‘Ra�a’, uma can��o linda que fala dos �cones negros da cultura brasileira. Ia ter um festival no Parque das Mangabeiras e resolvemos convid�-lo para cantar ‘Ra�a’, s� que numa vers�o bem Skank, meio reggae. Foi a� o nosso primeiro encontro no palco.” (Samuel Rosa)

“Acho que a primeira vez que ouvi o Milton cantar foi ainda na Bahia, numa fita k7 que meu pai tinha e ouvia num gravador Akai double-deck. Ali estavam muitas can��es cl�ssicas que depois se tornaram mais familiares pra mim quando vim morar em Belo Horizonte. Uma voz �mpar que sempre emociona a todos. Curiosamente, a can��o que mais gosto dele � uma parceria com Fernando Brant que ficou mais conhecida na voz do Beto Guedes: ‘Veveco, panelas e canelas’. Eu acho essa melodia uma das mais bonitas que ele fez, adoro ouvi-la quando estou no avi�o vendo a costa brasileira do alto, margeando antes de uma aterrissagem.” (Fernanda Takai)
“Para mim, Milton Nascimento representa a for�a da natureza, o poder da conex�o que podemos criar, atrav�s da m�sica, com outras pessoas. Eu sinto isso quando eu escuto Milton Nascimento. Tive o privil�gio e a alegria de gravar um dos seus �ltimos trabalhos, que foi o ‘Existe amor’, com Criolo, onde eu fiz o arranjo para as m�sicas ‘N�o existe amor em SP’ e ‘Cais’. Mas dentre tantas m�sicas incr�veis que o Milton tem, a que eu mais amo � ‘Vera Cruz’. Quando comecei nas rodas de m�sica instrumental em Recife, se tocava muito essa m�sica. Ela tem um valor afetivo muito forte pelo que representa uma cena que estava se formando ali. Milton Nascimento � a representatividade de toda uma gera��o antes da minha, e a minha que pode assisti-lo e ver essa figura, esse homem negro, toda esta pot�ncia que nos d� a oportunidade de entender que tamb�m podemos ser plenos com a nossa arte. Ent�o ele nos representa dessa maneira tamb�m.” (Amaro Freitas)

“Quando o Milton gravou comigo a can��o ‘N�o � c�u’ (2013), a certa altura ele, gentilmente, me disse: ‘Voc� canta muito bem’. Respondi na hora: ‘Aprendi contigo’. Eu n�o poderia ter sido mais espont�neo e sincero. Aos 13 anos, descobri o �lbum ‘Minas’ (1975). � parte a genialidade das can��es e dos arranjos, a voz de Milton, seu timbre e interpreta��o, me puseram no caminho sem volta de querer cantar. Eu ia para o corredor da nossa velha casa, onde havia certo eco, e ali tentava cantar como ele. A meta era inating�vel, claro, mas foi assim que comecei a encontrar minha pr�pria voz. Meu primeiro disco, gravado aos 18 anos com can��es compostas a partir dos 14, � evidentemente o de um disc�pulo de Milton Nascimento. Demorei a me distanciar da influ�ncia dele. E, confesso que n�o me empenhei muito. Mas, paradoxalmente, foi s� ao fazer isso que pude corresponder ao que ele me ensinou. Que ele tenha gravado uma das minhas primeiras composi��es, ‘Estrela, estrela’, � das coisas mais emocionantes que vivi.” (Vitor Ramil)

“Conheci Milton Nascimento na casa do Tom Jobim. Na �poca, j� tinha feito a melodia de ‘Viola enluarada’ e toquei para ele. Milton adorou, tornamo-nos amigos. A�, meu irm�o, Paulo Sergio Valle, fez a letra e quando chegou a hora de gravar, chamei o Milton, porque ele j� estava cantando essa can��o comigo nas rodas. Foi aquele sucesso. Fizemos juntos o show ‘Viola enluarada’ (tamb�m nome do �lbum que Valle lan�ou em 1968). Tamb�m fizemos uma m�sica juntos, ‘R�quiem’, que chegamos a gravar. Depois, gravamos ‘Di�logo’ que saiu no disco ‘Mustang cor de sangue’ (1969). Ali�s, ‘Di�logo’ foi tamb�m outro show que fizemos juntos. Enfim, foram uns dois anos que permanecemos juntos e foi uma experi�ncia maravilhosa para mim. Depois disso, cada um seguiu o seu caminho, mas guardo com muito carinho essa �poca na qual trabalhamos juntos.” (Marcos Valle)
“Milton � a pedra mais preciosa das nossas Minas Gerais. Mesmo n�o tendo nascido aqui, creio que n�o exista ningu�m nesse mundo que diga o contr�rio. Sua m�sica nos atravessa em cheio, navegando por muitas gera��es. J� sorri e chorei ouvindo Milton, j� cantei sua obra em momentos emblem�ticos, como na minha formatura, em casamento de amigos, para ninar meu filho e j� cantei com o pr�prio. Sou grata por poder desfrutar de sua arte, t�o profunda e genu�na.” (Aline Calixto)
"Falar de Milton � evocar nossas ra�zes mais profundas. Creio que n�o passou pelas Gerais outra alma que compreendeu melhor nossas montanhas, vales, casarios e esta��es. Dif�cil ter que apontar uma, ou duas ou 10 obras que mais me marcaram. H� um Milton para cada fase de nossa vida, para cada mudan�a mais �ntima de nosso sentimento. Os �lbuns ‘Clube da Esquina 1’ e ‘2’ ainda s�o os mais marcantes, � impressionante como cada vez que os escuto algo chama a minha aten��o, um timbre, uma harmonia antes perdida aparece e muda toda uma mem�ria." (Rodrigo Toffolo)

“N�o vejo o Bituca h� 10 anos, mas convivi com ele muitos anos. Nunca quis ser cantora, mas dei sorte de encontrar pessoas t�o sensacionais que foi inevit�vel pegar a chance. Gravei umas coisas com Robertinho Brant e Fl�vio Henrique (1958-2018). Milton curtiu muito e me chamou para cantar com ele. Cantei no disco ‘Crooner’ (2005) e depois ele veio fazer turn� comigo. Bituca � essa alma generosa. Um dia apareceu na minha casa. Arrumei um hotel para ele ficar, mas disse: ‘Vim para ficar na sua casa’. Isso foi quando ele gravou no meu disco ‘Tempo quente’ (2008). Bituca � essa pessoa igual a n�s mesmos, um cara sensacional, formid�vel, uma companhia com que pude me deliciar, porque � um cara muito culto, que conta casos. Lembro-me das turn�s: �s vezes a gente ficava 40 dias viajando pela Europa, com todo mundo doido para chegar em casa e ele dizia: ‘P�, voc�s j� est�o cansados, quero continuar a turn�’.” (Marina Machado)
“Milt�o, muito gente boa. Quando a gente se encontra � uma alegria s� e o papo � muito bom. Sempre gostei de ouvir m�sica e m�sica boa, ent�o, Milton Nascimento est� inclu�do nisso. Grande compositor e grande cantor. Sempre fui f� dele.” (Zeca Pagodinho)