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Estado de Minas ARTES C�NICAS

Mariana Xavier traz a BH mon�logo sobre a noite dos desesperados

Em "Antes do ano que vem", atriz interpreta faxineira que se v� respons�vel por atender telefonemas de pessoas angustiadas com a pr�pria vida no r�veillon


19/11/2022 04:00 - atualizado 18/11/2022 23:32

A atriz Mariana Xavier com vários telefones ao ouvido ao mesmo tempo em cena de antes do ano que vem
Primeiro mon�logo da carreira de Mariana Xavier foi escrito por Gustavo Pinheiro, a partir de not�cia sobre �ndice de suic�dios na virada do ano (foto: Rodrigo Lopes/Divulga��o)

Com uma carreira art�stica iniciada aos 9 anos, no teatro, a atriz Mariana Xavier ganhou proje��o nacional com sua participa��o no filme “Minha m�e � uma pe�a” (2012), atuou em novelas da TV Globo, foi rep�rter do “V�deo show”, integrou o elenco de outros cinco longas-metragens e estrelou 17 montagens c�nicas, mas nunca tinha feito um mon�logo.

Essa lacuna foi preenchida em mar�o deste ano, quando ela estreou “Antes do ano que vem”, pe�a que chega a Belo Horizonte para duas apresenta��es neste s�bado (19/11) e domingo, no Cine Theatro Brasil Vallourec.

Com texto de Gustavo Pinheiro e dire��o de L�zaro Ramos e Ana Paula Bouzas, a montagem tem uma narrativa que exp�e necessidades, ang�stias e desejos de sete personagens – todas interpretadas por Mariana – que encaram a virada do ano com perspectivas bastante distintas. 

Quem catalisa a trama � a faxineira Dizuite, que trabalha na Central de Apoio aos Desesperados (que faz clara analogia com o Centro de Valoriza��o da Vida – CVV). Com a inesperada aus�ncia da psic�loga respons�vel pelo plant�o na noite de r�veillon, a funcion�ria se v� diante da miss�o de atender, aconselhar e confortar os mais diversos tipos de pessoas – todas aflitas, �s voltas com seus medos e anseios – que ligam em busca de aux�lio.

O olhar de Dizuite para os problemas alheios, com uma psicologia muito peculiar, baseada na sabedoria popular e nas dores e del�cias de seu pr�prio cotidiano, � que d� o tom da com�dia. Pela chave do humor e da leveza, a pe�a se prop�e, segundo Mariana, a discutir quest�es fundamentais para a sociedade contempor�nea, como solid�o, empatia, solidariedade e a nova ‘ditadura de felicidade’ imposta pelas intera��es virtuais.

Com�dia com reflex�o 

A atriz conta que, em 2017, movida pelo desejo de comemorar seus 40 anos de vida – que completou em 2020 – encenando o primeiro mon�logo de sua carreira, come�ou a conversar com o dramaturgo, roteirista e jornalista Gustavo Pinheiro. 

“Eu n�o tinha ideia do que poderia ser, apenas disse a ele que gostaria que fosse uma com�dia, mas que n�o fosse s� entretenimento, que levasse alguma mensagem, alguma reflex�o”, recorda.

Pinheiro foi passar a virada daquele ano na Fran�a, e l� leu uma not�cia sobre o maior n�mero de tentativas de suic�dio ocorrer precisamente na noite de r�veillon. Ele ficou intrigado com isso, investigou o tema e voltou para o Brasil com essa proposta de texto, inspirado em um dado real, segundo Mariana.

“� um espet�culo que tem como mote essas datas tidas como ‘de felicidade obrigat�ria’, que causam excita��o e insuflam esperan�a para muita gente, mas tamb�m trazem muita frustra��o e ang�stia, por tudo o que n�o se conseguiu realizar. � um momento que pode causar sentimentos muito opostos”, pontua.

"� um espet�culo que tem como mote essas datas tidas como 'de felicidade obrigat�ria', que causam excita��o e insuflam esperan�a para muita gente, mas tamb�m trazem muita frustra��o e ang�stia, por tudo o que n�o se conseguiu realizar. � um momento que pode causar sentimentos muito opostos"

Mariana Xavier, atriz


Transtorno de ansiedade 

Ela diz que, quando leu o texto pela primeira vez, em 2018, estava com um diagn�stico de transtorno de ansiedade, o que amplificou o impacto da trama apresentada por Pinheiro. “Eu estava vivendo um momento profissional excelente e, ainda assim, tinha essa ang�stia, ent�o j� me emocionei de cara diante do texto, porque fez muito sentido para mim. Pensei que era uma hist�ria que poderia se comunicar muito bem com as pessoas”, comenta.

Batido o martelo sobre o que seria sua estreia em um mon�logo, Mariana partiu em busca de um diretor. Ela conta que j� “namorava” L�zaro Ramos profissionalmente h� muitos anos e logo pensou nele para assumir a fun��o. A oportunidade de fazer o convite veio em um encontro casual na Pra�a de Alimenta��o do Projac – o complexo de est�dios da Rede Globo.

“Ele estava acompanhado de Bianca Lopes, que dirigia o programa dele, ‘Lazinho com voc�’, e que tamb�m tinha me dirigido no ‘V�deo Show’. Falei para o L�zaro que gostava muito dele, e ele disse que gostava muito de mim tamb�m. Bianca fez essa ponte e eu achei perfeito, porque precisava de algu�m com humor e sensibilidade, j� que esse tema da sa�de mental � muito delicado e eu queria tratar com responsabilidade”, diz.

Dire��o compartilhada 

A baiana Ana Paula Bouzas acabou embarcando no projeto por uma precau��o da atriz e pela proximidade e amizade com L�zaro. “Sei que ele � essa pessoa que pega 280 projetos para desenvolver ao mesmo tempo e n�o poderia estar t�o presente quanto eu gostaria, ent�o pensei que a gente precisaria de um segundo nome, que pudesse cobrir as lacunas”, diz Mariana.

Conterr�nea de L�zaro e com mais de 30 anos de atua��o como atriz, dan�arina, core�grafa, diretora c�nica e preparadora de elenco, Ana Paula foi convocada pelo ator e diretor. Ela j� havia trabalhado com ele anteriormente, sempre em processos “muito bacanas, muito harm�nicos”, e por isso n�o hesitou em aceitar o convite.

“A gente tem uma rela��o muito leve e muito amorosa. Tenho uma admira��o profunda por Lazinho, um respeito pela trajet�ria e pelo trabalho dele”, diz Ana Paula, justificando a fluidez do processo de dire��o compartilhada. Ela observa que L�zaro �, com efeito, uma figura muito demandada e que por isso eles trabalharam, em v�rios momentos, separadamente com Mariana.

"Um mon�logo n�o se faz s� com uma pessoa, tem uma equipe criativa enorme envolvida, uma turma que foi justamente a que mais ficou desassistida ao longo desses �ltimos anos. � importante a gente falar sobre isso, para esclarecer as pessoas que muitos empregos s�o gerados em qualquer produ��o art�stica"

Mariana Xavier, atriz


Afinidade art�stica 

“A gente veio dividindo esse lugar da dire��o com complementaridade e com um respeito m�tuo muito grande, porque temos, ambos, a quest�o da escuta e de pontos de vista que s�o parecidos, o que tem a ver com afinidade art�stica. A gente se entende muito mais do que entra em conflito”, afirma.

Mariana, por sua vez, diz que tamb�m sempre acompanhou de perto e com interesse o trabalho de Ana Paula e que ela se desdobrou num primeiro momento de ensaios. “Foi uma guerreira, porque estava morando em S�o Paulo e vinha para o Rio toda semana de �nibus, para ficar hospedada na minha casa, porque, no in�cio, n�o tinha patroc�nio, a gente estava tocando o barco por nossa conta, com nossos recursos”, recorda.

A atriz conta que a chegada da pandemia impactou “Antes do ano que vem” em v�rias inst�ncias. A previs�o de estreia da pe�a era para 10 de janeiro de 2020. Seis dias antes de seu debute no mon�logo, Mariana quebrou a perna. Ela diz, bem-humorada, que foi um aviso pr�vio da pandemia.

Queimar o cartucho 

“Foi como se o universo estivesse falando para eu n�o queimar o cartucho, segurar, porque ia dar ruim. Se eu come�asse em janeiro mesmo, teria que interromper logo em seguida, ia ficar aquela coisa no meio do caminho, em suspens�o por dois anos”, diz. Ela recorda que, durante a pandemia, com o espet�culo pronto para estrear, passou pelo que muitos artistas passaram, emocionalmente falando.

“A sensa��o de solid�o, o afastamento das pessoas, a falta de perspectiva de realizar os projetos. Fiquei muito desesperada mesmo, sem conseguir planejar nada, me sentindo � deriva.” Com o arrefecimento da pandemia, os trabalhos foram retomados, com a chegada de mais um refor�o: o diretor de encena��o e movimento, core�grafo e tamb�m ator M�rcio Vieira.

“Durante a pandemia, Ana Paula voltou a morar em Salvador, L�zaro saiu da Globo e assumiu uma s�rie de compromissos na Amazon, quer dizer, muita coisa mudou. Nenhum dos dois poderia estar comigo de uma forma mais pr�xima, da� entrou o M�rcio, para fazer a dire��o de movimento e estar junto nos ensaios, ser tamb�m uma esp�cie de bab� de atriz”, graceja.

"A conex�o com o p�blico acontece de uma maneira t�o bonita, t�o profunda, que j� na estreia eu n�o me sentia sozinha em cena. Eu me divirto muito e me emociono muito, durante e depois, com os coment�rios que chegam a mim, com o que escrevem a respeito"

Mariana Xavier, atriz


Trabalho em equipe 

Ela considera importante sublinhar o trabalho em equipe, sobretudo num momento de muitos ataques � cultura e muita desinforma��o sobre como funcionam as produ��es art�sticas. Mariana observa que os profissionais envolvidos com a parte t�cnica dos espet�culos foram os mais prejudicados com o isolamento imposto pela pandemia.

“Um mon�logo n�o se faz s� com uma pessoa, tem uma equipe criativa enorme envolvida, uma turma que foi justamente a que mais ficou desassistida ao longo desses �ltimos anos. � importante a gente falar sobre isso, para esclarecer as pessoas que muitos empregos s�o gerados em qualquer produ��o art�stica”, salienta.

A atriz diz que ficou apreensiva com seu primeiro mon�logo, agoniada, pensando se de fato gostaria de estar s� em cena, j� que, conforme ressalta, � afeita ao jogo e � troca no palco. “Embora tivesse uma equipe enorme nos bastidores, fiquei com muito medo, pensando ‘e se eu esquecer o texto’?. Numa pe�a em grupo ou em dupla, isso se resolve, tem o outro ator para socorrer num caso de lapso de mem�ria”, diz.

Conex�o com o p�blico 

A partir da estreia, no entanto, ela entendeu que estava ancorada em um porto seguro. “A conex�o com o p�blico acontece de uma maneira t�o bonita, t�o profunda, que j� na estreia eu n�o me sentia sozinha em cena. Eu me divirto muito e me emociono muito, durante e depois, com os coment�rios que chegam a mim, com o que escrevem a respeito”, destaca.

A personagem central da pe�a, Dizuite, lida com as ang�stias alheias no momento de mudan�a simb�lica que representa a passagem do ano. E a atriz Mariana Xavier, como encara essa data? Ela diz que adora, entende o r�veillon como um momento de renova��o de f�lego, de �nimos e de esperan�as em rela��o ao que est� por vir.

“Mas n�o sou uma pessoa de tra�ar metas, fazer planos a longo prazo. O que causa frustra��o nas pessoas � projetar lugares e realiza��es inalcan��veis, irreais. N�o sou totalmente alheia �s press�es sociais, ningu�m �, mas acho que me livrei da maioria delas. Viver sem essa expectativa de agradar ao outro torna tudo mais leve”, afirma.

“ANTES DO ANO QUE VEM”

Mon�logo com Mariana Xavier. Texto: Gustavo Pinheiro. Dire��o: Ana Paula Bouzas e L�zaro Ramos. Neste s�bado (19/11), �s 20h30, e domingo (20/11), �s 18h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315, Centro, 31.3201-5211). Ingressos para a plateia 1 a R$ 80 e R$ 40 (meia) e para plateia 2 a R$ 50 e R$ 25 (meia), � venda na bilheteria do teatro e no site Eventim


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