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Estado de Minas LUTO NA M�SICA

'Sou um eterno aprendiz', disse Erasmo Carlos ao Estado de Minas

Cantor e compositor morreu nesta ter�a (22/11), aos 81 anos; parceiro de Roberto, integrante da Jovem Guarda, ele foi um dos grandes nomes da m�sica brasileira


22/11/2022 13:16 - atualizado 22/11/2022 16:23

Erasmo Carlos com jaqueta marrom à frente de um amplificador
Dos �ltimos 10 shows de Erasmo Carlos, cinco foram em Minas Gerais (foto: Guto Costa/Divulga��o)

Era �ntima a rela��o entre Minas Gerais e Erasmo Carlos. Dos �ltimos 10 shows do Tremend�o, cinco foram em terras mineiras. Ele morreu nesta ter�a-feira (22/11), pouco mais de 24 horas depois de ser internado �s pressas no Hospital Barra D’or, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Em outubro, ele havia sido internado no mesmo hospital para tratar de uma s�ndrome edemig�nica. 

 

Caet� foi a �ltima cidade do estado onde o Tremend�o se apresentou, em 23 de setembro passado. “Ele � o Bom! Ele � o Bom! Mais uma noite especial neste �ltimo final de semana, agora em Caet�- MG, onde todos cantaram conosco e eu me senti o BOM! Obrigado pela chuva de carinho que recebemos da galera”, postou Erasmo em suas redes sociais junto de um v�deo do momento em que cantava “O bom”, de Eduardo Ara�jo.

 

Sempre que vinha se apresentar na cidade ou lan�ava um disco, Erasmo batia um papo descontra�do com o Estado de Minas e comentava os mais diferentes assuntos.

 

Em entrevista concedida em 2013, ele se definiu como “um eterno aprendiz”. � �poca, em turn� com o show Sexo & Rock’ n’ Roll, afirmou: “Sou amante das novidades, sou um eterno aprendiz, um cara antenado”.

�mpeto de compor 

Erasmo n�o se considerava cantor, e sim compositor, conforme afirmou em outra entrevista, dessa vez, em 2015. “Sou compositor, n�o sou cantor. Canto por consequ�ncia, e gosto mais da minha voz hoje. Pode n�o ter a mesma pot�ncia, mas tem mais sentimento. Tenho �mpeto de compor, assim como um m�dico tem que trabalhar. E tudo � lucro: uma frase de um amigo, alguma coisa que leio no jornal, um livro, o que acontece na minha vida. Tudo � inspira��o, e estou sempre procurando novas formas. � dif�cil falar do amor de maneira diferente, por vezes voc� acaba se repetindo. Tudo � um risco”, disse.

 

Existia no Tremend�o, no entanto, a necessidade de parceria para compor. “Sou um compositor. Se n�o for com o Roberto, vai ser outro. Arnaldo (Antunes), Marisa (Monte), Nando (Reis), Nelson Motta... Se for com o Roberto, �timo, temos uma vida quase inteira juntos. O que n�o posso � ficar sem (parceiro)”.

 

Erasmo Carlos com roupa preta e Roberto Carlos com roupa branca se apresentando juntos no palco
Roberto Carlos foi o maior parceiro de Erasmo Carlos em composi��es (foto: Jo�o Cotta/Tv Globo)
 

 

A perda do filho (morto em acidente de moto em 2014) foi um fato que muito abalou o artista. Na mesma entrevista de 2015, ele disse: “Foi um baque na minha vida. � uma tristeza com a qual estou aprendendo a conviver. N�o, estou aprendendo a viver sem a alegria dele. Tenho outros filhos, netos... Ent�o, a vida continua com a gente. Tenho que seguir com ela”.

 

O que Tremend�o disse em 2013 sobre ser amante das novidades foi confirmado tr�s anos depois, em entrevista � rep�rter do EM Cultura Mariana Peixoto. Na ocasi�o, Erasmo chegava a Belo Horizonte para fazer participa��o no show da cantora Tulipa Ruiz. “J� fiz show com o Jeneci e a C�u, agora chegou a vez da Tulipa”, comentou. “Conhe�o a nova MPB que ela faz, acho o LP Ef�mera (seu �lbum de estreia, de 2010) muito bom. Acho que essa hist�ria come�ou com o Los Hermanos”, emendou. 

 

Retomando ao que disse em 2015 sobre ser compositor, Erasmo destacou que sentia uma afinidade com Tulipa Ruiz pelo lado compositora dela. “� o que me fascina, pois a pessoa canta sua realidade. Minha aten��o sempre foi mais dirigida aos compositores do que aos int�rpretes, pois esses s� repetem o que algu�m j� fez. E um compositor, principalmente quando jovem, pode fazer sua revolu��o”, afirmou.

Amor como conceito 

Em 2017, Erasmo deixou para tr�s sua fama de mau ao lan�ar o �lbum "Amor � isso". Em entrevista ao Estado de Minas para divulgar o disco, ele explicou que o amor � algo que o fascinava.

 

“O amor como conceito, que engloba todos os amores poss�veis e imagin�veis. Uma coisa que me fascina � que o amor n�o � uma coisa que voc� possa explicar com palavras, mas voc� pode explicar com gestos. Ent�o, o que me levou a fazer e afirmar que “o amor � isso” foi um v�deo que eu vi no YouTube de duas crian�as, em que uma delas serve de ponte para a amiguinha passar por ele. Quando ela atravessa a ponte, que � o corpo do amigo, ela estende a m�o para ele e seguem os dois caminhando. Isso me comoveu muito e falei: “Poxa, o amor � isso”. O amor pode ser mostrado e definido por gestos. Uma cadela dando de mamar a uma ninhada de gatos. Amor � isso, independente da natureza. Ent�o essas coisas me fascinam”, disse.

 

“O amor � sempre uma necessidade, porque o amor pra mim � a salva��o de tudo. Todas as respostas est�o no amor. E � uma coisa que a vida vai te fazendo, �s vezes, esquecer disso. Ent�o, � sempre importante voc� lembrar, exercitar, falar, exercer (o amor). Sem demagogia. O amor � verdadeiro”, continuou.

 

O gosto por trabalhar com gente diferente e mais jovem tamb�m ficou ainda evidente no neste �lbum, que contou com parceiros como Samuel Rosa, Marcelo Camelo, Marisa Monte, Adriana Calcanhotto e Emicida. 

 

No entanto, ao ser perguntado sobre o que gosta de ouvir, Erasmo revelou: “At� por informa��o, ou�o de tudo na internet, na televis�o e tamb�m no r�dio. Mas a�, na hora que quero ouvir mesmo m�sica, eu ou�o bossa nova e rocks antigos”.

O futuro pertence �... Jovem Guarda

Em maio deste ano, Erasmo voltou a conversar com o Estado de Minas. Dessa vez, ele desembarcava em Belo Horizonte para apresentar show da turn� “O futuro pertence �... Jovem Guarda”, derivado do disco hom�nimo lan�ado em fevereiro do mesmo ano. Ele voltou � capital mineira para outra apresenta��o do show, dessa vez em pra�a p�blica, no m�s de julho. 

 

“N�s n�o estamos cuidando das novas gera��es. N�o estamos garantindo sa�de e educa��o � altura do que elas merecem para fazer do mundo um lugar melhor. O mundo anda completamente desajustado e a culpa � nossa, pelas m�s escolhas na hora de votar e por deixar o �dio atingir o patamar que est� atingindo”, destacou. 

 

Ele ainda criticou a falta de empatia das pessoas, sobretudo no contexto de pandemia: “N�o consigo admitir que, em uma �poca de pandemia, uma na��o tenha de vender vacina para a outra. Era a hora de estarmos todos unidos, em prol do bem comum que poderia ter evitado tantas mortes”. Essa indigna��o a respeito da pandemia se acentuou depois que o cantor foi infectado pelo novo coronav�rus e precisou ser hospitalizado, em agosto de 2021.

 

“Pensei que jamais conseguiria voltar. Fiquei muito mal. Pensava que nunca mais pisaria no palco de novo. Pensava que o artista tinha acabado ali”, revelou, acrescentando que foi necess�rio acompanhamento com fonoaudi�logo para conseguir retomar a rotina de shows.

 

Quando o assunto era pol�tica, Tremend�o preferia manter a discri��o. “Em quem vou votar eu n�o vou dizer. S� pe�o que as pessoas votem direito para n�o se arrependerem depois", afirmou ainda em maio de 2022. No entanto, n�o condenou os artistas que se manifestam politicamente nos palcos. “Cada um faz a manifesta��o que quiser. O meu show � m�sica. Vou l� para cantar, ser aplaudido e ser festejado pelas pessoas que gostam de mim. � uma celebra��o do amor. N�o incentivo, mas quem quiser fazer, que fa�a”.

 

A aposentadoria nunca esteve nos planos de Erasmo. Ao comentar sobre a decis�o de Milton Nascimento sobre o fim dos shows, Tremend�o ressaltou: “Ningu�m � de ferro. Vai ter um dia que vou parar tamb�m. Mas se n�o tiver nenhuma sequela na mente, nos bra�os e nos dedos, continuarei compondo”.

 

 

As lembran�as que Erasmo tem de Belo Horizonte n�o se limitavam �s v�rias apresenta��es que fez na cidade. Houve situa��es excepcionais que ele viveu, como a vez que saiu pela cozinha do hotel para se jogar na balada da capital mineira.

Ao colunista Helv�cio Carlos, em maio de 2022, ele contou que veio � Belo Horizonte com a Jovem Guarda para uma apresenta��o ao vivo na TV Itacolomi. Foi do aeroporto ao hotel em carro do Corpo de Bombeiros, desfilando pelas ruas da cidade, com o p�blico acenando ao longo do percurso. “Foi uma loucura a multid�o na porta do hotel. Eu queria sair com a irm� do Eduardo Ara�jo”, relembrou, dizendo que se desvencilhou dos f�s saindo pela cozinha do hotel.

 

“O pessoal da gincana descobriu onde eu estava. Todos chegaram em carros com farol alto em dire��o ao bar. A pol�cia chegou, foi um au�, aquele vai n�o vai, vai n�o vai, e policiais retiraram as pessoas, me deixando na balada. Foi uma noite turbulenta e engra�ada, mas aquele dia foi tenso, um acontecimento monstruoso”, ressaltou. 


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