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Estado de Minas LUTO NA M�SICA

Com rock em portugu�s e samba soul, Erasmo deixa legado de pioneirismo

Cantor e compositor, que morreu nesta ter�a-feira (22/11), transitou por diferentes g�neros, ditou moda e influenciou comportamentos ao longo dos anos


22/11/2022 17:09 - atualizado 22/11/2022 19:45

Erasmo Carlos posa com a mão no queixo vestindo um casaco de couro por sobre uma blusa azul
Erasmo Carlos, que morreu nesta ter�a-feira (22/11), deixou um importante legado de pioneirismo na hist�ria da MPB (foto: Guto Costa / Divulga��o)

O legado que Erasmo Carlos deixa para a hist�ria da m�sica popular brasileira vai muito al�m do rock - g�nero ao qual ele desde sempre foi associado e tido como um dos principais representantes no pa�s. A conquista do Grammy Latino 2022 na categoria melhor �lbum de rock ou de m�sica alternativa em l�ngua portuguesa no �ltimo dia 17, h� pouco menos de uma semana antes de sua s�bita morte nesta ter�a-feira (22/11), aos 81 anos, ratificou esse lugar.

Em v�rios campos da m�sica e do comportamento, o Tremend�o, como era carinhosamente chamado pelos f�s, foi um pioneiro. Ele tinha plena consci�ncia disso. No document�rio "Erasmo 80", lan�ado pelo Globoplay no ano passado, o cantor e compositor fala do rock cantado (e composto) em portugu�s, do visual com chap�u de cowboy, colete e pulseira, e de como se manteve, ao longo de d�cadas, como uma poderosa influ�ncia comportamental.

Erasmo tamb�m esteve entre os primeiros artistas a investir no que ficou, posteriormente, conhecido como samba-rock. Em 2019, ele lan�ou o EP, intitulado "Quem foi que disse que eu n�o fa�o samba?", em que revisita essa corrente de sua produ��o. Foi um artista que tamb�m esteve, juntamente com seu eterno parceiro Roberto Carlos, entre os nomes da primeira leva a introduzir a soul music no Brasil, entre os anos 60 e 70.

Anos de forma��o

Nascido e criado na Tijuca, zona Norte do Rio de Janeiro, o garoto Erasmo Esteves cresceu em meio aos elementos que conformariam sua identidade musical. No Bar Divino, que frequentava juntamente com nomes como Jorge Bem e Tim Maia - com quem aprendeu a tocar viol�o -, ouvia bossa nova e rock'n'roll. Logo depois, em um show de Bill Haley no gin�sio do Maracan�zinho, conheceu o capixaba aspirante a cantor Roberto Carlos.

Mais tarde, integrou o grupo Sputniks, cuja forma��o contava, tamb�m, com Tim e Roberto. A banda foi desfeita ap�s uma lend�ria briga entre os dois. Tim viajou para os Estados Unidos ao mesmo tempo em que Erasmo e Roberto se aproximavam - tinham em comum a paix�o por Elvis Presley e o fato de torcerem pelo Vasco da Gama.

Os primeiros registros fonogr�ficos de Erasmo datam de 1960 e 1961, quando lan�ou um compacto duplo e, em seguida, o LP "S� twist", com os Snakes - a banda que havia montado depois do fim dos Sputniks. Sem alcan�ar o sucesso esperado, o grupo tamb�m chegou ao fim.

In�cio da trajet�ria

Erasmo foi, ent�o, trabalhar como assistente do apresentador e produtor Carlos Imperial, por interm�dio de quem viria a tornar-se crooner do grupo Renato & Seus Blue Caps, em 1962. Com Erasmo dividindo os vocais com o baixista Paulo C�sar, Renato & Seus Blue Caps lan�aram seu primeiro LP pela gravadora Copacabana.

N�o muito depois, os Blue Caps acompanhariam o pr�prio Roberto Carlos na grava��o de "Splish splash", numa vers�o para o portugu�s feita por Erasmo. O sucesso do disco garantiu n�o s� a contrata��o de Renato & Seus Blue Caps pela gravadora CBS, como tamb�m o nascimento da parceria com Roberto.
Erasmo Carlos usa chapéu e bracelete em foto P&B
Na moda e no comportamento, a Jovem Guarda influenciou o Brasil (foto: Arquivo EM)

J� tendo adotado o nome art�stico Erasmo Carlos, ele se tornou autor de vers�es de m�sicas estrangeiras - norte-americanas e italianas, sobretudo - para diversos artistas. Isso, somado ao sucesso de suas parcerias com Roberto, o levou no final de 1964 at� a gravadora RGE (mais direcionada � MPB e ao samba), para ser o nome do selo no j� disputado mercado do i�-i�-i�.

Jovem guarda


O pop-rock brasileiro, que come�ara com o rock nos anos 50 e havia passado pelo twist do in�cio dos anos 60, chegava ao i�-i�-i� em 1964 como um reflexo comportamental local � beatlemania. A Jovem Guarda agrupou as influ�ncias do pop brit�nico e ganhou popularidade definitiva a partir de setembro de 1965, quando a TV Record estreou o programa "Jovem guarda", apresentado por Roberto, Erasmo e Wanderl�a.

A biografia de Erasmo Carlos registra 60 anos de trajet�ria na m�sica, mais de 30 �lbuns, que totalizam um n�mero superior a 500 composi��es, com direito a sucessos que atravessam gera��es, como "Al�m do horizonte", "� preciso saber viver", "Sentado � beira do caminho", "Minha fama de mau" e "O bom", entre outras.

Admira��o dos pares

A grandeza do artista pode ser medida pela admira��o que os pares nutriam por ele. Em 1982, por exemplo, foi homenageado com o programa "Erasmo convida", na TV Globo, que contou com as participa��es de Caetano Veloso, Gal Costa, Jorge Ben Jor, Maria Beth�nia, Nara Le�o e Roberto Carlos, entre outros nomes do primeiro escal�o da MPB.

O respeito e admira��o se estendiam tamb�m �s gera��es mais novas. Ele j� dividiu palco com nomes como Marcelo Jeneci, C�u e Tulipa Ruiz. Em seu disco "Amor � isso", de 2017, contou com parceiros como Samuel Rosa, Marcelo Camelo, Marisa Monte, Adriana Calcanhoto e Emicida.

Plena atividade

A morte de Erasmo pegou os f�s de surpresa, j� que ele estava em plena atividade. O disco que lhe rendeu o Grammy Latino 2022, "O futuro pertence �... Jovem guarda" foi lan�ado em fevereiro deste ano, o que desencadeou uma s�rie de shows em todo o pa�s, com datas marcadas tamb�m no exterior.

Somente em Belo Horizonte, ele se apresentou em duas ocasi�es ao longo dos �ltimos seis meses. O show mais recente na capital foi no dia 16 de julho, ao ar livre, na pra�a da Assembleia, pelo Festival Meu Vizinho Pardini. Na ocasi�o, brindou o p�blico com sucessos das d�cadas de 1950 a 1970 - boa parte deles registrados no �lbum mais recente, em que revisita os prim�rdios do rock no Brasil.

Rela��o com BH

Menos de dois meses antes, no dia 29 de maio, ele subiu ao palco do Grande Teatro do Pal�cio das Artes para a apresenta��o que promovia o lan�amento oficial na cidade de "O futuro pertence �... Jovem guarda". Na ocasi�o, em entrevista ao "Estado de Minas", ele falou de sua rela��o com aquele espa�o e com a capital maneira, que sempre esteve presente de maneira marcante em seus roteiros.

"Minas, em geral, gosta muito de mim, ent�o tenho certeza de que vai ser uma noite muito bonita. � sempre maravilhoso me apresentar no Pal�cio das Artes. Antes, eu me tremia todo por conta da responsabilidade, achava uma coisa muito grande para mim. Mas depois que me apresentei l� pela primeira e algumas outras vezes, me acostumei. Tenho o maior respeito pela casa", disse.

Dos �ltimos dez shows do Tremend�o, cinco foram em Minas Gerais. Caet� foi a �ltima cidade do estado onde se apresentou, em 23 de setembro passado. Quando fez show no Pal�cio das Artes pela �ltima vez, ele tamb�m falou ao "Estado de Minas" sobre a situa��o pol�tica e social do pa�s. Disse que a juventude no Brasil estava � merc� de escolhas erradas feitas no passado.

Novas gera��es

"N�s n�o estamos cuidando das novas gera��es. N�o estamos garantindo sa�de e educa��o � altura do que elas merecem para fazer do mundo um lugar melhor. O mundo anda completamente desajustado e a culpa � nossa, pelas m�s escolhas na hora de votar e por deixar o �dio atingir o patamar que est� atingindo", apontou.

A �ltima publica��o de Erasmo Carlos no Instagram foi h� quatro dias. Ele celebrou a conquista do Grammy Latino. "� t�o importante entender o conceito, quanto ouvir a m�sica... Existem v�rias formas de amor, e eu preciso de todas. Obrigado a todos que contribu�ram para mais essa vit�ria, esse Grammy � o reconhecimento do nosso trabalho. O futuro pertence � jovem guarda", escreveu.

Erasmo concorreu na categoria com Baco Exu Do Blues ("Qvvjfa?"), Criolo ("Sobre viver"), Lagum ("Mem�rias) e Ju�ara Mar�al ("Delta Est�cio blues"). Esse n�o foi o primeiro Grammy Latino do cantor. Em 2014, levou o pr�mio na categoria Melhor �lbum de Rock Brasileiro com o disco "Gigante gentil", e em 2018, foi um dos laureados no 19º Grammy Latino com o Pr�mio � Excel�ncia Musical.

S�ndrome

Erasmo vinha tratando, h� alguns meses, de uma s�ndrome edemig�nica, que ocorre quando h� um desequil�brio bioqu�mico, dificultando a manuten��o dos l�quidos dentro dos vasos sangu�neos. Geralmente, essa enfermidade � causada por doen�as card�acas, renais ou dos pr�prios vasos.

Em outubro, ele foi internado no hospital Barra D'Or, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio de Janeiro, com um quadro de sa�de delicado, e precisou cancelar duas apresenta��es marcadas nas cidades de Miami e Orlando, nos EUA. No in�cio deste m�s, no dia 2, no entanto, recebeu alta e deixou o hospital.

"Ressuscitei no Dia de Finados e tive alta do hospital! Obrigado a Deus, a todos que cuidaram de mim, rezaram por mim e se torceram pela minha recupera��o... Essa foto com a Fernanda traduz como estamos felizes", postou o cantor na ocasi�o, posando ao lado da esposa, a pedagoga Fernanda Passos.

Imprensa internacional

A morte de Erasmo Carlos tornou-se not�cia tamb�m na imprensa internacional. Ve�culos da Argentina, Uruguai e Portugal destacaram a carreira do Tremend�o e valorizaram a import�ncia do cantor para a m�sica brasileira. Nos textos, al�m de falarem da Jovem Guarda e da parceria com Roberto Carlos, aparecem elogios como "�cone" e "lenda do rock".


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