
"Inclu� falas sobre as ditaduras latino-americanas, ilustrando com o fato de nenhum torturador ter sido julgado no Brasil, o que turva nossa mem�ria ao ponto de um parlamentar prestar homenagem ao coronel Brilhante Ustra e ainda ser eleito presidente da Rep�blica"
Nena Inoue, atriz
A partir da leitura “com o l�pis na m�o” do livro “Mulheres” (1977), de Eduardo Galeano, nasceu o espet�culo “Para n�o morrer”, que estreou em 2017, em Curitiba. Protagonizada pela atriz curitibana Nena Inoue e gestada em Belo Horizonte, s� agora a pe�a tem sua primeira apresenta��o na capital, como atra��o da Mostra de Mon�logos do Galp�o Cine Horto.
Vencedora do Pr�mio Shell de Melhor atriz com o mon�logo que ocupa o palco do Teatro Wanda Fernandes, nesta quinta-feira (24/11), �s 20h, Nena diz que a dire��o, assinada por Babaya, explica a conex�o da montagem com Belo Horizonte.
“Queria muito fazer em BH, mas nunca dava certo, tinha problemas com datas, veio depois a pandemia. J� tinha at� desistido”, diz. A partir do encontro com a atriz mineira Kelly Crifer, no Rio de Janeiro, surgiu a possibilidade de participar, como espet�culo convidado, da Mostra de Mon�logos, evento voltado para os alunos do Galp�o Cine Horto.
Biografias resgatadas
Nena afirma que no livro “Mulheres”, Eduardo Galeano (1940-2015) recuperou a biografia de personagens hist�ricas cuja import�ncia foi reduzida, deturpada ou ignorada pelos donos do poder. Trazendo � mem�ria feitos contra a opress�o, a atriz d� vida � narradora limitada fisicamente, mas que insiste em falar e conecta viv�ncias e aprendizados, evocando muitas presen�as.
“S�o hist�rias ver�dicas de mulheres de v�rios lugares do mundo, de �pocas distintas, que tiveram resson�ncia forte em mim. Fui contaminada por essas hist�rias e quis transmitir isso para as pessoas. Chamei o Francisco Mallmann, um jovem dramaturgo, para fazer a adapta��o, falei com Babaya, minha parceira h� muitos anos, e vim ensaiar em Belo Horizonte”, conta a atriz.
“Para n�o morrer” transcende a pauta do feminismo, afirma Nena. De acordo com ela, trata-se de espet�culo para todos os p�blicos, que pode ressoar para al�m da cena teatral. Passados cinco anos da estreia, o mon�logo se adensou, segundo a atriz. Exemplo disso � a inclus�o no texto do caso Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em 2018.
“Tamb�m inclu� falas sobre as ditaduras latino-americanas, ilustrando com o fato de nenhum torturador ter sido julgado no Brasil, o que turva nossa mem�ria ao ponto de um parlamentar prestar homenagem ao coronel Brilhante Ustra e ainda ser eleito presidente da Rep�blica”, diz, referindo-se ao militar que comandou sess�es de tortura, inclusive da ex-presidente Dilma Rousseff, no governo militar.
“Tamb�m falo do isolamento, porque passei por ele, fomos atravessados pela reclus�o. Mas � bom ressaltar: nada disso � colocado de forma did�tica.”
Paralelamente ao vi�s hist�rico, “Para n�o morrer” dialoga com o mundo de agora. “A pe�a est� aberta �s coisas que est�o acontecendo. A hist�ria da coragem e do apagamento de mulheres fortes, a figura do opressor, do oprimido e daquele que contesta, isso vem desde sempre. Tratamos de quest�es hist�ricas, das mulheres pretas, de escravid�o, de guerrilheiras, de mulheres assassinadas”, destaca.
"A hist�ria da coragem e do apagamento de mulheres fortes, a figura do opressor, do oprimido e daquele que contesta, isso vem desde sempre"
Nena Inoue, atriz
Semin�rio de geografia
O desejo de que “Para n�o morrer” reverberasse al�m do palco se concretizou, segundo a atriz. Ela conta que apresentou o mon�logo em semin�rio de geografia em Curitiba, cuja programa��o trazia apresenta��es de grupos de alunas em trabalhos relativos � viol�ncia imposta � mulher.
“Um grupo de meninas assistiu ao espet�culo. Naqueles trabalhos, v�rias deram depoimentos sobre quando foram abusadas ou sofreram viol�ncia dom�stica. N�s, mulheres, sabemos que lugar � este de que a pe�a fala”, diz.
O p�blico masculino tamb�m � impactado, revela Nena Inoue. “Durante a temporada em S�o Paulo, o comum era virem mais homens que mulheres conversar comigo ao final da apresenta��o. Agradecidos, porque muitas pessoas simplesmente n�o t�m no��o de que est�o sendo machistas ou racistas”, afirma.
“PARA N�O MORRER”
Mon�logo com Nena Inoue. Nesta quinta-feira (24/11), �s 20h, no Teatro Wanda Fernandes do Galp�o Cine Horto (Rua Pitangui, 3.613, Horto). Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia), � venda na plataforma Sympla. Informa��es: (31) 3481-5580.