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Estado de Minas CINEMA

'Glass Onion' ironiza rica�os e os gurus da tecnologia, como Elon Musk

Continua��o de 'Entre facas e segredos', estrelada por Daniel Craig, refor�a a onda da s�tira �s elites, liderada pela s�rie "The White Lotus"


27/12/2022 04:00 - atualizado 26/12/2022 22:42

Daniel Craig usa terno claro e tem ao fundo quadro caro, em cena do filme Glass Onion
O detetive Benoit Blanc (Daniel Craig) investiga assassinato de bilion�rio em ilha paradis�aca (foto: John Williams/Netflix)

 
Tr�s anos separam “Entre facas e segredos” da continua��o “Glass Onion: Um mist�rio knives out”, mas a dist�ncia entre as produ��es � maior que a sugerida pelo tempo.
 
Envolta em burburinho – a Netflix desembolsou cerca de US$ 500 milh�es para adquirir os direitos da franquia –, como a cebola de vidro do t�tulo, as camadas n�o ocultam o que est� no centro. A produ��o, de novo dirigida e escrita por Rian Johnson, reconhece o intervalo de anos.
 
� de uma sagacidade interessante, parecida com a que definiu o sucesso do original, que subvertia o g�nero do “whodunit” (trama iniciada por um crime, com a convoca��o de detetive para solucionar o caso) com precis�o similar � s�tira esperta da elite.

Isso porque, al�m de situar novos personagens, o extenso pr�logo de “Glass Onion” insere elementos que seriam estranhos no long�nquo ano de 2019. A pandemia � o gatilho, de piadas b�sicas com m�scaras faciais � montagem de uma liga��o em grupo com cen�rios t�picos do per�odo, como o home office com a fam�lia, a festa em casa da socialite ou o cientista fazendo pesquisa sozinho.
 
Nesse meio tempo, o l�dico se restabelece como elemento literal do tabuleiro. Sabemos logo que os personagens s�o grandes amigos de um bilion�rio exc�ntrico, vivido por Edward Norton, que os convida para sua ilha particular por meio de uma caixa cheia de enigmas.
 
No convite est� uma das duas provoca��es que disparam a trama. O encontro serve para descobrir quem � o assassino do anfitri�o. A outra provoca��o � que o convite de alguma forma chega ao detetive Benoit Blanc, papel de Daniel Craig, protagonista que nem sequer conhece o rica�o.
 
Essa premissa n�o d� conta de 10% do que acontece a seguir. De “Entre facas e segredos”, “Glass Onion” mant�m intacta a ades�o religiosa �s hist�rias de Agatha Christie, partindo do roteiro calcado em reviravoltas complexas que desestabilizam o p�blico.
 
Atores Edward Norton e Dave Bautista estão de perfil e se olham em meio a conversa tensa no filme Glass Onion
Personagens de Edward Norton e Dave Bautista remetem aos empres�rios Elon Musk, Steve Jobs e Alex Jones (foto: John Williams/Netflix)
 

Coadjuvantes de luxo

O desafio de ser continua��o que almeja repetir efeitos explosivos, por�m, leva Johnson a apostar na expansividade comum a franquias. � algo marcado nas loca��es exuberantes e nas pontas de luxo de celebridades, inclusive de Stephen Sondheim e Angela Lansbury, que gravaram pouco antes de morrer. Mas � na hist�ria que se nota o esfor�o de chegar ao mesmo lugar.
 
Invers�es de perspectiva s�o mais dr�sticas, idas e vindas no tempo acontecem com frequ�ncia e at� arqu�tipos do original se multiplicam no elenco enxuto para criar distra��es – Janelle Mon�e, Jessica Henwick e Madelyn Cline fazem a posi��o de Ana de Armas, oprimidas a seu jeito no sistema de classes.

As voltas longas, no entanto, n�o exaurem tanto quanto ver a que o aparato serve. Com tanto malabar girando, passa batido que o grande truque seja a sensa��o inicial de que “Glass Onion” tenha por foco a pandemia. Na verdade, se ensaia uma nova cr�tica contra o mais ricos.
 
E, de novo, o tempo se manifesta a�. Se em 2019 a s�tira era voltada �s velhas elites, que apoiavam Donald Trump por afinidade ou cinismo, o espelho da vez se volta aos gurus da tecnologia, encabe�ados agora por Elon Musk.
 
A piada agrada, mas � limitada mesmo nos bons momentos do elenco – Norton se diverte no camaleonismo de milion�rios c�lebres, pagando at� de Steve Jobs, e Dave Bautista est� confort�vel como avatar de Alex Jones, do Infowars.
 
 
 
Por mais esperto que seja o redirecionamento do humor � sanha quase sexual de vender ideias vazias – coroado por um mon�logo afiado e mastigado com felicidade por Craig –, o olhar do assunto � apenas conveniente.
 
A quest�o � que “Glass Onion” soa diminu�do no cen�rio em que a s�tira da elite se converteu em onda, vide o sucesso de “The white lotus” na TV ou de “Tri�ngulo da tristeza”, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Menos pelas circunst�ncias que pelo m�rito do discurso, vale dizer, dado que ele acaba vazio e repetitivo fora da percep��o das injusti�as correntes.

Ao mesmo tempo, a dedica��o de Johnson nos pormenores do “whodunit” � o ar de gra�a que mant�m o filme agrad�vel. Com tanto excesso, o desejo puro pela surpresa do espectador � mantido.
 
Nessas condi��es, faz sentido que o cl�max de “Glass Onion” desperte sensa��es contradit�rias. De um lado, falta significado na resolu��o superficial da trama; do outro, � ineg�vel o prazer de se ver o quebra-quebra como sa�da �nica a um jogo de tabuleiro viciado, sobretudo quando legitimado pelas pr�prias engrenagens da narrativa.

“GLASS ONION: UM MIST�RIO KNIVES OUT”

EUA, 2022. Filme dirigido por Rian Johnson. Com Daniel Craig, Edward Norton, Janelle Monae, Kate Hudson, Leslie Odom Jr., Dave Bautista, Kathryn Hahn, Madelyn Cline e Jessica Henwick. Dispon�vel na Netflix 


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