Personagem de Faça a coisa certa exibe anéis que formam as palavras love e hate

Cl�ssico de Spike Lee, "Fa�a a coisa certa" (1989) abre a programa��o no MIS Santa Tereza, em sess�o �s 19h de hoje; programa��o do ciclo vai at� o dia 29

40 Acres/Divulga��o

H� alguns anos, o produtor e curador do MIS Cine Santa Tereza, C�sar Gilcevi, queria preparar uma mostra que ilustrasse a influ�ncia da cultura hip hop no cinema. Diferentes raz�es o impediram de realiz�-la. Entretanto, no in�cio de 2020, convidou os rappers Mat�ria Prima e DJ Enec� para selecionar os t�tulos e, finalmente, colocar em pr�tica a ideia que tinha.

Quando j� estava tudo pronto e a mostra prestes a estrear, o novo coronav�rus chegou ao Brasil impondo medidas restritivas e mudando os planos de Gilcevi. “O lockdown foi decretado exatamente no m�s em que a gente faria a mostra”, lembra o curador.

Sendo assim, n�o havia mais nada a fazer, sen�o suspender a programa��o e aguardar o arrefecimento da pandemia. 

Depois de quase tr�s anos de espera, “Fic��es Urbanas: hip hop no cinema” estreia no MIS Cine Santa Tereza nesta ter�a-feira (3/12), com a exibi��o gratuita de 18 filmes que n�o apenas trazem a est�tica do hip hop, como fazem um panorama geral da hist�ria do movimento. 

Est�o na programa��o t�tulos de diretores como Spike Lee, Dennis Hopper (1936-2010), F. Gary Gray e da brasileira Tata Amaral, entre outros. 

“S�o filmes desde o hip hop, no gueto, sofrendo preconceito e persegui��o da pol�cia; at� os filmes produzidos pelo 50 Cent, que j� mostram essa ascens�o e a tomada da ind�stria pela est�tica do hip hop”, afirma Gilcevi.

"A gente tentou dosar os estilos (na programa��o) para n�o ficar somente na est�tica dos conflitos da favela e da periferia. Tivemos a preocupa��o de mostrar que a hist�ria desses lugares n�o � s� de conflitos. L� tem com�dia, m�sica e poesia"

C�sar Gilcevi, produtor e curador do MIS Cine Santa Tereza


Cl�ssico

A abertura da mostra ser� com “Fa�a a coisa certa” (1989), de Spike Lee. Cl�ssico do diretor de t�tulos como “O plano perfeito” e “Infiltrado na Klan”, o longa acompanha a escalada de tens�o social e racial no dia mais quente do ano em uma rua do Brooklyn.

Tudo come�a quando Buggin Out (interpretado por Giancarlo Esposito), morador do Brooklyn e frequentador da pizzaria de Sal (Danny Aiello) nota que a “parede da fama” do estabelecimento s� tinha fotos de atores brancos.

“Ei, Sal! Por que n�o tem foto de preto na parede da sua pizzaria?” O questionamento � o estopim para o in�cio do conflito, que se estende a ponto de tomar enormes propor��es. Contudo, antes de Buggin Out lan�ar sua pergunta, Lee j� deixa claro que a enorme variedade de povos e culturas no Brooklyn � uma panela de press�o prestes a explodir. No local, vivem juntos negros, hisp�nicos, coreanos, italianos, entre outros imigrantes.

Mesmo n�o tendo a cultura hip hop como argumento, “Fa�a a coisa certa” faz uso dela como pano de fundo para as discuss�es raciais levantadas por Spike Lee. Ela est� presente no figurino dos personagens, nas g�rias e no pr�prio cen�rio. O hip hop, ali�s, surgiu no Bronx, regi�o vizinha do Brooklyn e, entre as d�cadas de 1980 e 1990, foi assimilado pelas popula��es perif�ricas norte-americanas.

Outro filme que faz uso da est�tica do hip hop para levantar quest�es raciais � “Warriors - Os selvagens da noite" (1979), de Walter Hill. Ele aborda a ca�ada, tanto pela pol�cia quanto pelas gangues rivais de Nova York, dos membros do grupo “Warriors”, injustamente acusados de matar o l�der de um dos mais importantes grupos de rua da cidade.

Hist�ria

“Tentamos fazer uma abordagem hist�rica. Fizemos uma pesquisa grande e localizamos o 'Warriors', que, embora seja um subg�nero dentro do cinema, � um cl�ssico absolutos dos anos 1980. E o que a gente identificou ali foi uma est�tica pr�pria do hip hop, aquela mistura de gangues punk e de hip hop”, explica Gilcevi. 

“Logo depois do 'Warriors', a gente tem o ‘Colors, as cores da viol�ncia’, que foi um dos primeiros filmes que contam com trilha basicamente s� de hip hop, e ‘Judgment night - Uma jogada do destino’, que uniu as bandas de rock e rap da �poca para gravar um disco”, emenda.

“Colors, as cores da viol�ncia” (1988), de Dennis Hooper, citado por Gilcevi, deixa evidente a repress�o policial contra os moradores suburbanos dos EUA, o que acaba por intensificar a onda de viol�ncia nos guetos. J� “Judgment night - Uma jogada do destino” (1992), de Ernest Dickerson, trata da viol�ncia nos bairros perif�ricos dos EUA, causada, sobretudo, pelas gangues locais.

"O rap no Brasil - na verdade, no mundo todo - vem do sub�rbio. Ele sempre foi feito pela galera da periferia. Antigamente tinha um ou outro da Zona Sul que fazia, mas eram poucos. Agora, voc� v� que o rap dominou. Voc� vai num espetinho e est� tocando rap, coisa que voc� nem imaginaria estar tocando no com�rcio"

DJ Enec�, curador da mostra "Fic��es Urbanas: hip hop no cinema"


Alternativa

Mostrar a cultura hip hop como natural de um ambiente marginalizado e violento n�o � a inten��o de “Fic��es Urbanas: hip hop no cinema”. Portanto, h� t�tulos que colocam o hip hop como um caminho alternativo adotado por pessoas inseridas em ambientes violentos e hostis.

� o caso de "Breakin" (1984), dirigido por Joel Silberg. No longa, Kelly (Lucinda Dickey), uma dan�arina de jazz, se apaixona por Ozone (Shabba Doo), um jovem fascinado pelo breakdance. Do relacionamento, nasce um grupo de dan�a composto por pessoas da periferia que sonham em alcan�ar o estrelato pela dan�a.

“8 Mile: Rua das Ilus�es” (2002), de Curtis Hanson, segue a mesma cartilha. Atormentado por forte crise de identidade, o jovem Jimmy (interpretado pelo rapper Eminem) conhece o rap e ali ele se encontra.

“A gente tentou dosar os estilos para n�o ficar somente na est�tica dos conflitos da favela e da periferia. Tivemos a preocupa��o de mostrar que a hist�ria desses lugares n�o � s� de conflitos. L� tem com�dia, m�sica e poesia”, observa Gilcevi.

Por isso, explica o produtor e curador, a mostra termina com a exibi��o da com�dia “No auge da fama” (2014), de Chris Rock. O filme, estrelado pelo pr�prio comediante, � sobre um humorista negro duramente criticado pela imprensa, mas que acaba caindo no gosto dos jornalistas ao mostrar conhecimento e interesse pela Revolu��o Haitiana. 

Hollywood

 “A ind�stria do rap se uniu com Hollywood. A gente pretende mostrar isso tamb�m. N�o foi s� uma apropria��o que Hollywood fez da est�tica do rap, mas do material humano e art�stico tamb�m”, afirma Gilcevi.
Ele ainda diz que, para que a mostra conseguisse dar um panorama geral do hip hop, n�o poderia ficar de fora a hist�rica briga entre Tupac Shakur (1971-1996) e Notorious B.I.G. (1972-1997), que, nas palavras de Gilcevi, foi “um acontecimento definidor para a est�tica do hip hop e de tudo que veio depois”.

Logo, ser�o exibidos os filmes “Tupac: Resurrection", (2003), de Lauren Lazin; e "Notorious B.I.G. - Nenhum sonho � grande demais" (2009), de George Tillman Jr., que trazem a vida e carreira dos dois rappers mortos precocemente em decorr�ncia da viol�ncia das gangues de rua norte-americanas.

Para que o hip hop brasileiro n�o ficasse de fora, “Ant�nia” (2006), de Tata Amaral, est� na programa��o. Com Negra Li entre as protagonistas, o filme acompanha quatro amigas que vivem na periferia de S�o Paulo e sonham com o sucesso de seu grupo de rap. 

“O rap no Brasil - na verdade, no mundo todo - vem do sub�rbio. Ele sempre foi feito pela galera da periferia. Antigamente tinha um ou outro da Zona Sul que fazia, mas eram poucos. Agora, voc� v� que o rap dominou. Voc� vai num espetinho e est� tocando rap, coisa que voc� nem imaginaria estar tocando no com�rcio", comenta o DJ Enec�, um dos curadores de “Fic��es Urbanas: hip hop no cinema”, ao lado de Gilcevi e Mat�ria Prima.

Ele foi o respons�vel pela produ��o do primeiro vinil de rap em Minas Gerais. Na ocasi�o, gravou o  disco de estreia do grupo Retrato Radical. No entanto, Enec� enxerga uma mudan�a no cen�rio atual da cultura hip hop que ainda n�o foi documentada no audiovisual: “A galera hoje em dia escuta o rap n�o pelo conte�do dele. Ele acabou virando uma m�sica de divers�o, coisa que n�o era. O rap sempre foi m�sica de protesto”, observa.

Ele acredita que o panorama hist�rico da cultura hip hop est� bem representado em “Fic��es Urbanas: hip hop no cinema”. “Quem tiver oportunidade de assistir aos filmes na sequ�ncia, vai ter acesso a uma hist�ria plena do hip hop”. E ainda adianta: “Para o ano que vem, queremos montar uma esp�cie de continua��o, com filmes mais recentes e que conversem com o hip hop, tendo MCs como atores”.

Programe-se

Confira as sess�es da mostra nesta semana*

» Ter�a-feira (3/1)
 "Fa�a a coisa certa" (1986), de Spike Lee

» Quarta-feira (4/1)
"Breakin" (1984), de Joel Silberg

» Quinta-feira (5/1)
Colors, as cores da viol�ncia" (1988), de Dennis Hopper

» Sexta-feira (6/1)
"Warriors - Os selvagens da noite" (1979), de Walter Hill

» S�bado (7/1) - N�o haver� exibi��o
 
» Domingo (8/1)
"Perigo para a Sociedade" (1993/foto), de Allen Hughes e Albert Hughes

*Sess�es sempre �s 19h

MOSTRA “FIC��ES URBANAS: HIP HOP NO CINEMA”
Exibi��o gratuita de 18 filmes a respeito da cultura hip hop. Desta ter�a-feira (3/1) a 29/1, com sess�es �s 19h, no MIS Cine Santa Tereza (R. Estrela do Sul, 89, Santa Tereza). Entrada gratuita mediante retirada de ingresso na bilheteria ou pelo site DiskIngressos.