Ai Weiwei, vestido de preto, sentado à mesa em solenidade no Japão, olha para a câmera

Artista dissidente chin�s, atualmente radicado em Portugal, abrir� mostra com objetos de design, incluindo seus trabalhos feitos com Lego, em Londres, no pr�ximo m�s de abril

Richard A. Brooks / AFP

Do esqueleto de uma casa tradicional aos restos de seus est�dios na China, destru�dos como "puni��o" por sua dissid�ncia, o artista Ai Weiwei explorar� a "demoli��o" do passado pela p�s-modernidade, em uma grande exposi��o em Londres, que tem in�cio em 7 de abril.

"A demoli��o, a destrui��o ou a perda da mem�ria cultural s�o um dos grandes temas dessa exposi��o", disse o curador de "Ai Weiwei: Making sense", Justin McGuirk, durante a apresenta��o da mostra, que ser� aberta ao p�blico no Museu do Design de Londres, entre os dias 7 de abril e 30 de julho.

"Para mim, o modo de utiliza��o de um pr�dio, ou uma estrutura � uma evidente declara��o pol�tica", afirmou o artista, em um v�deo gravado em seu est�dio em Portugal, onde trabalha atualmente.

Assim, a exposi��o incluir� uma compila��o de fotos tiradas entre 2005 e 2007, quando o artista participou do design do Est�dio Nacional de Pequim, mais conhecido como Ninho de P�ssaro, para os Jogos Ol�mpicos de 2008.

Com este trabalho, Ai Weiwei esperava representar uma nova abertura da China para o mundo, "mas se distanciou quando se transformou em uma esp�cie de s�mbolo de um Estado autorit�rio e sentiu que n�o queria contribuir para que o Estado fosse aceito", explicou McGuirk.

A obra intitulada "Left right studio material" (2018) re�ne fragmentos de esculturas recuperadas ap�s a demoli��o de seus est�dios em Pequim e Xangai pelas autoridades chinesas.

Puni��o 

"Sou provavelmente o �nico artista da nossa hist�ria cujos principais est�dios foram destru�dos pelo mesmo governo e, mesmo assim, n�o faz o menor sentido por qu� tiveram que fazer isso, para al�m de quererem fazer algo para me punir", declarou Ai, em um v�deo.

"Mas me puniram porque, como artista, est�o castigando o individualismo, a liberdade de express�o. Punem qualquer um que tente levantar uma quest�o ou um argumento sobre a legitimidade", acrescentou.

O artista contou que guardou os fragmentos das esculturas como "parte de um quadro mais amplo" sobre o desaparecimento de objetos artesanais e sua substitui��o por itens fabricados industrialmente.

"Em um sentido, somos mais avan�ados", mas em outro, "perdemos as emo��es, a sensibilidade, o tato, a textura, o cheiro, a forma das coisas feitas � m�o", comentou.

Tens�o 

"O contexto desta reflex�o sobre a tens�o entre o artesanato e o produto fabricado industrialmente �, realmente, a mudan�a que ocorreu na China, nos �ltimos 30 anos; a enorme escala de urbaniza��o e desenvolvimento", ressaltou o curador.

Essa transforma��o "trouxe consigo muita desvaloriza��o da hist�ria, remo��o de paisagens urbanas e arquiteturas tradicionais e a perda das formas tradicionais de fabrica��o".

A exposi��o abre com o esqueleto de uma casa do s�culo 18 de um comerciante chin�s da dinastia Qing. A propriedade foi comprada por Ai quando estava para ser demolida e, posteriormente, pintou a madeira envelhecida com cores industriais brilhantes.

Atrav�s de uma viagem hist�rica, ser�o exibidas milhares de ferramentas de pedra do per�odo neol�tico adquiridas pelo artista em pequenos mercados chineses. Apesar de seu valor hist�rico, essas pe�as foram vendidas a pre�os irris�rios.

A mostra termina com suas obras recentes, criadas a partir de "milhares de pe�as de Lego, que Weiwei reuniu de doa��es do p�blico, em um momento em que a Lego n�o lhe vendia, pois as usava para fazer trabalhos bastante pol�ticos e n�o queriam estar associados a isso", explicou McGuirk.

Incluir� desde uma homenagem �s milhares de crian�as mortas no desabamento de escolas durante o terremoto de Sichuan, em 2008, at� a escultura de um simples cabide, o �nico objeto que Ai conseguiu levar consigo para a pris�o.

Primeira exposi��o do artista e ativista chin�s a se concentrar exclusivamente no design, a mostra incluir� v�rios novos trabalhos criados para a ocasi�o e outros nunca antes vistos no Reino Unido, disse o diretor do Museu, Tim Marlow.

"Vai ser uma daquelas exposi��es que s� quando vivenciarmos a instala��o completa � que entenderemos exatamente do que se trata", prometeu.