"Santo maldito" mostra ateu convertido em pastor evang�lico

A vida de Reinaldo n�o anda f�cil. Professor de cursinho para jovens mais interessados nos pr�prios celulares, ele tenta, sem sucesso, escrever um novo livro. Ateu ferrenho, tem pelo menos um consolo: a �tima rela��o com a mulher, Maria Clara, e a filha, Gabriela, que o apoiam e aprenderam a lidar com a constante falta de dinheiro. Mas tudo acaba em um minuto.

Drama com uma boa dose de suspense, a s�rie nacional “Santo maldito” estreia nesta quarta (8/2), na plataforma Star+. Dirigida por Gustavo Bonaf� (“Ins�nia” e “O doutrinador”), a produ��o � encabe�ada por Felipe Camargo (Reinaldo). Ana Fl�via Cavalcanti interpreta Maria Clara, e a mineira B�rbara Luz vive a adolescente Gabriela. A s�rie ainda conta com Augusto Madeira e Othon Bastos, este �ltimo em uma participa��o especial. 

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Um desencontro muda radicalmente a vida dessa fam�lia. Reinaldo chega a avisar � mulher que iria buscar a filha na aula, numa noite qualquer. Mas Maria Clara nunca viu a mensagem no celular. Enquanto ele est� com a garota dentro do carro, a mulher, que tamb�m tinha ido pegar Gabriela, leva um tiro. � levada para um hospital particular e fica entre a vida e a morte, at� entrar em estado vegetativo.

Desesperado, Reinaldo v� as contas do hospital atingirem a casa dos milhares de reais. Ao mesmo tempo, n�o suporta a ideia de que a mulher esteja sofrendo. Resolve tomar uma atitude radical: desligar os aparelhos. Surpreendentemente, Maria Clara volta � vida. S� que um enfermeiro estava gravando a cena com o celular. 

Ele leva a imagem para o pastor Samuel (Madeira), que comanda a pequena igreja Profetas da F�. Este �ltimo, acreditando tratar-se de um milagre, n�o pensa duas vezes: junta todas as economias e faz uma proposta a Reinaldo. Ele vai lhe pagar para fazer uma �nica prega��o para seus fi�is. Reinaldo, que nunca acreditou em Deus, fica abalado num primeiro momento e se recusa. Mas a recupera��o da mulher fala mais alto, e ele aceita o convite.

Isso � s� o in�cio da hist�ria. De professor, Reinaldo se torna o pastor Rei. Tal mudan�a vai afetar imensamente suas pr�prias cren�as, e a vida da mulher e da filha. Ainda que um templo evang�lico seja um dos cen�rios da narrativa, o crescimento das igrejas neopentecostais n�o est� em quest�o aqui. “O principal, e foi o que me atraiu na hist�ria, � saber se o cara � santo ou n�o”, comenta Bonaf�.

“O percurso do personagem � mostrar como ele se embananou todo. Quando ele assume este lugar de pastor, o discurso dele (de n�o acreditar em Deus) acaba fazendo sentido (para os outros). E, por causa das mentiras, ele vai se enfiando cada vez mais no buraco”, comenta o diretor.

Para Felipe Camargo, “Santo maldito” trata de uma quest�o “mundial, atemporal, mas tamb�m individual, que � a f�, seja em Deus ou no nada”. O ator disse que se encantou com o personagem de cara. 

“Foi um mergulho muito intenso, pois o Reinaldo � um personagem muito humano e honesto. Apesar de ele parecer incoerente para os outros, � coerente consigo mesmo. A s�rie ‘vende’ a d�vida (sobre o personagem ter feito ou n�o um milagre) o tempo todo. E h� outra quest�o: a partir de certo momento, o Reinaldo come�a a perder o livre-arb�trio”, diz Camargo.

Logo que desperta do coma, Maria Clara n�o consegue mais enxergar. A sequ�ncia, que est� no epis�dio-piloto, exigiu muita prepara��o, diz Ana Fl�via. 

“Foi um superdesafio porque n�o � que ela est� cega 100%; de repente v� um vulto, uma sombra... Trabalhei bastante com o olhar mais baixo. E depois, quando ela volta mesmo para a vida, fiz um olhar estatelado, aberto, mas meio perdido, vazio. Pesquisas mostram que muitas pessoas que retornam de um estado de quase morte mudam completamente. At� o epis�dio oito, a Maria Clara vai mudar bastante, at� em rela��o ao pr�prio casamento”, afirma a atriz.

“Santo maldito” foi rodada de outubro de 2021 a janeiro de 2022, em S�o Paulo. As s�ries que Bonaf� dirigiu antes, “Ins�nia” (Star ) e “Lov3” (Prime Video), foram filmadas no Uruguai. No primeiro ano da pandemia, o pa�s vizinho, por conta do bom controle da crise sanit�ria, serviu de loca��o para v�rias s�ries e filmes estrangeiros.

Falando sobre o mercado nacional como um todo, Bonaf� comenta que houve um boom de produ��es no streaming que acabou sendo interrompido pela pandemia. 

“Quando voltamos a poder filmar, s�ries que estavam engavetadas foram � rua, mas houve uma puxada de freio de m�o de todos os streamings. Acho que isso aconteceu por uma quest�o econ�mica global. A Netflix puxou o freio, e as outras tamb�m”, diz. 

“Hoje o mercado deu uma estabilizada. Agora, as plataformas foram muito importantes para quem faz cinema no Brasil. O audiovisual s� se manteve vivo (durante a pandemia) porque os streamings estavam trabalhando, j� que a Ancine e outros �rg�os estavam parados (no governo anterior). Al�m disso, s�o os streamings que possibilitaram fazer obras de g�nero como esta, que no passado eram mais dif�ceis de se ver na TV brasileira.”

S�rie em oito epis�dios. Estreia nesta quarta (8/2), no Star

Filha dos atores e diretores In�s Peixoto e Eduardo Moreira, do Grupo Galp�o, B�rbara Luz nunca estudou teatro. “Sa� do ensino m�dio, fiz interc�mbio e, quando voltei, na pandemia, come�ou a rolar muita coisa. N�o tive muito tempo para estudar ainda. Mas estou querendo fazer uma gradua��o, um curso mais t�cnico”, comenta a atriz. 

Sua estreia no cinema se deu em “Unic�rnio” (2017), drama em que interpretou a filha da protagonista, vivida por Patr�cia Pillar. Para conseguir o papel de Gabriela em “Santo maldito”, B�rbara passou por quatro testes. Ela interpreta uma garota de 16 anos – hoje com 20, a atriz tinha 18 quando filmou a s�rie.

“Mesmo mais velha do que a personagem, ela tem rostinho de crian�a. E a gente precisava de algu�m com apar�ncia de 16 anos, mas com a for�a que a personagem pedia. N�o conhecia a B�rbara, e ela tem muito talento. Apostaria muitas fichas nela”, comenta Gustavo Bonaf�.

“Intensiv�o” 

Para fazer sua primeira s�rie, B�rbara passou uma longa temporada em S�o Paulo, pois foram meses de prepara��o at� que as filmagens tivessem in�cio. “Foi muito bom poder trabalhar com atores que admiro tanto, pois a gente � muito estimulada diariamente. Tamb�m gostei do intensiv�o que � fazer s�ries, pois era (grava��o) quase todo dia.”

Para se preparar para viver Gabriela, ela, por conta pr�pria, escreveu um di�rio da personagem. “Em todo trabalho tento achar coisas dentro de mim semelhantes � personagem que vou ser. Peguei um caderninho para ela e escrevi etapas da trajet�ria dela que achava que eram importantes, j� que ela passa por um processo de amadurecimento muito intenso. Al�m disso, tem que entender a pr�pria individualidade fora da fam�lia.” 

Tamb�m nos �ltimos anos, B�rbara filmou um segundo longa, “TPM”, de Eliana Fonseca, que ainda n�o foi lan�ado. “Curios�ssima” para assistir a “Santo maldito”, j� que ainda n�o viu nada, a atriz comenta que aprende muito com os pais. “A gente conversa muito sobre teatro, sobre atuar. Aprendo diariamente e de uma forma muito descontra�da com eles atrav�s das conversas e dos materiais que me mostram.” (MP)