Oscar 2023: O pai que concorre a uma estatueta ap�s gravar filha respondendo perguntas por 16 anos

A t�cnica nunca ser� mais importante que as ideias, principalmente se essas ideias forem concebidas com amor.

H� duas d�cadas, o americano Jay Rosenblatt, hoje com 68 anos, decidiu come�ar a filmar sua filha Ella a cada anivers�rio.

Nessa �poca, a menina tinha 2 anos e ele, um cineasta experimental, queria passar mais tempo com sua fam�lia sem precisar abandonar a carreira art�stica.

Assim, a cada anivers�rio de vida de sua filha, ele ligava a c�mera, colocava um microfone na menina, pedia a ela que se sentasse no sof� e fazia uma s�rie de perguntas — sempre as mesmas todo ano.

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O resultado disse � Como se Mede um Ano?, um curta-metragem em que ele explora as rela��es familiares, a paternidade e o desenvolvimento humano.

Este ano, a obra — filmada ao longo de 16 anos pelo pr�prio Rosenblatt com uma tecnologia de f�cil acesso a qualquer um — foi indicada ao Oscar de melhor document�rio em curta-metragem.

"Eu queria que a obra fosse realista. Queria que as pessoas sentissem que esse era nosso relacionamento, mas que pudessem se identificar tamb�m em seus pr�prios relacionamentos entre seus filhos ou pais", disse ele em entrevista em 2021, quando o curta estreou em v�rios festivais.

� justamente a simplicidade e a universalidade do seu trabalho que atra�ram a aten��o dos cr�ticos.

O portal RogerEbert.com aponta que qualquer pai ver� o filme como "uma met�fora para o tempo que passa com seus pr�prios filhos".

Embora tamb�m digam que o diretor — que tamb�m foi indicado ao Oscar na mesma categoria no ano passado por When We Were Bullies ("Quando a Gente Fazia Bullying", em tradu��o livre), no qual tamb�m explora uma hist�ria pessoal — faz um document�rio muito mais sobre ele do que qualquer outra coisa.

"N�o � muito profundo, mas n�o se surpreenda se ele vencer", diz o site.

A seguir a reportagem falar� mais sobre o filme, que ser� lan�ado na HBO em junho.

Este artigo cont�m spoilers.

As perguntas

A cena � sempre a mesma: um t�pico sof� e uma t�pica parede de sala americana estampada com flores. O foco principal � sempre o rosto de sua filha.

A menina ri, pula e �s vezes at� revira os olhos. Com o passar dos anos, ela � vista com penteados e looks diferentes, de acordo com a �poca. E, claro, sua atitude em rela��o ao pai tamb�m muda.

Quando beb� gostava da c�mera, quando adolescente �s vezes pede que tudo seja feito rapidamente e depois se derrama em amor para sua fam�lia.

O diretor faz perguntas que ele mesmo descreve como "simples". Mas para uma menina, elas nem sempre s�o assim t�o simples.

"Quantos anos voc� tem?" ou “O que s�o sonhos?” fazem parte do repert�rio. Ela oferece respostas ora engra�adas, ora muito s�bias, ora dolorosas — como quando disse aos 9 anos que o que mais temia era "ser diferente, n�o conseguir se integrar com os outros".

Mas aos 11 anos, ela responde a mesma pergunta: "Tenho medo da vida, tenho medo de viver, porque h� reviravoltas que voc� n�o espera e podem ser dif�ceis. N�o quero ter que passar por isso."

Uma frase madura para a sua idade, e que revela o qu�o complexa pode ser a mente de uma menina.

"Foi muito interessante para mim ver a diferen�a dos anos. Como suas emo��es mudaram, como ela se expressou de forma diferente ano ap�s ano ou como era dif�cil para ela se comunicar, ou quando n�o estava a fim", disse Rosenblatt em um entrevista para o canal Filmmaker Fest, no YouTube.

O document�rio tamb�m � um retrato do relacionamento de ambos. Por exemplo, �s vezes a jovem fala sobre suas brigas e como ambos se reconciliam.

O filme, montado de forma linear de acordo com os anos, culmina com Ella sozinha diante da c�mera em um �ltimo espa�o que seu pai lhe oferece para falar, mas desta vez sem perguntas.

Ela � uma jovem de 18 anos que j� est� cursando a universidade e diz: "Sinto sua falta quando vou para a universidade. Fico feliz que voc� continue esse tipo de tradi��o (filmar todos os anos). Isso me faz feliz e me lembra o quanto voc� me ama".

Mudan�a de carreira

Rosenblatt descreve Como se Mede um Ano? como um document�rio de "com�dia". Ele concorda com os cr�ticos que disseram que esse trabalho � muito mais sens�vel do que suas obras anteriores.

Entre sua longa lista de filmes, iniciada em 1994, destacam-se o que ele chama de "colagens", nas quais sobrep�e materiais de arquivo e lhes d� novos significados.

"Meus outros filmes eram muito pesados, sobre assuntos muito s�rios", disse ele em entrevista.

Seus filmes, segundo uma biografia no site do pr�prio diretor, exploram as emo��es e a psique. Talvez o motivo para isso � que, antes de se tornar cineasta, Rosenblatt foi terapeuta, com mestrado em psicologia.

Foi na p�s-gradua��o, ap�s fazer uma cadeira eletiva de cinema, que ele decidiu mudar de curso.

"Fiz uma aula de cinema l� e me apaixonei pelo processo. Acho que passei mais tempo nesses pequenos projetos do que em todo o trabalho das minhas aulas de psicologia", disse ele ao Filmmaker Fest.

Mais tarde decidiu fazer um segundo mestrado em cinema. Ele j� ganhou mais de cem pr�mios, al�m de ter participado de festivais importantes como Sundance, al�m de indica��es ao Oscar.

Ele come�ou a criar Como se Mede um Ano? sem saber se eventualmente seria capaz de transform�-lo num filme.

Foi s� durante a pandemia que ele "teve tempo" para olhar e montar o material. Agora, olhando para frente, ele disse que continuar� explorando outros temas.

"N�o tenho um plano", comentou recentemente.