Fantasiados e maquiados, Gene Simmons, de 73 anos, faz careta e Paul Stanley, de 71, olha para a câmera durante show da banda Kiss

Gene Simmons, de 73 anos, e Paul Stanley, de 71, decidiram encerrar a carreira de meio s�culo do Kiss com show marcado para dezembro, em Nova York

Edu Defferrari/divulga��o

'O futuro (do rock), digo que n�o vai ser bom. Hoje tem o EDM, a m�sica eletr�nica em que voc� aperta um bot�o e um computador faz toda a m�sica. � um per�odo muito ruim para a criatividade. Tome como exemplo um per�odo de 30 anos: 1958 a 1988. Ali voc� teve Elvis, Beatles, Stones, Jimi Hendrix, muitas pessoas importantes, assim como bandas pesadas como o Metallica e nomes do pop e soul, Madonna, a gera��o Motown. Agora pegue de 1988 at� hoje, que s�o mais de 30 anos. Quem s�o os novos Beatles?'

Gene Simmons, fundador do Kiss


A banda e o est�dio s�o os mesmos. Mas todo o resto, passados 40 anos, � diferente. Ainda bem. O Kiss retorna a Belo Horizonte pela terceira e �ltima vez nesta quinta-feira (20/4) para show no Mineir�o, que tamb�m recebeu a banda em 23 de junho de 1983. Foi uma apresenta��o hist�rica, pelas piores raz�es poss�veis.

Cinquenta anos depois de sua forma��o em Nova York, a lend�ria banda de rock finalmente se despede dos palcos. Iniciada em janeiro de 2019, a turn� de despedida “End of the road” sofreu adiamentos em decorr�ncia da pandemia.

No in�cio de dezembro, o Kiss faz, no Madison Square Garden, as duas �ltimas apresenta��es de sua carreira – a turn� final tem 250 datas. O Brasil est� recebendo a banda pela oitava vez – terceira em BH, que assistiu ao grupo tamb�m em 2015, no gin�sio do Mineirinho.

Mal-estar em Manaus

A estreia, em Manaus, na �ltima quarta (12/4), ganhou os holofotes depois de o baixista Gene Simmons passar mal em cima do palco. Desidrata��o. “Paramos por cerca de cinco minutos, bebi um pouco de �gua e tudo ficou bem. Nada s�rio”, afirmou o cofundador da banda, em nota divulgada nas redes sociais.

Depois de shows em Bogot�, na Col�mbia (no s�bado, 15/4), e Bras�lia (na ter�a, 18/4), o Kiss chegar� a BH – a parte brasileira da turn� sul-americana ainda ter� apresenta��es em S�o Paulo (22/4, no festival Monsters of Rock) e Florian�polis (25/4). A abertura ser� com o Sepultura.

Os “Cavaleiros a servi�o de Satan�s”, como foram chamados por grupos religiosos quando vieram a Belo Horizonte quatro d�cadas atr�s, s�o, h� muito, uma pot�ncia da m�sica e do entretenimento. Com Simmons, de 73 anos, e o vocalista e guitarrista Paul Stanley, de 71, � frente, o Kiss se tornou m�quina de fazer dinheiro.
 
Músico do Kiss faz show em BH em 1985

Show do Kiss em Belo Horizonte, realizado em 1983, atraiu protestos de grupos religiosos e provocou pris�es

Jos� Pereira/EM/1983
 
 
A m�sica � o ponto de partida e principal elemento que arrebanha, h� cinco d�cadas, f�s (a chamada Kiss Army) em todo o mundo. Tamb�m h� HQs, filmes, livros, programas de TV e toda a sorte de produtos que a cultura pop pode produzir.

Mas s�o os shows, sempre superprodu��es cheias de pirotecnia, que ainda conferem relev�ncia ao Kiss, que segue vivo e chutando com o baterista Eric Singer, de 64, e o guitarrista Tommy Thayer, de 62 anos.

Quatro senhores maquiados, fantasiados, com botas de saltos que podem causar vertigem? � para levar a s�rio, avisa Simmons na entrevista concedida ao Estado de Minas antes de embarcar para o Brasil.
 
 
 
A turn� de despedida foi anunciada em setembro de 2018, mas a pandemia mudou tudo. Agora o Kiss se despede oficialmente em dezembro, em Nova York. � muito dif�cil dizer adeus?
� sempre muito dif�cil dizer adeus, especialmente se voc� est� falando da �poca mais incr�vel da sua vida. Mas s�o 50 anos, meio s�culo! Tem gente que nem chegou a viver tanto tempo. Voc� sabe que deve parar antes que n�o consiga mais fazer o show. Lembre-se: n�s j� cantamos “You wanted the best/ and you got the best” (Voc� queria o melhor/ E conseguiu o melhor). Queremos que essas palavras continuem soando verdadeiras. J� vimos muitas bandas tocando tempo demais, mais do que deveriam, e ficarem velhas. Vimos boxeadores que se tornaram campe�es do mundo que continuaram a lutar e acabaram perdendo. Ent�o, chegou o tempo certo de parar.

Cinquenta anos de banda significam 50 anos ao lado de Paul Stanley. O que � mais complicado em um relacionamento t�o longo?
� muito dif�cil mesmo. Casamento � a coisa mais complicada do mundo, a maioria deles n�o dura tanto. Com as bandas isso ainda � mais maluco, pois temos que lidar com egos e outras quest�es. Muitas bandas acabaram por conta de drogas e �lcool, coisas est�pidas. Posso dizer que tive muita sorte em encontrar um parceiro como ele.
 
Envelhecer em cima do palco n�o deve ser f�cil. 
Se voc� n�o usar drogas, n�o beber e n�o fumar, acaba sendo f�cil. Agora, se fizer coisas est�pidas, seu corpo vai ficar velho e fraco rapidamente. � como um carro. Se voc� trat�-lo bem, ele pode durar 100 anos. Mas se colocar sujeira no combust�vel, ele n�o vai andar, vai quebrar. Seu corpo � uma m�quina que deve ser exercitada todo dia. Tamb�m tem que olhar o que come. Adoro bolo, ent�o realmente tenho que prestar aten��o. E tem ainda a cabe�a, a coisa mais importante que temos. Se bagun��-la, encher de �lcool e drogas, vai se autodestruir.
 
Maquiado, o cantor Gene Simmons aponta para a câmera durante show do Kiss

Gene Simmons diz que � 'f�cil' envelhecer no palco, 'se voc� n�o usar drogas, n�o beber e n�o fumar'

Edu Defferrari/divulga��o

'Quando se faz um m�vel diferente, bonito, ele acaba se tornando uma forma de arte. E tem que se cobrar dinheiro por ele. A mesma coisa com a pintura, com a m�sica. 'A arte suprema � o neg�cio.' N�o fui eu quem disse isso, foi Andy Warhol'

Gene Simmons, fundador do Kiss

 

O Kiss � reconhecido n�o s� pela m�sica, mas como exemplo de gerenciamento de carreira e produtos. A partir de quando a banda conseguiu esse perfeito equil�brio entre criatividade art�stica e neg�cios?
Desde o come�o. Pessoas que s� pensam na arte acabam ficando pobres. Quando se faz um m�vel diferente, bonito, ele acaba se tornando uma forma de arte. E tem que se cobrar dinheiro por ele. A mesma coisa com a pintura, com a m�sica. ‘A arte suprema � o neg�cio.’ N�o fui eu quem disse isso, foi Andy Warhol. Ent�o, n�o se pode fazer arte sem gastar e investir dinheiro.

O rock teve grandes perdas nos �ltimos anos: Neil Peart do Rush, Eddie Van Halen, David Crosby, Jeff Beck. � dif�cil perder colegas de m�sica e de gera��o? Com tantas baixas e sa�das de cena, como do pr�prio Kiss, d� para olhar para o futuro do rock com algum otimismo?
Primeiramente, muitos desses m�sicos eram meus amigos. Eu descobri o Van Halen, conhecia Eddie h� muitos anos, assim como o Jeff Beck. Ent�o voc� fica triste n�o s� pelo �cone, mas principalmente pela perda de um amigo. � muito dif�cil. Agora, sobre o futuro, digo que n�o vai ser bom. Hoje tem o EDM, a m�sica eletr�nica em que voc� aperta um bot�o e um computador faz toda a m�sica. � um per�odo muito ruim para a criatividade. Tome como exemplo um per�odo de 30 anos: 1958 a 1988. Ali voc� teve Elvis, Beatles, Stones, Jimi Hendrix, muitas pessoas importantes, assim como bandas pesadas como o Metallica e nomes do pop e soul, Madonna, a gera��o Motown. Agora pegue de 1988 at� hoje, que s�o mais de 30 anos. Quem s�o os novos Beatles?
 
 

Esta � a oitava turn� do Kiss do Brasil. Vou te pedir para fazer um exerc�cio de mem�ria: em 1983, voc�s fizeram um show em Belo Horizonte que foi um grande problema. Houve protestos de grupos religiosos, dezenas de pris�es e viol�ncia policial. Voc� se lembra de alguma coisa?
Sim. Na primeira vez no Brasil, uma banda local fez os shows de abertura (Herva Doce). O primeiro foi no Rio, no maior est�dio do mundo (o Maracan�). E ent�o, Belo Horizonte. Lembro-me de que houve problemas t�cnicos, acabou a luz no est�dio. Tivemos que adiar o show, voltar no dia seguinte. Claro, teve muita briga e coisas nesse sentido. Mas eventualmente conseguimos tocar, as coisas at� que deram certo.

Qual � o legado que voc� espera que fique do Kiss?
S�o duas coisas. Uma � a quest�o da magia. A cada show, criamos m�gica para o p�blico durante algumas horas. Quando se vai ao show do Kiss, mesmo que n�o goste da banda, voc� vai se lembrar dele pelo resto da vida. E uma vez que esteja no show, voc� esquece o tr�nsito ruim, os gritos da sua namorada e todos os problemas do mundo. A outra coisa que vamos deixar � a seguinte: quando voc� v� Metallica, Paul McCartney, Rammstein ou qualquer outro artista usando efeitos especiais e fogos no palco, aquilo ali veio de um �nico lugar.
 
Palco durante o show do Kiss tem imagens de labaredas

Kiss se orgulha de fazer do rock espet�culo pirot�cnico repleto de efeitos especiais

Edu Defferrari/divulga��o
 

O �lbum “Creatures of the night” vendeu modestamente quando foi lan�ado em 1982, mas hoje � considerado um dos melhores da banda. Por que esse trabalho foi reconhecido d�cadas depois? � tamb�m o seu �lbum preferido do Kiss?
� estranho, mas a arte � assim. Tem pintores que quando est�o vivos trabalham, vivem sem dinheiro e ningu�m liga para eles. Depois, quando n�o est�o mais aqui, s�o descobertos. Isso acontece o tempo todo, inclusive com a m�sica, quando ela � lan�ada no tempo errado para as pessoas erradas. Agora, para mim, o �lbum favorito � o primeiro (“Kiss”, de 1974), mesmo achando que h� discos melhores. Mas naquele tempo n�o sab�amos nada, n�o t�nhamos produtor, empres�rio, gravadora. �ramos s� quatro idiotas de Nova York come�ando a tocar guitarra e bateria. Foi o registro mais honesto que fizemos. Tamb�m guardo na mem�ria a primeira demo (de mar�o de 1973), gravada no est�dio do Jimi Hendrix, o Electric Lady. Todo o mundo gravou l�: Jimi, Led Zeppelin, Stones. Quando chegamos ali, vimos que a vida normal tinha acabado e que uma (vida) extraordin�ria estava come�ando.
 
Show da banda Kiss no Mineirinho, em BH, em 2015

Kiss se apresentou no Mineirinho, em 2015, para comemorar seus 40 anos

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press/04/15
 

Seu reality show, “Gene Simmons: Family jewels”, fez muito sucesso. Que impacto o programa teve sobre voc� e sua fam�lia?
O show foi enorme: oito temporadas, 167 epis�dios. Muitos realities acabam em brigas entre fam�lia e amigos. O nosso serviu para nos aproximar ainda mais. Todo mundo cresceu. Minha pequena Sophie (a filha ca�ula) se casou recentemente. Ela tem 31 anos, tinha 14 quando o programa come�ou. Nos vemos o tempo todo, eu, ela e Nick (o filho mais velho). Hoje, eles podem ver como cresceram e amadureceram quando assistem ao programa.

“END OF THE ROAD”

Show do Kiss. Nesta quinta-feira (20/4), �s 21h, no Mineir�o (Avenida Ant�nio Abrah�o Caram, 1.001, Pampulha). Abertura dos port�es �s 17h. Show de abertura: Sepultura. Pista: a partir de R$ 252 (mais taxas). Pista Premium: a partir de R$ 495 (mais taxas). � venda no site uhuu.com. Classifica��o et�ria: menores de 10 a 15 acompanhados dos pais; de 16 e 17, acompanhados dos pais ou maior respons�vel.