Perfil biogr�fico de Janja destaca o gosto da primeira-dama pela pol�tica
Jornalistas Ci�a Guedes e Murilo Fiuza de Melo, autores do livro, relatam o envolvimento de Ros�ngela Lula da Silva na 'pol�tica do dia a dia' do governo Lula
Janja tem trajet�ria pol�tico partid�ria consolidada, ao contr�rio das outras primeiras-damas brasileiras, afirmam os autores do perfil biogr�fico da soci�loga
Evaristo S�/AFP/7/12/22
Quando os jornalistas Ci�a Guedes e Murilo Fiuza de Melo decidiram escrever um livro sobre Ros�ngela Lula da Silva, a Janja, esbarraram em muitas negativas de entrevistas e em certa dificuldade de conseguir informa��es. A dupla n�o desistiu.
Depois de lan�ar “Todas as mulheres dos presidentes”, em 2019, Ci�a e Murilo acharam que a mulher do presidente Luiz In�cio Lula da Silva merecia um livro pr�prio. “Desde 'Todas as mulheres dos presidentes' a gente ficou prestando muita aten��o a tudo o que se referia a primeiras-damas”, explica Ci�a.
“Quando Lula foi solto, come�amos a prestar aten��o na Janja. No come�o, ela teve atua��o mais t�mida, mas quando veio a pr�-campanha, ela come�ou a ter um desempenho muito diferente das mulheres de outros presidentes. A gente viu que n�o dava para esperar.”
A �ltima grande primeira-dama que tivemos foi Ruth Cardoso. Ent�o, a expectativa � que Janja tenha papel relevante no novo governo
Murilo Fiuza de Melo, jornalista
Urg�ncia
Havia, Murilo acredita, uma urg�ncia em publicar “Janja – A militante que se tornou primeira-dama”, que n�o � uma biografia e est� mais para perfil biogr�fico.
“Nossa preocupa��o era responder � pergunta 'quem � Janja?'. N�o � biografia, porque o cap�tulo principal da vida dela est� sendo escrito agora”, explica.
“Quer�amos contar quem era a Janja at� chegar ao cargo atual. A expectativa � que, pela forma como se coloca, ela possa cumprir o que anunciou pouco antes de assumir os compromissos de combate � viol�ncia dom�stica, � fome, ao racismo”, diz o autor.
O livro traz algumas curiosidades, como detalhes do in�cio da rela��o entre Janja e Lula, em 2017. Depois do jogo do Politheama com o time do MST, ao qual Janja havia comparecido para tietar Chico Buarque, Lula pediu o telefone da soci�loga.
O recorte escolhido pelos autores foi delimitar o perfil a partir da filia��o de Janja ao PT, em 1987. Como muitas fontes pr�ximas � primeira-dama se recusaram a dar entrevistas, Ci�a e Murilo colheram boa parte das informa��es nas pr�prias publica��es da soci�loga nas redes sociais e em mat�rias publicadas na imprensa.
Amigos
O livro conta com alguns poucos depoimentos de amigos, como Roberto Baggio, coordenador do MST, que ajudou a organizar a vig�lia para Lula durante seus 580 dias de pris�o, e Regiane do Carmo Santos, que cedeu a casa para preparar a comida dos militantes acampados em frente � Pol�cia Federal, em Curitiba, onde Lula esteve preso.
A inten��o dos autores � jogar luz sobre a personagem que pode ter papel importante na cena pol�tica nacional.
“A �ltima grande primeira-dama que tivemos foi Ruth Cardoso. Ent�o, a expectativa � de que Janja tenha papel relevante no novo governo. O que nos surpreende � a capacidade dela de atuar na pol�tica do dia a dia. Ela tem uma hist�ria pol�tico partid�ria que nenhuma outra primeira-dama teve, e isso vem sendo revelado desde a campanha. Com Lula, ela construiu o discurso do amor contra o �dio. Janja tem papel important�ssimo na constru��o desse discurso”, garante Murilo Fiuza de Melo.
O presidente Lula e Janja em comemora��o da posse do petista, em Bras�lia, em 1� de janeiro
Caio Guatelli/AFP
DISCRETA, ATUANTE E INFLUENTE
Janja discordou do ministro da Defesa, Jos� M�cio, e foi contra a possibilidade de o Ex�rcito atuar via GLO (Garantia da Lei e da Ordem) na conten��o dos golpistas que depredaram as sedes dos tr�s Poderes em Bras�lia, em 8 de janeiro.
A primeira-dama estava ao lado do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) quando o petista falou ao telefone e ouviu do ministro a sugest�o. A primeira-dama reagiu: “GLO n�o, GLO � golpe, � golpe”. Lula decidiu decretar interven��o na seguran�a do Distrito Federal. O epis�dio � narrado em “Janja – A militante que se tornou primeira-dama”.
O livro cita o momento em que a soci�loga conheceu Lula pessoalmente. Foi entre fevereiro e mar�o de 1994, numa edi��o das Caravanas da Cidadania no Sul do Brasil. Na ocasi�o, Janja era ligada ao diret�rio do PT de Ponta Grossa, no Paran�, e morava na cidade com o historiador Marco Aur�lio Monteiro Pereira, com quem se relacionou, sem se casar formalmente, por mais de uma d�cada.
Janja e Lula tamb�m se encontraram algumas vezes durante o per�odo em que a soci�loga trabalhou em Itaipu. Os autores registram palestra do petista que ela organizou para a turma do Curso de Altos Estudos de Pol�tica e Estrat�gia, da ESG (Escola Superior de Guerra), da qual fazia parte. Conseguiu licen�a remunerada de um ano da hidrel�trica para participar do curso, no Rio de Janeiro.
A palestra ocorreu em 29 de julho de 2011, sete meses ap�s o petista deixar a Presid�ncia, e teria desagradado militares. Quando terminou o curso na ESG, Janja conseguiu sua cess�o para trabalhar na sede da Eletrobras, no Rio, onde ficou at� 2016. No per�odo, foi eleita conselheira fiscal da CGTEE (Companhia de Gera��o T�rmica de Energia El�trica) e da CTEEP (Companhia de Transmiss�o de Energia El�trica Paulista).
Os autores estimam que Janja teria recebido cerca de R$ 130 mil da CGTEE para participar de 54 reuni�es em quatro anos e meio. A CTEEP n�o informa os valores individualizados pagos a conselheiros.
Atua��o de Janja foi fundamental na escolha de Margareth Menezes para o Minist�rio da Cultura
Mauro Pimentel/AFP
Namorada na caravana
Em mar�o de 2018, Janja acompanhou Lula, como sua namorada, numa caravana pelo Sul do pa�s – a pedido do petista, a “equipe estava proibida de fazer men��o ao assunto”.
Lula foi preso em abril daquele ano. Segundo os autores, Janja esteve no pr�dio do Sindicato dos Metal�rgicos, em S�o Bernardo, no dia em que ele se entregou � Pol�cia Federal para se despedir do namorado.
Janja se tornou figura presente na vig�lia montada em frente � sede da Superintend�ncia da PF em Curitiba e manteve perfil discreto. O namoro se tornou p�blico em maio de 2019, Lula foi solto em novembro de 2019. Poucos dias depois, ela aderiu ao Programa de Demiss�o Volunt�ria da Itaipu.
No primeiro ano da pandemia, a soci�loga apareceu somente duas vezes em frente �s c�meras. Atuava nos bastidores, tinha o controle da agenda de Lula e opinava sobre pedidos de entrevista.
O livro diz que a “atitude discreta” era pedido do PT. A jornalista Nicole Briones, respons�vel pelas redes sociais do petista, “temia que a presen�a de Janja fosse usada pelos bolsonaristas”.
O livro aponta atritos da primeira-dama com o partido por conta de sua exposi��o. Em dezembro de 2020, Janja “come�ou a dar sinais de que n�o iria seguir aquele roteiro por muito tempo”.
Naquele m�s, acompanhou Lula em viagem a Cuba, onde ele participaria das grava��es de um document�rio – o Brasil vivia a segunda onda da pandemia. “A divulga��o da viagem era tudo o que o PT n�o queria. Janja, no entanto, publicou cinco posts.”
Queda de bra�o
Nicole Briones, mais tarde, foi demitida “ap�s perder a queda de bra�o com Janja”. A participa��o ativa da primeira-dama na campanha causou estranhamento entre lideran�as do partido, “ciosas do controle do entorno de Lula”.
O livro narra a visita de Lula a uma feira de agricultura familiar em Natal. Nela, o petista foi “agarrado por v�rios militantes”, o que fez com que Janja se irritasse e pedisse que a visita fosse interrompida, “deixando correligion�rios contrariados”. “A partir do incidente, o acesso a Lula tornou-se mais controlado.”
Os autores enaltecem a participa��o da soci�loga no processo eleitoral, afirmando que ela “trouxe jovialidade � campanha” e foi respons�vel por reaproximar o PT de segmentos da sociedade que estavam afastados do partido. O livro tamb�m mostra a atua��o de Janja na transi��o, na organiza��o da posse e sua influ�ncia na montagem do minist�rio de Lula.
PRIMEIRA-DAMA CONTESTA LIVRO
A assessoria de imprensa da primeira-dama disse que o livro “n�o contou com apoio ou a participa��o de Janja nem de seus familiares ou amigos mais pr�ximos”.
“A julgar pelos trechos publicizados anteriormente, � poss�vel inferir que h� diversas passagens que podem ser questionadas por imprecis�es nos fatos e exageros nas interpreta��es, al�m do uso de fatos p�blicos e facilmente verific�veis em ila��es”, afirma a nota.
A assessoria disse ainda que, ao ser procurada pelos autores, Janja registrou que “n�o achava apropriado ser motivo de um perfil como primeira-dama sem sequer ter se iniciado o terceiro mandato do presidente Lula”.
E acrescentou: “A publica��o precipitada do perfil tende a deixar de lado a devida reflex�o sobre sua atua��o profissional e pol�tica ao lado do presidente.” (Victoria Azevedo – Folhapress)
Rosto da primeira-dama Janja na capa do livro Janja A militante que se tornou primeira-dama
Reprodu��o
“JANJA – A MILITANTE QUE SE TORNOU PRIMEIRA-DAMA”
. De Ci�a Guedes e Murilo Fiuza de Melo . Editora M�quina de Livros . 176 p�ginas . R$ 54 (impresso) . R$ 39 (e-book)
*Para comentar, fa�a seu login ou assine