Humorista Marcos Veras, sorrindo, está deitado em cadeiras de plateia de teatro

Marcos Veras diz que sua "terapia coletiva" foi criada para provocar riso e emo��o no p�blico

M�rcio Farias/divulga��o

'A plateia protagoniza o espet�culo comigo. Estou ali sozinho no palco, mas no momento que chamo de terapia coletiva, vem uma pessoa, sobe de maneira espont�nea e fala das coisas mais �ntimas, que talvez n�o falaria nem para um amigo"

Marcos Veras, ator

 
Ao sair da sess�o de estreia de “Voc�s foram maravilhosos”, mon�logo de humor concebido e estrelado por Marcos Veras, em janeiro deste ano, um cr�tico de teatro amigo do ator disse: “Voc� inventou um neg�cio novo aqui. � algo que transita entre o stand-up comedy e o mon�logo tradicional, mas n�o � precisamente nenhum dos dois”.

“N�o sei se quero ser t�o pretensioso a esse ponto”, diz Veras ao Estado de Minas. “Mas, de fato, o espet�culo est� entre o show de humor – mas n�o � s� um show de humor – e biodrama, porque falo muito da minha vida e das perdas que tive”, ressalta o artista.

Concebido durante a pandemia, no momento em que Veras cumpria isolamento social, “Voc�s foram maravilhosos” j� fez duas temporadas no Rio de Janeiro e outra no interior de S�o Paulo. No fim desta semana, estreia em Belo Horizonte com apresenta��es no pr�ximo s�bado (3/6) e no domingo (4/6), no Sesc Palladium.

O espet�culo mescla elementos da com�dia stand-up, da qual ele foi um dos pioneiros no Brasil, e drama. � bem verdade que no stand-up humoristas fazem algo parecido. Transformam em roteiro situa��es e epis�dios do pr�prio cotidiano. Afinal, o que “Voc�s foram maravilhosos” teria de diferente a ponto de ser considerado singular?

A pe�a leva a pessoa do riso � emo��o, responde Veras. � uma esp�cie de terapia coletiva, explica, observando que epis�dios cotidianos, curiosidades de sua vida p�blica e sua pr�pria intimidade s�o compartilhados com o p�blico.

Paternidade, m�e e perdas

Est�o no roteiro, por exemplo, temas como a paternidade recente (ele tem um filho de 2 anos, fruto do casamento com a atriz Rosanne Mulholland), causos da m�e, dona Terezinha, e as mortes repentinas do pai e da irm� mais nova, eventos tr�gicos separados por apenas nove meses.

“Meu pai se aposentou e resolveu tirar f�rias no Cear� para matar a saudade da terra natal dele. Num determinado momento, pegou pneumonia grave, entrou em coma induzido e morreu. Nove meses depois, minha irm� teve aneurisma tomando banho e foi fatal. Morreu com 33 anos”, lembra Veras. “J� tem 13, 14 anos. Hoje consigo falar disso de uma forma mais tranquila.”

S�o hist�rias com as quais o p�blico se identifica. “Afinal, quem nunca perdeu algum ente querido? Quem n�o tem casos engra�ados da pr�pria fam�lia? Ou, ainda, quem � que nunca passou por situa��es constrangedoras no trabalho?”, questiona o ator.
 
Fátima Bernardes e o humorista Marcos Veras, vestido como Fatima Bernardes, no programa Encontro, da Globo

Marcos Veras se "transformou" em F�tima Bernardes, durante o programa "Encontro", no dia do anives�rio da apresentadora

Globo/reprodu��o
 

Veras n�o se esquece do epis�dio que ocorreu quando ele trabalhava no programa “Encontro com F�tima Bernardes”, da TV Globo. Era uma esp�cie de bra�o direito da jornalista – participava das entrevistas e, eventualmente, de algumas mat�rias.

Certa vez, no dia do anivers�rio de F�tima, Veras resolveu pregar uma pe�a na apresentadora. Disse que n�o poderia participar do programa, mas apareceu de surpresa, entrando ao vivo, com um vestido de F�tima Bernardes.

A jornalista ficou chateada. N�o com a imita��o, mas com a maneira como Veras deixou o vestido preferido dela. “Todo esgar�ado”, lembra o ator. “Na �poca, eu estava muito inchado de pegar avi�o daqui pra l� e de l� pra c�”.

Veras deixou o programa em 2015, depois de entrar ao vivo todos os dias da semana, por tr�s anos seguidos. Mesmo assim, ainda h� quem o encontre na rua e diga: “Te vejo todos os dias l� no ‘Encontro’. Gosto muito!”.

Muita gente o chama de Lair Renn�, que, assim como ele, trabalhou no “Encontro”, mas hoje est� na TV Record. Essas gafes fazem parte do mon�logo autobiogr�fico do ator.
 

'N�o h� sacanagem com ningu�m, sabe? Chamo a pessoa de maneira muito respeitosa, carinhosa e espont�nea (para o palco), porque a plateia � a grande parceira do espet�culo. Nunca uso as pessoas para fazer esc�rnio ou criar constrangimento'

Marcos Veras, ator

 

Parceria com a plateia

Expor a pr�pria vida para desconhecidos � uma tarefa dif�cil e corajosa. Veras se fia na plateia para ganhar autoconfian�a. Em determinado momento, convida algu�m para subir ao palco, deitar no div� instalado no cen�rio e contar alguma hist�ria que queira compartilhar.

“A plateia protagoniza o espet�culo comigo. Estou ali sozinho no palco, mas no momento que chamo de terapia coletiva, vem uma pessoa, sobe de maneira espont�nea e fala das coisas mais �ntimas, que talvez n�o falaria nem para um amigo”, conta Veras.

Ao longo das temporadas no Rio e em S�o Paulo, o ator ouviu diversas hist�rias marcantes. Uma delas veio da mo�a que disse se dar bem com o pai, mas n�o com a m�e. Depois de ouvi-la contar os motivos dessa rela��o turbulenta, Veras perguntou � espectadora o que diria para a m�e caso, caso ela estivesse ali no teatro.

“Ela me respondeu: ‘Perguntaria por que ela fez tudo o que fez’”, relembra o ator. “� uma porrada que tira a gente do prumo, n�? Quando acontecem coisas desse tipo, encerramos a terapia coletiva, porque vai para um foro muito mais �ntimo”, explica.

Contudo, h� momentos divertidos. “Teve um cara cabeludo que subiu ao palco e, quando perguntei qual era o maior medo dele, esperei que dissesse qualquer coisa que costuma dar medo, como morte ou outro tipo de perda. A resposta pegou todo mundo de surpresa. Ele disse que seu maior medo era ficar careca”, diverte-se o ator.

“N�o h� sacanagem com ningu�m, sabe?”, ressalta Veras. “Chamo a pessoa de maneira muito respeitosa, carinhosa e espont�nea, porque a plateia � a grande parceira do espet�culo. Nunca uso as pessoas para fazer esc�rnio ou criar constrangimento. Se a pessoa pagou ingresso, se arrumou, saiu de casa para assistir a um espet�culo, ela n�o tem de ser alvo de nada”, enfatiza.

Piadas antitristeza

O importante � fazer o p�blico rir, explica. Afinal, n�o h� nada mais gratificante do que receber o retorno de f� dizendo que estava em um momento de tristeza, mas melhorou por causa da piada que ele contou.
 
Paralelamente � turn� de “Voc�s foram maravilhosos”, Veras est� no ar em “Vai na f�”, novela da Globo. Faz o papel de Simas, dono de bar de 40 anos e esp�rito jovem, que namora mo�a vinte anos mais nova.

O ator tamb�m est� se preparando para gravar o longa “Amor na contram�o”, de Homero Olivetto, com roteiro de Ana Reber. O filme ainda n�o tem previs�o de estreia.

“VOC�S FORAM MARAVILHOSOS”

• Mon�logo de Marcos Veras
• No pr�ximo s�bado (3/6), �s 21h, e domingo (4/6), �s 19h
• Sesc Palladium, Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro
• Inteira: R$ 90 (plateia 1) e R$ 70 (plateia 2), na bilheteria do teatro ou pelo site do Sympla. Meia-entrada na forma da lei
• Informa��es: (31) 3270-8100