Solo com mulher-cigarra questiona as engrenagens do patriarcado
Atriz Juliana Birchal protagoniza "Subterr�nea: uma f�bula grotesca", que estreia nesta sexta (16/6) em BH e faz minitemporada at� domingo, no Sesc Palladium
Juliana Birchal trouxe suas reflex�es sobre o conservadorismo para a pe�a 'Subterr�nea: uma f�bula grotesca'
Vitor Vieira/Divulga��o
Alice v� um coelho branco vestido de terno e carregando um rel�gio de bolso na m�o; desacreditada do que v�, segue o animal e mergulha em um buraco. Depois de uma longa queda, a menina chega em um universo de sonhos, com personagens e cen�rios emblem�ticos.
O cl�ssico infantil de Lewis Carroll, pseud�nimo do romancista ingl�s Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898), constr�i uma narrativa que n�o segue as regras da l�gica e com acontecimentos repletos de absurdos. Originalmente, o manuscrito da obra lan�ada em 1865 tinha o t�tulo de “As aventuras de Alice no reino subterr�neo”.
Foi a partir da imagem do subterr�neo que a atriz Juliana Birchal decidiu criar o solo que ela estreia nesta sexta-feira (16/6) em Belo Horizonte. “Subterr�nea: uma f�bula grotesca” fica em cartaz at� domingo, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium.
Pandemia e Bolsonaro
Confinada dentro de casa devido � pandemia, a atriz conta que se movimentar dentro de seu est�dio foi a maneira que encontrou para conseguir sobreviver �quele per�odo de crise sanit�ria. “Essa palavra (subterr�neo) ficou martelando na minha cabe�a, ela insistia em aparecer. Ent�o decidi criar um solo sobre isso”, afirma.
Segundo Juliana, a pe�a reflete os pensamentos que teve e as ang�stias que sentiu durante a gest�o Bolsonaro. As incertezas causadas pelo contexto pol�tico e social brasileiro somadas �s inspira��es originadas pela pesquisa da atriz sobre a obra "Alice no Pa�s das Maravilhas" despertaram nela o desejo de se expressar por meio do teatro.
Iniciado em 2020, o processo de cria��o foi conclu�do tr�s anos depois. “Comecei com a ideia do subterr�neo, tentando cavar um pouco mais fundo, para saber de onde veio essa onda do conservadorismo que emergiu nos �ltimos anos. Por um tempo eu achei que esse movimento j� estava superado, mas ele veio com tudo, mostrando que o nosso pa�s ainda tem muita dificuldade em mexer nas estruturas sociais”, diz Juliana.
No meio do processo, Juliana entrou no mestrado em Artes C�nicas, pela Escola de Comunica��es e Artes da USP, para estudar o uso de m�scaras no teatro. Nesse momento, ela sentiu a necessidade de ter algu�m para participar da dire��o do solo e fez o convite a Lenine Martins.
Tendo como ponto de partida o conservadorismo, Juliana e Lenine passaram a trabalhar em volta de um recorte: o papel da mulher na sociedade. Em cena, Juliana Birchal interpreta uma mulher-cigarra, extremamente conservadora. A pe�a segue a trajet�ria dessa personagem que, pelo bem da esp�cie, tenta se encaixar nos moldes e obriga��es impostas a ela pelo sistema patriarcal.
Ela se casa, cuida dos filhos e do lar e, assim, passa a ser uma das engrenagens da estrutura. “A escolha de representar essa mulher foi pensando em trazer uma figura d�bia. Ao mesmo tempo em que ela � v�tima, ela tamb�m perpetua esse sistema machista, seja por falta de consci�ncia ou de informa��o”, pontua a atriz.
Em alguns momentos mulher, em outros cigarra, a imagem de um lugar onde o pior de cada um se esconde � exposta por meio de uma met�fora sobre esse inseto. Isto porque algumas cigarras s�o capazes de invadir planta��es embaixo da terra, sugando a seiva das plantas e trazendo grandes preju�zos �s lavouras.
“A imagem de uma parte sombria que fica escondida, para mim, evocou esse movimento que n�s presenciamos. De repente, a gente se assusta e fala: como chegamos aqui?”, questiona Birchal.
Nas palavras da atriz, o p�blico vai ver uma f�bula que n�o � para crian�as. “O espet�culo tem muitos jogos sonoros e visuais. A hist�ria dessa mulher-cigarra tem momentos que s�o c�micos e outros que s�o mais tensos. O p�blico vai acompanhando a trajet�ria de vida dela a partir do atravessamento de outras figuras”, conta.
“SUBTERR�NEA: UMA F�BULA GROTESCA”
Solo de Juliana Birchal. Dire��o: Lenine Martins. Nesta sexta (16/6) e s�bado, �s 20h, e domingo (18/6), �s 19h, no Teatro de Bolso do Sesc Palladium (Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro). Ingressos: R$ 30 (inteira); meia social mediante a doa��o de 1kg de alimento n�o perec�vel.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora Silvana Arantes
*Para comentar, fa�a seu login ou assine