O cantor Paulinho da Viola no palco

Batucando uma caixa de f�sforos, o cantor e compositor abriu a apresenta��o do �ltimo s�bado com a in�dita "Ele", homenagem ao samba e � figura do compositor

T�lio Santos/EM/D.A.Press

Paulinho da Viola � pura eleg�ncia. Aos 80 anos, que completou em novembro do ano passado, esbanjou simpatia e serenidade no show que fez no �ltimo s�bado (1/7), no Arena Hall, em Belo Horizonte, pela turn� em comemora��o � efem�ride.

No palco, entregou o que prometeu: a s�ntese dos seus 58 anos de carreira, apresentando can��es dos seus 20 discos e contextualizando a origem de alguns de seus sucessos.

A apresenta��o, marcada para come�ar �s 22h, teve um pequeno atraso de 10 minutos. O p�blico se manteve animado do in�cio ao fim - houve, inclusive, quem abandonasse os assentos para cair no samba.

Sozinho, batucando apenas em uma caixa de f�sforo, Paulinho come�ou o show com a can��o in�dita “Ele”. “N�o � nem mais uma can��o in�dita, porque eu venho apresentando ela em todos os shows dessa turn�”, brincou o m�sico.



O samba-can��o � um retrato melanc�lico do sambista apaixonado, um alter ego, talvez, do pr�prio compositor. “Anda triste, tenta esquecer o passado / Pede a viola, um sol maior, por favor, / Mas n�o consegue falar mal desse amor”, cantou Paulinho.


“Samba na madrugada” 

Na sequ�ncia, a banda composta por Adriano Souza (piano), M�rio S�ve (sopros e teclado), Dininho Silva (baixo), Ricardo Costa (bateria), Esguleba (percuss�o) e Celsinho Silva (viol�o) se juntou ao sambista para tocar “Samba original”, de Elton Medeiros e Z� Keti. A can��o foi gravada por Paulinho em seu disco de estreia, "Samba na madrugada" (1966), em parceria com o pr�prio Medeiros.

O repert�rio n�o seguiu a ordem cronol�gica dos discos. “Acontece”, por exemplo, lan�ada no disco “A dan�a da solid�o”, de 1972, veio antes do hit “Foi um rio que passou em minha vida”, do �lbum hom�nimo, de 1970.



Sobre “Acontece”, Paulinho contou um curioso caso a respeito da origem da m�sica. “Ela � de um compositor que n�s amamos, o Cartola, que fez para que uma cantora, que tamb�m todos n�s amamos, gravar. Mas ela n�o quis por alguma raz�o. E acabou que a m�sica ficou por um bom tempo guardada”, disse, sem revelar quem foi a cantora que desdenhou da can��o.

“Depois de tocar Cartola, vamos de Lupic�nio (Rodrigues)”, disse Paulinho, antes de come�ar “Nervos de a�o”, gravada por ele no disco de mesmo nome, lan�ado em 1973.

Ora no viol�o, ora no cavaco e ora sem tocar nenhum instrumento, o portelense fez um show de uma hora e meia de dura��o sem grandes contratempos - talvez a �nica exce��o tenha sido uma pessoa mais exaltada, que, sem motivo, gritou “Mangueira”, da plateia. 

Entre as m�sicas de sua pr�pria autoria, o sambista cantou os cl�ssicos "Dan�a da solid�o"; “Cora��o leviano”, “Foi um rio que passou em minha vida”, apresentada durante o bis, e “Timoneiro”, composta com Herm�nio Bello de Carvalho.

Em “Bebadosamba”, prestou as tradicionais homenagens aos cerca de 40 “irm�os de samba”, mas abriu espa�o para inserir nomes como Clementina de Jesus e Elza Soares, morta em janeiro do ano passado. Foi Elza, inclusive, quem defendeu a m�sica “Sei l� Mangueira”, de Herm�nio Bello de Carvalho e Paulinho da Viola, no  IV Festival de M�sica Brasileira da Record, em 1968.


Sufoco 

“Eu passei um sufoco com essa m�sica”, revelou o artista. “O poeta Herm�nio Bello de Carvalho tinha feito um passeio pelo Morro da Mangueira com o Cartola e o Carlos Cacha�a, e ficou encantado com tudo o que viu. Ent�o, ele decidiu montar um musical sobre a Mangueira e me chamou at� a casa dele para mostrar as letras que j� tinha feito. Fiquei maravilhado com aqueles versos ‘Vista assim do alto / Mais parece um c�u no ch�o’”, continuou.

Quando Herm�nio saiu da sala para preparar um caf�, lembrou Paulinho, o sambista pegou o viol�o que o amigo tinha em casa e comp�s a melodia para encaixar aqueles versos. “Foi coisa de 15 minutos”, relembrou.

Herm�nio, contudo, n�o levou adiante a ideia do musical e resolveu inscrever a can��o num festival de m�sica de S�o Paulo, dando os devidos cr�ditos a Paulinho da Viola. Por azar do compositor portelense, a m�sica foi selecionada para disputar o primeiro lugar. 

“Eu fiquei desesperado com aquilo, porque eu era da Portela e n�o tinha falado com ningu�m de l� que eu tinha feito uma m�sica em exalta��o � Mangueira. Fui para S�o Paulo pedir que retirassem a can��o da semifinal, mas me disseram que n�o daria, porque, se fizessem isso, teriam que ouvir mais uma centena de m�sicas inscritas para escolherem a substituta. Quando voltei para a Portela, o pessoal n�o me disse nada, mas ficou me olhando com cara fechada. Foi at� melhor, porque eu pensei que ia tomar uns cascudos”, brincou o m�sico.

Ao tocar “Sei l� Mangueira”, a ilumina��o do show, predominantemente azul e branca em refer�ncia � Portela, ficou verde e rosa durante a interpreta��o do sambista, em homenagem � escola de samba que ele chama de irm�.

N�o faltaram homenagens � Portela, claro. Al�m da ilumina��o e da apresenta��o da j� citada “Foi um rio que passou em minha vida”, ele interpretou “Passado de Gl�ria", de Monarco, e "Esta Melodia", de Bubu da Portela e Jamel�o.

“Aposto que ningu�m conhece o Bubu. Mas ele � um importante nome da Velha Guarda da Portela e um grande sambista”, explicou Paulinho.

Depois do bis, com a mesma serenidade e eleg�ncia que subiu ao palco, Paulinho se levantou, agradeceu ao p�blico e foi embora, ouvindo ainda gritos de “mais um”.