Cantora fez muito sucesso nos anos 50, 60 e 70; aqui, a cantora em 2004, quando completava 23 anos sem gravar disco s� dela
“D�ris Monteiro – 65 anos de muita bossa.” O nome deste show de 2016 fala, de forma eloquente, do papel da cantora, morta ontem, como precursora do grande movimento da m�sica brasileira no s�culo 20.
Com sua “voz pequena”, segundo ela mesma definia, interpretando coisas “mais mexidinhas”, como sugerira a ela o compositor Billy Blanco, j� cantava no estilo da Bossa Nova em 1957, quando gravou “Mocinho bonito”, de autoria de Blanco, a m�sica mais tocada nas r�dios brasileiras naquele ano. “O encontro”, espet�culo com Jo�o Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes que marcou o in�cio da Bossa Nova, s� aconteceria cinco anos depois.
Doris estreou em 1949, aos 16 anos, na R�dio Nacional, no programa de imita��es “Papel carbono”, de Renato Murce. Em um tempo de vozeir�es e arroubos de interpreta��o, o apresentador n�o soube sugerir uma cantora que a menina, com a sua voz peculiar, pudesse imitar.
A m�e lembrou Lucienne Delyle, int�rprete das delicadas can��es francesas da �poca. Foi assim que, vencendo a competi��o com “Bol�ro”, de Paul Durand e Henru Contet, Monteiro passou de caloura a contratada pela R�dio Nacional, onde permaneceu por mais de dois anos.
Seu primeiro disco, “Todam�rica”, lan�ado em 1951, com a can��o “Se voc� se importasse”, de Peterpan, fez enorme sucesso. Da R�dio Nacional, ap�s breve passagem pela R�dio Guanabara, a cantora foi para a TV Tupi, onde permaneceu por mais sete anos. Na nova emissora, perdeu o Adelina do nome e viveu seu apogeu. Contratada pelo Copacabana Palace, cantava em franc�s e ingl�s.
Estrela de cinema
Estreou no cinema em 1953, em “Agulha no palheiro”, de Alex Viany. Faria mais sete filmes, incluindo o premiado “De vento em popa”, de Carlos Manga, lan�ado em 1957. Na TV Tupi, ganhou um programa com o seu nome. Depois, voltou para a R�dio Nacional.
Ao longo da carreira, ela gravou mais de 60 �lbuns de repert�rio, a maioria pela Odeon, e participou em colet�neas e reedi��es posteriores. Alguns de seus maiores sucessos, al�m de “Mocinho bonito”, foram “Mudando de conversa”, composta por Maur�cio Tapaj�s e Herm�nio de Carvalho, “Conversa de botequim”, de Noel Rosa, e “D�-r�-mi”, de Fernando C�sar e Nazareno de Brito.
Nascida no Rio de Janeiro, em 23 de outubro de 1934, filha de Gl�ria Monteiro Murta, portuguesa que trabalhava como empregada dom�stica, Adelina Doris Monteiro nunca conheceu o pai biol�gico. Foi adotada pelo casal portugu�s Ana Maria e L�zaro Cordeiro.
Ana Maria virou folclore nos bastidores do r�dio por estar o tempo todo acompanhando a filha que, ainda menina, despontava para o sucesso. Mais tarde, D�ris conviveria bem com as duas fam�lias.
Seus romances seriam movimentados. O casamento, aos 18 anos, com um playboy capixaba, tendo Chacrinha como padrinho, foi capa da revista Manchete. Seis meses depois, ela estava separada.
Seu envolvimento com Alberto Bandeira, tenente da Aeron�utica, detento da penitenci�ria Lemos Brito, foi noticiado em 1955, depois de Monteiro cantar no pres�dio. Bandeira, condenado por um caso de homic�dio no Rio de Janeiro, senten�a posteriormente revogada, teria se apaixonado pela cantora, que, embora negasse o namoro, o visitou algumas vezes na pris�o.
Rainha do r�dio
Em 1956, coroada Rainha do R�dio, a imprensa creditou sua elei��o a um pretenso envolvimento amoroso com Assis Chateaubriand, que ordenara a compra intempestiva de centenas de milhares de exemplares da Revista do R�dio, que equivaliam a votos no certame.
Ruy Castro, no livro “A noite do meu bem”, justifica a a��o de Chat� por seu interesse de que pela primeira vez a R�dio Tupi, emissora dos Associados que comandava, emplacasse uma vencedora no concurso. E acrescenta que n�o haveria l�gica em o magnata esconder um romance com uma das mulheres mais belas e desejadas da �poca.
Em depoimento a Maria Luisa Hupfer para o livro “As rainhas do r�dio”, a cantora minimizou n�o s� o papel do jornalista no epis�dio, como tamb�m a import�ncia do certame. “Esse concurso n�o tinha o menor valor art�stico”, afirmou.
Monteiro n�o teve filhos. Na d�cada de 1970, casou-se com o tecladista Ricardo J�nior. Em 1990, fizeram uma turn� pelo Jap�o a convite de Lisa Ono. Em 2009, Ricardo J�nior acompanhou Monteiro e Billy Blanco no antol�gico reencontro dos dois precursores da Bossa Nova, que excursionou por capitais do pa�s.
O casamento e a parceria art�stica duraram mais de 40 anos, s� terminando com a morte do m�sico, em mar�o de 2017. Em julho do mesmo ano, Monteiro voltou, acompanhada pelo pianista Jo�o Cortez, ao palco do Beco das Garrafas, no Rio. Aos 83 anos, cantou, com sua voz cheia de ginga, os grandes sucessos de sua carreira.
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