Cientista político Thomás Zicman de Barros participa do ciclo de debates filosóficos 'Mutações' nesta segunda, cujo tema é  'A transgressão e o populismo - ou a defesa do trans-populismo'

Cientista pol�tico Thom�s Zicman de Barros participa do ciclo "Muta��es" nesta segunda, cujo tema � "A transgress�o e o populismo - ou a defesa do trans-populismo"

F�bio Setimio / divulga��o

As leituras poss�veis sobre o populismo – conceito-chave presente no debate pol�tico atual – guiam a edi��o do projeto Sempre um Papo desta segunda-feira (7/8), que recebe o cientista pol�tico Thom�s Zicman de Barros. O evento, que � parte do ciclo de debates filos�ficos “Muta��es” e ser� realizado �s 19h30, na Biblioteca P�blica Estadual de Minas Gerais, tem como tema “A transgress�o e o populismo – ou a defesa do trans-populismo”.

Coautor do livro “Do que falamos quando falamos de populismo”, ao lado de Miguel Lago, Barros vai abordar os diferentes significados atribu�dos ao termo ao longo da hist�ria, com foco na contemporaneidade. Ele adianta que, no debate de logo mais, pretende ir um pouco al�m do conte�do da obra lan�ada no ano passado, fazendo um paralelo entre o populismo e o pensamento filos�fico do s�culo 20, principalmente na Fran�a.
“Busco refinar ideias apresentadas de forma mais simples no livro”, diz. Esse refinamento se ancora nos trabalhos do escritor franc�s Georges Bataille (1897-1962) acerca da no��o de transgress�o. Ele observa que este � um dos tr�s tra�os do que seria o populismo.

 Al�m das fronteiras 

“Esses tr�s tra�os s�o a oposi��o discursiva entre o povo e as elites; o car�ter esteticamente transgressor do populismo, na medida em que rompe com o que pode e o que n�o pode na esfera pol�tica; e sua capacidade de transformar institui��es, entendendo-as como qualquer forma de regra de vida social. O que tento mostrar � que a transgress�o abarca os demais tra�os”, ressalta.
Al�m das fronteiras 
Zicman aponta que o “trans-populismo” que nomeia o debate � um jogo com o prefixo, que tanto diz respeito a transpassar, cruzar limites, quanto � condi��o de transg�nero, que vai al�m das fronteiras que estabelecem o masculino e o feminino, que questiona essas identidades.
“Busco estabelecer um paralelo entre o populismo esteticamente transgressivo, que muda as coordenadas do que � estabelecido e normatizado na pol�tica, com os estudos de g�nero, pensando no que seria o populismo democr�tico e o populismo reacion�rio”, diz.

Ele observa que, quando se procura definir o que seria o populismo na atualidade, experimentado como um mal-estar difuso e dif�cil de se conceituar, muito se fala sobre o apelo ao “povo”, em uma luta contra as “elites”. H�, no entanto, conforme destaca, algo a mais no populismo.

Barros chama a aten��o para o fato de que quando movimentos ditos populistas t�m l�deres, tratam-se de figuras que rompem com as normas estabelecidas que regulam como se comportar na pol�tica – em outras palavras, figuras transgressoras. Nesse contexto, Bataille surge como uma refer�ncia, em fun��o de seu conceito de heterogeneidade.

As exclus�es da heterogeneidade podem ser pensadas no sentido dos grupos que s�o frutos das rela��es sociais, mas n�o conseguem ter uma express�o pol�tica, conforme aponta. “S�o aqueles que, quando falam, n�o conseguem ser entendidos, o que se aplica aos negros, �s mulheres, enfim, aos grupos que a gente chama de minorias, mesmo n�o sendo numericamente minorias”, pontua.

Democracia

 Ele destaca que a ideia de Bataille sobre tudo o que est� exclu�do se presta � reflex�o acerca dos setores que, por meio do populismo, reivindicam seu lugar na democracia. A diferen�a entre o populismo e o trans-populismo � que o primeiro nem sempre ser� democratizante, segundo Barros. O cientista pol�tico toma como exemplo a extrema-direita e o pensamento reacion�rio, que por muitos anos se reproduziram � margem da sociedade.

“Na �ltima d�cada, esses setores voltaram a ter voz, a ocupar espa�os, no Brasil e no mundo. Seus l�deres s�o transgressivos em seu estilo de ser, de se portar. Eles s�o malcomportados, e a audi�ncia a que se dirigem parece disposta a transgredir com as normas, mas, ao fazer isso, ela n�o quer incluir os setores exclu�dos, pelo contr�rio, quer reafirmar as estruturas de domina��o”, explana.

Colapso

 Ele enxerga na contemporaneidade um mundo que se desencanta, que colapsa, e em fun��o disso as pessoas partem em busca de outras fontes de respostas, de solu��es. “A democracia liberal, como se estruturou nos �ltimos 30 anos, n�o responde a essas ang�stias”, observa.

Houve, a seu ver, uma homogeneiza��o do espa�o p�blico. “Os partidos de esquerda e de direita come�aram a ficar cada vez mais parecidos, ficou dif�cil distinguir o que � pol�tica econ�mica de esquerda e de direita. Fala-se em p�s-democracia, onde n�o h� muito espa�o para a transgress�o, para o questionamento, para o conflito pol�tico, e a democracia s� existe no campo do conflito pol�tico”, pontua.

Ele diz que o populismo, com a for�a transgressiva que traz consigo, tenta apresentar uma resposta, nem sempre satisfat�ria, para as insufici�ncias da democracia. “A promessa de romper com as coisas estabelecidas mobiliza paix�es, e assim consegue prover respostas. Existem os populismos emancipadores, o que a gente defende como trans-populismo, e o populismo reacion�rio, que lida com sentimentos como o �dio e o ressentimento”, destaca.


SEMPRE UM PAPO – “MUTA��ES”
Com Thom�s Zicman de Barros, nesta segunda-feira (7/8), �s 19h30, no Teatro Jos� Aparecido de Oliveira, da Biblioteca P�blica Estadual (Pra�a da Liberdade, 21). Gratuito, mediante retirada de ingressos pelo site do Sympla