foto de crianças deitadas em círculo sorrindo, feita por Rafael Freire

O trabalho que o fot�grafo Rafael Freire desenvolve no Aglomerado da Serra ser� tema de exposi��o no festival

Rafael Freire/Divulga��o

Que a favela vem ocupando cada vez mais espa�o no cen�rio art�stico, n�o h� d�vidas. Na m�sica, o funk e o rap (com seus respectivos subg�neros), que at� pouco tempo atr�s eram escanteados e mesmo criminalizados, tornaram-se mainstreaming no Brasil.

Em grandes festivais, os headliners t�m sido artistas que vieram da cultura do gueto, como 50 Cent (no Planeta Brasil do ano passado) e Emicida (na edi��o 2022 do Festival Sarar�) – s� para ficar em dois exemplos de grandes festivais da capital mineira.

No cen�rio hip hop, a cidade � destaque por causa de nomes como Djonga, Douglas Din, FBC, Sidoka, Iza Sabino, Laura Sette, Paige, entre outros rappers.

No cinema, os diretores Andr� Novais, Gabriel Martins e Maur�lio Martins e o produtor Thiago Mac�do Correia, da produtora Filmes de Pl�stico, de Contagem, levam para as telonas conflitos e dramas de quem vive na periferia.

Na dan�a, o grupo Favelinha Dance, do Aglomerado da Serra, ganhou destaque na cena art�stico-cultural. E, nas artes pl�sticas, grafites foram incorporados nas laterais de grandes pr�dios do Centro.

� nessa tend�ncia de valoriza��o dos artistas da periferia de Belo Horizonte que o DJ Grabs, de 24 anos, natural do Morro do Nova Cachoeirinha, idealizou no ano passado, com um grupo de amigos, o festival Toca na Favela. 

Em 2022, o evento contou com um dia inteiro de programa��o, que reuniu artistas perif�ricos na Pra�a de Corridas e Caminhadas Celso Mello de Azevedo, no bairro Nova Cachoeirinha.

Favela na Pra�a da Liberdade

A partir desta quinta-feira (10/8), tem in�cio a segunda edi��o do Toca na Favela, com programa��o ampliada e atividades agendadas para o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB-BH), na Pra�a da Liberdade, at� o pr�ximo dia 20. Haver� exposi��es de pinturas e fotografias, workshops, resid�ncia em dan�a, mesas-redondas e shows com, entre outros, o grupo de samba Manzo N‘gunzo Kaiango, as rappers Iza Sabino e Laura Sette, e o funkeiro MC Dod�.

“O Toca na Favela surgiu com meu inc�modo pela falta de acesso das pessoas de quebrada nos festivais”, conta Grabs. “Eu ia nesses festivais, via pessoas pretas no palco, mas n�o na plateia. Muitas n�o iam porque n�o podiam comprar o ingresso, ou porque o consumo dentro desses festivais era muito caro, ou mesmo por quest�o de mobilidade e log�stica, porque esses eventos eram feitos longe da periferia. Isso me incomodava muito”, destaca.

A ideia, ent�o, foi criar uma “experi�ncia honesta” para os moradores da favela, conforme Grabs faz quest�o de frisar. Ou seja, criar um evento feito por quem � da periferia e que contemple a cultura perif�rica. “O festival nasce dessa falta de acesso, mas a gente n�o vem para falar disso, e sim de coisa boa, celebrar a nossa cultura, o ber�o cultural do nosso pa�s, que � a favela”, diz.

'O Toca na Favela surgiu com meu inc�modo pela falta de acesso das pessoas de quebrada nos festivais. Eu ia nesses festivais, via pessoas pretas no palco, mas n�o na plateia. Muitas n�o iam porque n�o podiam comprar o ingresso, ou porque o consumo dentro desses festivais era muito caro, ou mesmo por quest�o de mobilidade e log�stica, porque esses eventos eram feitos longe da periferia. Isso me incomodava muito'

Grabs, idealizador do festival


B�n��o especial

A abertura do evento ser� com ritual de b�n��o protagonizado por Mametu Muiand�, sacerdotisa da umbanda e lideran�a da comunidade quilombola Kilombu Manzo Ngunzo Kaiango. Ela vai percorrer os corredores do CCBB junto da equipe do festival, no intuito de abrir os caminhos e os trabalhos do evento.

 

Na sequ�ncia, o grupo de samba Manzo N‘gunzo Kaiango apresenta no p�tio do CCBB cl�ssicos de Toninho Gerais, Arlindo Cruz, Clara Nunes e composi��es autorais.
 

Na sexta (11/8), a economia criativa como transforma��o social � tema da mesa Deixa Eu Te Dar Uma Ideia, com o artista carioca Maxwell Alexandre e Ana Cec�lia Assis, curadora do Toca na Favela. Iza Sabino, encerra a programa��o do dia, com show no teatro.
 
“Acho muito importante a gente conquistar esses espa�os culturais. Ainda mais na Pra�a da Liberdade, t� ligado? Que � aquele lugar que via sempre como um ambiente frequentado por pessoas burguesas, aquelas senhorinhas que passeiam com um poodle dentro da bolsa”, diz Iza, rapper natural de Santa Luzia.

Para o show desta sexta, ela pretende fazer um apanhado da pr�pria carreira, com m�sicas dos discos "Gl�ria" (2020), "Trono de vidro" (2021) e "Amar d�i" (2023). “Eu penso, �s vezes, em cantar algumas m�sicas de ‘Augusta’ (�lbum de estreia da cantora, lan�ado em 2019), mas fico assim meio com receio de n�o lembrar as letras”, diz Iza.
 
 

“Marte Um”

A programa��o continua no s�bado (12/8) com os workshops de cria��o de conte�do com o multiartista Felipe Viana e de mixagem e pesquisa musical com Marta Supernova. Em seguida, haver� sess�o comentada de “Marte Um” com o diretor do longa, Gabriel Martins.

No domingo (13/8), os artistas Marciele Delduque, Filipe Thales, Janaina Damaceno e Kdu dos Anjos compartilham suas experi�ncias com empreendedorismo na mesa Vou Te Dar Um Papo. Haver� ainda, neste dia, debate com MC Martina sobre o processo de cria��o do livro "Nunca foi sorte, sempre foi poesia" e pocket show de Akin Zahin. A programa��o de domingo termina com a performance de dan�a de Suellen Sampaio e apresenta��o musical de DJ Princeznha da Paz.

Em todos os dias estar�o em cartaz as exposi��es de pintura da artista quilombola Ana Paula Sirino e de fotografias de Rafael Freire, natural do Aglomerado da Serra.

“Essa programa��o foi pensada com muito carinho e com uma pesquisa muito minuciosa da Ana Cec�lia Assis para que a gente pudesse contemplar o m�ximo de segmentos art�sticos poss�veis. Porque � isso, na favela tem todas essas artes”, afirma Grabs.
 

Na semana de 14 a 20 de agosto, a programa��o do Toca na Favela continua com mais workshops, resid�ncia de dan�a com Leo Garcia, performances de slam, shows com Laura Sette e MC Dod� (ambos em 19/8), lojinha com produtos personalizados do evento e espa�o gastron�mico. A programa��o completa est� dispon�vel no site do CCBB (ccbb.com.br/belo-horizonte/).

“Embora a gente conte com artistas de fora, a grande maioria � daqui, porque o Toca na Favela � um festival local. Ent�o tivemos esse cuidado de pensar em uma experi�ncia que pudesse fortalecer os artistas daqui, a nossa cena de BH, a cena das periferias da regi�o”, afirma Grabs. 

TOCA NA FAVELA

Exposi��es, workshops, resid�ncia em dan�a, mesas-redondas e shows que abordam a cultura da periferia. De 10 a 20 de agosto, no CCBB-BH (Pra�a da Liberdade, 450, Funcion�rios). Entrada franca, mediante retirada de ingressos na bilheteria ou pelo site do CCBB. Informa��es programa��o completa em (ccbb.com.br/belo-horizonte/).