Indígenas pertencentes ao projeto Vídeo nas Aldeias fazem filme

Projeto V�deo nas Aldeias '� a produ��o mais importante e expressiva de cinema no Acre', afirma o diretor S�rgio de Carvalho

Video nas Aldeias/divulga��o

Vit�ria – O Brasil � conhecido por sua riqueza cultural, mas, ainda assim, as salas de cinema refletem narrativas vindas, sobretudo, do exterior e do Sudeste.


“� importante desconcentrar os recursos, porque isso � uma repara��o hist�rica. O dinheiro do audiovisual sempre esteve concentrado no Sudeste”, disse o diretor e roteirista S�rgio de Carvalho durante o 1º Encontro Nacional de Gestores da Cultura, realizado em Vit�ria (ES).

O evento re�ne dirigentes p�blicos de todos os estados do pa�s para discutir as pol�ticas da �rea cultural. A iniciativa � realizada pelo F�rum Nacional de Secret�rios e Dirigentes Estaduais de Cultura e pelo F�rum Nacional de Secret�rios e Gestores de Cultura das Capitais e Munic�pios Associados.
 

'� uma ideia colonizadora querer levar coisas para a Amaz�nia, por exemplo. A gente acaba ignorando a produ��o que j� existe nesses territ�rios. Na realidade, � preciso ficar atento para o que est� acontecendo l�'

S�rgio de Carvalho, cineasta

 

Periferias amaz�nicas

Carvalho se notabilizou pelo filme “Noites alien�genas”, que ganhou os Kikitos de melhor filme do j�ri e de melhor filme da cr�tica no Festival de Gramado. O longa leva � tela um panorama da tomada das periferias que circundam a Amaz�nia pelo narcotr�fico, com fac��es que cooptam jovens para suas tropas e bancam o v�cio, que chega at� os povos origin�rios.

Carvalho diz ser importante ressignificar a ideia de descentralizar o cinema brasileiro. Isso porque, segundo ele, esse conceito parte do pressuposto de que n�o existe produ��o art�stica em lugares afastados das grandes capitais.

“� uma ideia colonizadora querer levar coisas para a Amaz�nia, por exemplo. A gente acaba ignorando a produ��o que j� existe nesses territ�rios. Na realidade, � preciso ficar atento para o que est� acontecendo l�.”

Como exemplo, ele cita projetos audiovisuais produzidos por comunidades ind�genas, como o programa V�deo nas Aldeias. Essa iniciativa foi criada em 1986 para fortalecer o cinema feito pelos povos origin�rios. “A produ��o mais importante e expressiva de cinema no Acre � fruto desse trabalho, que formou v�rios cineastas ind�genas de l�.”
 

Carvalho diz que, apesar da diversidade do audiovisual brasileiro, o que costuma ter destaque nas salas s�o filmes com apelo comercial, ou seja, aqueles que podem gerar mais lucro. Para ele, essa l�gica acaba sendo reproduzida pela Ancine, a Ag�ncia Nacional do Cinema.

“Penso que ela est� com uma vis�o mercadol�gica e n�o consegue ver o potencial da diversidade de produ��o do Brasil”, diz Carvalho, acrescentando que um pa�s sem cinema � como uma casa sem espelho. “A Ancine hoje s� reflete um espelho �nico do Brasil.”

'A diversidade de festivais � importante para a gente entender o que est� acontecendo no cinema nacional e ouvir o que est� sendo dito pelos v�rios brasis que existem dentro do territ�rio'

Zienhe Castro, realizadora do Festival Amaz�nia Doc.

 
A forma��o � outra dificuldade para profissionais que vivem fora do Sul e do Sudeste. Zienhe Castro, realizadora do Festival Amaz�nia Doc., disse que precisou sair do Par� para conseguir fazer faculdade de cinema. O estado n�o contava com curso na �rea.

“Fui embora buscar minha forma��o e comecei a ir a festivais, porque sei que determinadas obras eu s� conseguiria encontrar nesses espa�os. Elas n�o s�o exibidas em salas comerciais”, diz.

Por esse motivo, a cineasta considera importante valorizar os festivais de cinema, pois eles escoam uma produ��o que n�o tem espa�o no circuito comercial.

“A diversidade de festivais � importante para a gente entender o que est� acontecendo no cinema nacional e ouvir o que est� sendo dito pelos v�rios brasis que existem dentro do territ�rio”, defende.

TV Brasil reformula grade

A TV Brasil est� passando por mudan�a em sua grade justamente para refletir a diversidade cultural do pa�s. Antonia Pellegrino, diretora de conte�do e programa��o da Empresa Brasileira de Comunica��o (EBC), informa que 80% dos recursos da empresa para a aquisi��o de produtos foram usados em produ��es brasileiras.

“A gente tomou a decis�o estrat�gica e pol�tica de investir na produ��o nacional olhando para filmes que fazem o circuito de festivais, mas que acabam n�o tendo espa�o nas emissoras comerciais”, disse.

Antonia Pellegrino afirma que as gest�es anteriores priorizavam a compra de conte�dos estrangeiros, que, para ela, n�o refletem a realidade do pa�s.
 
“Temos agora a oportunidade de nos reconectarmos com o objetivo da comunica��o p�blica, que � formar cidadania e ter a regionalidade espelhada na tela”, declarou a diretora da EBC.