Academia Mineira de Letras se transforma na 'casa' de Clarice Lispector
Na exposi��o "La maison de Clarice", que abre nesta sexta (18/8), a escritora brasileira e as francesas Marguerite Duras e Nathalie Sarraute dividem os espa�os
Para uma exposi��o chamada “La maison de Clarice” (“A casa de Clarice”, em portugu�s), nada melhor do que ser montada precisamente… em uma casa. Assim pensaram Guiomar de Grammont, Vincent Zonca, L�o Le Berre e Roberto Pedretti, curadores da mostra em homenagem a Clarice Lispector (1920-1977), que entra em cartaz na Academia Mineira de Letras (AML) nesta sexta-feira (18/8) e segue at� 14 de outubro.
A sede da AML ocupa a antiga resid�ncia do m�dico Borges da Costa, casar�o constru�do na d�cada de 1920. A arquitetura do local, portanto, segue a mesma disposi��o de qualquer casa, com quartos, lavabos, copa e cozinha. O ambiente capta perfeitamente a ess�ncia da exposi��o, que � propor uma casa metaf�rica na qual Clarice se confraterniza com as escritoras francesas Marguerite Duras (1914-1996) e Nathalie Sarraute (1900-1999).
A rela��o das tr�s escritoras - por meio de trechos de correspond�ncias e fotos que os visitantes podem conferir - � o fio condutor da mostra, que foi apresentada pela primeira vez no Rio de Janeiro, em 2021, e chega � capital mineira depois de passar pela capital fluminense, Volta Redonda (RJ) e Bras�lia.
Reprodu��o de fotos e trechos de correspond�ncia comp�em a exposi��o, cuja visita��o � aberta �s sextas e s�bados, at� 14/10
Alexandre Guzanshe/EM.D.A.Press
Clarice Lispector
O insight para montar “La maison de Clarice” foi da escritora Guiomar de Grammont, em 2020, ano do centen�rio de nascimento de Clarice. Ela n�o queria, contudo, apresentar a “vers�o pop” da Clarice Lispector que todos conhecem, e sim uma vers�o n�o t�o conhecida da autora de “A hora da estrela”.
Assim, optou por abordar a rela��o de Clarice com a Fran�a e com as contempor�neas de of�cio francesas, Duras e Sarraute, nomes importantes do movimento Nouveau Roman, o chamado Novo Romance franc�s.
Com o apoio de Zonca, Le Berre e Pedretti, que s�o da Embaixada da Fran�a no Brasil, Guiomar fez um trabalho de levantamento de fotos, correspond�ncias e documentos que comp�em a exposi��o. Parte do acervo estava sob os cuidados do Instituto Moreira Salles e da Funda��o Casa de Ruy Barbosa.
“Esse trabalho come�ou com muita leitura sobre a Clarice”, diz a curadora. “Li as biografias e fui levantando esses materiais, escolhendo as cartas que eu queria que entrassem na mostra. A� eu fui vendo que havia muito mais coisas do que eu tinha imaginado. A Fran�a ocupou um papel central na vida da Clarice”, afirma.
O carinho que a escritora tinha com a Fran�a ia al�m das amizades que ele mantinha por l� - al�m de Duras e Sarraute, Clarice tinha rela��o muito pr�xima com o diplomata brasileiro no pa�s Santiago Dantas e com o casal Samuel e Bluma Weiner.
Rela��o com a Fran�a
Talvez fosse uma esp�cie de gratid�o que Clarice tinha com o pa�s europeu, pelo fato de a Fran�a ter sido o primeiro pa�s estrangeiro a publicar um romance seu (“Perto do cora��o selvagem” foi publicado l� em 1953, 10 anos depois de seu lan�amento no Brasil).
Al�m disso, havia tamb�m certa afinidade de Clarice com o Novo Romance, conforme destaca o presidente da AML, o professor Jacyntho Lins Brand�o.
“Acho que a gente tem que pensar que literatura � uma rede. Ou um sistema, com v�rias ramifica��es, conforme o Antonio C�ndido falou. Ent�o, mesmo que a gente fale de literatura nacional, as tend�ncias s�o internacionais”, ressalta o acad�mico.
“Assim, o tipo de literatura que a Clarice produziu tem rela��o com as francesas com quem ela se correspondia. � claro que a Clarice est� em um contexto brasileiro, com personagens brasileiros, mas ela est� fazendo uma coisa que tem uma abrang�ncia e impacto maiores”, observa.
Essa influ�ncia francesa est� na mostra, numa esp�cie de jogo metaf�rico. A expografia - por meio da concep��o art�stica de Val�ria Neno e designer gr�fico de Valter Fadel - prop�e ao visitante que fa�a links entre os c�modos da casa, os textos de Clarice e a rela��o deles com a Fran�a e o movimento liter�rio franc�s.
Na cozinha, por exemplo, h� refer�ncia ao processo criativo das escritoras e � forma como cada uma delas definia a escrita. J� nos quartos os visitantes encontram os textos mais �ntimos e confessionais das autoras.
No jardim, h� textos de Clarice sobre plantas e a vibra��o da natureza. E, por fim, na sala, um grande painel com representa��o de cada uma das escritoras sentadas � mesa, com textos mais leves, como se estivessem em confraterniza��o.
“La maison de Clarice” chega em um momento especial para a AML. “N�s temos o costume de fazer confer�ncias e cursos, e assim ficamos muito fixados nessa coisa de sala de aula. Acho que a exposi��o � um tipo de experi�ncia diferente para as pessoas, o que � fundamental, porque a Academia precisa da comunidade para sua exist�ncia ter sentido”, aponta Jacyntho Lins Brand�o.
“LA MAISON DE CLARICE”
• Exposi��o sobre a rela��o de Clarice Lispector com as escritoras Marguerite Duras e Nathalie Sarraute. •Na Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466, Lourdes). • Desta sexta-feira (18/8) a 14 de outubro, visita��o aberta �s sextas-feiras e s�bados, das 9h30 �s 17h30.
• Entrada franca. Retirada de ingressos via Sympla.
COL�QUIO GRATUITO
Como parte da mostra, a AML realizar� gratuitamente, em parceria com a Embaixada da Fran�a e a UFMG e apoio do F�rum das Letras e da Relic�rio Editora col�quio ao longo da manh� e da tarde deste s�bado (19/8) sobre a vida, a obra e a rela��o das escritoras Clarice Lispector, Nathalie Sarraute e Marguerite Duras.
Tamb�m ser� realizado, na pr�xima segunda-feira (21/8), o programa Educativo La Maison de Clarice, voltado para professores, estudantes, bibliotec�rios e mediadores de leitura. As inscri��es s�o gratuitas e podem ser feitas at� domingo (20/8) pelo site Sympla.
*Para comentar, fa�a seu login ou assine