o ator Denzel Washington volta a ser dirigido pelo cineasta Antoine Fuqua ("Dia de treinamento") no longa ambientado no Sul da It�lia
Sony/Divulga��o
N�o � muito bonito reconhecer, mas a viol�ncia no cinema � um prazer quase irresist�vel. Podemos sempre, � claro, intelectualizar essa sensa��o, falar em catarse ou recorrer a Freud, o que n�o deixa de ser verdade, mas soa muitas vezes como um golpe baixo para apaziguar nossa consci�ncia.
No fim das contas, desde que o cinema � cinema, � assim: a cada vez que algu�m saca um rev�lver na tela, nosso cora��o acelera um pouco mais. Essa experi�ncia j� resultou em grandes filmes – e tamb�m o fasc�nio que mesmo verdadeiras bombas exercem sobre n�s.
Sem ser uma coisa nem outra, "O protetor: Cap�tulo final" � um bom passatempo. Em tese, � o encerramento de uma trilogia, inspirada em "The equalizer", s�rie de TV dos anos 1980 em que Denzel Washington vive uma esp�cie de agente secreto aposentado, que se dedica a usar suas habilidades para proteger pessoas oprimidas por ladr�es.
Neste terceiro filme, logo no in�cio, vemos um homem com um machado enterrado na cabe�a. Estamos em uma vin�cola italiana, h� algo de ilegal relacionado aos vinhos, e de sa�da Robert McCall, o personagem de Denzel, j� matou ao menos uns 10 para descobrir do que se trata.
Saindo dali, contudo, acaba baleado por uma crian�a - e, embora enfrente in�meros assassinos, apenas esse garoto o fere de verdade.
Resgate
McCall � ent�o resgatado por um bom policial, que o leva a Altamonte, uma id�lica comunidade italiana de pessoas bonitas, bondosas e honestas. Rapidamente integrado, ele almeja ali esquecer as tantas mortes de seu passado. N�o vai conseguir, �bvio.
A comunidade � acossada por mafiosos, tamb�m envolvidos em tr�fico de drogas camuflado pela vin�cola do come�o da hist�ria, e McCall entrar� em a��o novamente, mesmo que ainda debilitado, para salvar seus novos amigos.
O drama nas telas de uma pequena comunidade ou de pessoas indefesas em geral atacadas por fac�noras � t�o antigo quanto o pr�prio cinema, recorrente desde os primeiros faroestes, e um dos motes mais comuns de filmes que exploram a viol�ncia.
Nos anos 1970, esse tipo de trama foi revitalizada no cinema na s�rie "Desejo de matar", com Charles Bronson, grande sucesso de bilheteria que escandalizou alguns grupos por apresentar um vigilante � margem da lei que ca�a criminosos de modo implac�vel.
No Brasil tivemos h� pouco "Bacurau", de 2019, outro filme-sensa��o, mas numa leitura mais � esquerda, digamos assim, em que estrangeiros s�o os malvados e uma cidade nordestina se defende por ela mesma, sem depender de salvadores externos.
Neles todos, quanto mais horripilantes os atos dos vil�es, sobretudo se cometidos contra crian�as ou idosos, mais vibramos com a desforra final dos her�is, um regozijo pouco sutil que ultrapassa distin��es pol�ticas e at� morais.
De fato, "O protetor" s� pulsa nos momentos em que McCall destro�a seus advers�rios, em cenas de viol�ncia brutal com um bom artesanato em enquadramento, ritmo e som por parte do diretor Antoine Fuqua, parceiro de longa data de Denzel.
"Som da liberdade"
Em "O protetor", todos os poderes oficiais – pol�cia, governo, seguridade social – s�o falhos, no melhor dos casos, ou corrompidos. S� restam como alento a retalia��o com as pr�prias m�os e os valores familiares e religiosos – o que parece tocar fundo as plateias de hoje, vide o sucesso surpresa da temporada, "Som da liberdade".
Men��es a Deus, santos, igrejas e milagres s�o constantes em "O protetor". Sem dar muitos spoilers, o confronto mais sangrento do filme � mostrado em paralelo a uma prociss�o. "O poderoso chef�o", de 1972, para citar um cl�ssico, j� se valeu de recurso similar – um batismo, no caso –, mas nele a viol�ncia, tamb�m chocante para a �poca, simbolizava a dana��o dos personagens e a fal�ncia moral daquela sociedade.
No caso de "O protetor", o banho de sangue parece mais um presente divino para purificar a encantadora vila italiana. A viol�ncia restaura a paz, sem traumas. Podemos nos opor racionalmente quando o filme acaba, mas � dif�cil n�o vibrar enquanto o vemos.
“O PROTETOR: CAP�TULO FINAL”
(EUA, 2023, 132 min.) Dire��o: Antoine Fuqua. Com Denzel Washington, Dakota Fanning, Eugenio Mastrandrea. Em cartaz no Cineart Boulevard, Cineart Ponteio, Cineart Via Shopping, Cineart Monte Carmo, Cineart Minas Shopping, Cinemark BH Shopping, Cinemark P�tio Savassi.
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