Sophie Charlotte como Gal Costa no filme Meu nome é Gal

Sophie Charlotte interpreta Gal Costa da chegada ao Rio de Janeiro ao estouro do show 'Fa-Tal'

Stella Carvalho/divulga��o
 

Quando come�aram a produzir a cinebiografia “Meu nome � Gal”, que estreia nesta quinta-feira (12/10) nas salas brasileiras, as diretoras L� Politi e Dandara Ferreira enfrentaram o seguinte dilema: como construir um filme sobre a estrela da MPB sem cair no �bvio?


A solu��o foi o recorte na vida da musa tropicalista, com �nfase nas d�cadas de 1960 e 1970. Em vez de abordar a inf�ncia de Gal Costa (interpretada por Sophie Charlotte) em Salvador, nos anos 1940 e 1950, e seus primeiros passos na m�sica, Dandara e L� optaram por iniciar a trama em 1964, quando Maria da Gra�a se mudou para o Rio de Janeiro.


“A gente pensou num recorte mais espec�fico para poder aprofundar as quest�es internas da personagem”, explica Dandara. “O que vemos ali � justamente a transforma��o da menina t�mida que participou de um movimento est�tico, cultural e pol�tico – a Tropic�lia –, enfrentou a ditadura, a moralidade, a misoginia e se transformou em voz pol�tica”, emenda.

Caetano, Gil e Solar da Fossa

Para esse desabrochar, dois personagens foram essenciais: Caetano Veloso e Gilberto Gil, interpretados por Rodrigo L�lis e Dan Ferreira. A dupla j� estava no Rio quando Maria da Gra�a chegou, aos 19 anos. Foi por interm�dio deles que a amiga foi morar no Solar da Fossa, casar�o que servia de ref�gio para jovens idealistas e talentosos que resistiam ao governo militar. Ali se abrigava “a loucura que a ditadura n�o consegue ver”, nas palavras de Caetano.


N�o foi f�cil convencer Maria da Gra�a a se tornar voz pol�tica naquele contexto de repress�o pol�tica – e isso o filme mostra com clareza. A jovem baiana parecia vir de um mundo completamente diferente. Sua timidez e acanhamento se mostravam mais evidentes diante do comportamento solto e desinibido de Caetano e Gil.


Caetano Veloso foi uma esp�cie de padrinho. Apresentou a amiga ao empres�rio Guilherme Ara�jo (Luis Lobianco), ajudou na escolha do nome art�stico Gal – at� ent�o, ela era apenas Gracinha – e participou do disco de seu LP de estreia, “Domingo” (1967), no qual os dois cantam Bossa Nova.


Embora generoso, Caetano era intransigente em pol�tica. Nas conversas com Gal sobre a ditadura militar, posicionava-se de maneira firme, pedindo a ela que tomasse partido.


“Fizemos um trabalho de muita pesquisa”, ressalta Dandara. “V�rias informa��es vieram do meu document�rio (“O nome dela � Gal”, de 2017), mas outras surgiram em conversas com amigos da Gal, com a pr�pria Gal e com pessoas que vivenciaram aquela �poca”, acrescenta.

 

Os atores Rodrigo Lélis e Sophie Charlotte como Caetano Veloso e Gal Costa

Os atores Rodrigo L�lis e Sophie Charlotte como Caetano Veloso e Gal Costa, na foto da capa do LP 'Domingo'

Stella Carvalho/divulga��o
 


Uma das maiores dificuldades das diretoras foi descobrir como a t�mida Gracinha, rec�m-chegada ao Rio de Janeiro, falava e se comportava.


“N�o h� muitos registros em audiovisual dela no in�cio de carreira. O que a gente tem da Gal falando j� � de um per�odo mais avan�ado, depois do show 'Fa-Tal – Gal a todo vapor'. Ent�o, houve uma esp�cie de lacuna para a cria��o da pr�pria personagem”, afirma Sophie Charlotte. “Fa-Tal” estreou em 1971.


A lacuna deu � atriz liberdade de investiga��o e cria��o, o que ela fez com maestria. “Pensei: como seria a voz de uma pessoa nas rela��es mais �ntimas, nos momentos de fragilidade e incerteza? N�o queria me limitar � voz dela apenas no palco, e, sim, partir disso para criar o universo interno”, explica Sophie.

 

 


A mudan�a de comportamento de Gal ocorre em 1968, quando ela participa do 4º Festival da Can��o da TV Record e canta “Divino maravilhoso”, de Caetano e Gil. Inicialmente com receio de interpretar a m�sica pelo vi�s pol�tico, ela decide se posicionar, fazendo a performance considerada a “virada de chave” de sua carreira.


“Todas as transfer�ncias externas e internas motivaram essa mudan�a de personalidade, que se d� na apresenta��o de ‘Divino maravilhoso’. Nos anos seguintes, Gal j� se estabeleceu no lugar de voz pol�tica. Ela j� tem postura firme no palco como mulher, como artista”, destaca Dandara.

 

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O filme, no entanto, termina subitamente. Depois de apresentar “Divino maravilhoso” no festival, a cantora d� in�cio � turn� “Fa-tal”. O espectador, ent�o, se v� confuso. Quebra-se o clima diante do mosaico de imagens de diferentes shows de Gal nos �ltimos anos. N�o se sabe se as cenas indicam o final do longa ou se representam um recurso da dire��o para dar sequ�ncia � hist�ria da estrela da m�sica brasileira.

“MEU NOME � GAL”

(Brasil, 2023, 120min, de L� Politi e Dandara Ferreira, com Sophie Charlotte, Rodrigo L�lis e Dan Ferreira) – Estreia nesta quinta (12/10) no Cine Una Belas Artes, Centro Cultural Unimed-BH Minas e salas nos shoppings BH, Boulevard, Cidade, Contagem, DelRey, Diamond, Partage, P�tio Savassi e Ponteio.