Trio As Bahias e a Cozinha Mineira

Raquel Virg�nia, Assucena e Rafael Acerbi formaram um trio durante seis anos, mas encerraram a carreira de As Ba�as em 2021

Pedro Dimitrov

Lusco-fusco � o momento de transi��o entre o dia e a noite. O c�u avermelhado j� com lua e estrelas, no fim da tarde, traz beleza aos olhos e perigo ao voltante. Este � o nome do primeiro disco solo da baiana Assucena, que chega �s plataformas digitais nesta sexta-feira (29/9).

Ex-integrante da banda As Bahias e a Cozinha Mineira, que chegou ao fim em 2021, a cantora e compositora decidiu seguir carreira solo naquele mesmo ano. No show “Rio e tamb�m posso chorar”, com repert�rio formado por can��es de “Fa-tal – Gal a todo vapor” (1971), ela fez sua releitura do cl�ssico �lbum de Gal Costa.

A apresenta��o virou tributo depois da morte da cantora baiana, em novembro de 2022, ganhando o formato intimista de voz e viol�o.

“Estava com muita vontade de voltar aos palcos. At� porque, com o fim da banda, sa�mos do palco pela vida e retornamos pela vida tamb�m, n�o s� a nossa, mas da cultura”, explica.

Uma liga��o foi necess�ria para que Assucena produzisse seu �lbum solo: a cantora C�u, com quem ela divide a dire��o art�stica do novo trabalho. “Primeiro, o disco se chamaria ‘Reluzente’, uma das faixas. Ele veio de um sonho, no qual o amor surgiu em meio aos escombros, simbolizando o renascimento de uma artista com sua intensidade, desejos e vontades”, afirma.
 

Brasil vem de brasa, que, para mim, tamb�m � met�fora do lusco-fusco, porque a brasa � o momento de transi��o da chama

Assucena, cantora e compositora

 

Jogo po�tico

Ocaso, crep�sculo, anoitecer e amanhecer s�o formas de nomear o que Assucena define como “o jogo po�tico de cores do sol, quando a pupila n�o entende se vem a noite ou o dia”. N�o se trata apenas de fen�meno da natureza. “� tamb�m momento de muito misticismo, de espiritualidade para muitas religi�es, inclusive para a religi�o judaica”, diz.

Em seu disco solo, Assucena fala tamb�m sobre o lusco-fusco do pa�s. “Um Brasil que se extingue e que se acende. Brasil vem de brasa, que, para mim, tamb�m � met�fora do lusco-fusco, porque a brasa � o momento de transi��o da chama”, explica.

N�o se trata de um projeto exclusivamente pessoal. “Ao mesmo tempo em que o �lbum � sobre mim, � sobre n�s e a transmiss�o da vida. Sobre cura e os desafios do processo de pessoas trans em sua plenitude, porque quando acontece a transi��o, voc� deixa muitas coisas para tr�s. � uma nova vida. O processo � muito doloroso, mas necess�rio”, afirma ela, voz potente da comunidade transexual na arte.
 
 

Nas 10 faixas do disco, Assucena explora caminho est�tico que conversa com tradi��o e contemporaneidade, mesclando bai�o, MPB, funk, samba, reggae e rock.

A diversidade de refer�ncias faz parte de seu “eu art�stico”, explica. “Me considero filha da Tropic�lia e filha de Gal Costa, ela foi a artista que me pariu. Se voc� escuta um �lbum tropicalista dela e do Caetano, voc� vai ver diversos g�neros da m�sica interpretados numa linguagem espec�fica. Sou fruto desta escola de sonoridades profundas da MPB”,afirma.
 
 

Voz LGBTQIAP+

Assucena nasceu em Vit�ria da Conquista, na Bahia, em lar judaico. Cresceu ouvindo cl�ssicos da MPB, can��es baianas, cancioneiro hebraico e m�sica internacional, principalmente Whitney Houston.
 
Na juventude, cursou hist�ria na Universidade de S�o Paulo (USP). Na capital paulista, conheceu Raquel Virg�nia e Rafael Acerbi, com quem formou o trio As Bahias e A Cozinha Mineira.
 
As Bahias foi importante para dar voz � comunidade LGBTQIAP no Brasil. Assucena e Raquel s�o mulheres transexuais. O trio lan�ou os �lbuns “Bixa” (2017) e “Tar�ntula” (2019). Em 2020, os tr�s mudaram o nome para “As Ba�as” e, em setembro de 2021, o trio chegou ao fim.
 
“Banda � sempre interse��o de ideias e de vontade. Enquanto estamos falando a mesma l�ngua, est� muito bom, mas quando come�am a haver conflitos criativos, � hora de terminar em paz”, diz Assucena.

“LUSCO-FUSCO”

• �lbum solo de Assucena
• 10 faixas
• Dispon�vel nas plataformas digitais
 
* Estagi�ria sob supervis�o da editora-assistente �ngela Faria