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Estado de Minas DEGUSTA

Aulas de gastronomia unem mulheres ao redor da mesa em Nova Lima

Silvana Zulkiewicz Loureiro abre as portas da sua casa, sempre atenta aos detalhes, para quatro grupos de alunas por m�s


postado em 19/01/2020 04:00 / atualizado em 26/01/2020 13:28

Bochecha de porco braseada com polenta, cogumelos e couve frita(foto: Arquivo pessoal)
Bochecha de porco braseada com polenta, cogumelos e couve frita (foto: Arquivo pessoal)

O cheiro de comida invade a sala e a m�sica chega para embalar o encontro. A lareira fica ligada quando est� frio. Se o tempo � de calor, tem �gua gelada. A mesa � montada com lou�as diferentes a cada dia e flores colhidas no jardim. Em cada detalhe, um gesto de carinho. Silvana Zulkiewicz Loureiro sabe como ningu�m receber em casa, em Nova Lima, as alunas para as aulas de gastronomia. “Acho que quem entra no seu espa�o tem que se sentir feliz”, pontua.
 
A estrat�gia funciona. As mulheres se sentem t�o acolhidas que j� s�o mais amigas que alunas e recentemente encontraram uma maneira original de retribuir o carinho. Juntaram-se para organizar o livro Cinco esta��es, com receitas que a professora vem ensinando h� mais de quatro anos. A cada m�s, ela elabora um card�pio com entrada, prato principal e sobremesa, e recebe uma turma por semana com, no m�ximo, 15 alunas. Silvana segue num ritmo desacelerado para ter tempo de pensar nos detalhes.
 
Gravlax de salmão com creme de wasabi(foto: Arquivo pessoal)
Gravlax de salm�o com creme de wasabi (foto: Arquivo pessoal)
 
As receitas do livro se dividem em primavera, ver�o, outono e inverno, seguindo a sequ�ncia apresentada por Silvana nas aulas – primeiro entrada, depois prato principal e sobremesa. A professora sempre segue uma l�gica para chegar a um menu equilibrado. Se o prato principal � um pouco mais pesado, a sobremesa tem que ser bem levinha, como se v� no card�pio que tem lasanha � bolonhesa seguida por salada de mel�es com calda de maracuj� e gengibre.
 
Baccalà mantecato alla veneziana
Baccal� mantecato alla veneziana
 
Uma coisa � certa: nos seus card�pios s� tem comida de verdade. “Nunca trabalhei em restaurante, ent�o o que posso oferecer � boa comida e muita consci�ncia na escolha dos ingredientes, sempre frescos”, aponta. Se a receita for cl�ssica, ela segue fielmente todos os preparos. Quando s�o originais, prefere n�o se envolver com muita inven��o. “Sou contra gourmetiza��o.”
 
Camarão salteado com purê de feijão branco e emulsão de anchovas
Camar�o salteado com pur� de feij�o branco e emuls�o de anchovas
 
Na cozinha, a professora utiliza muitas refer�ncias da It�lia. Nenhuma surpresa, j� que Silvana � neta de italianos (o outro lado da fam�lia tem origem polonesa) e cresceu acompanhando a mamma na cozinha. Para ela, foi marcante a aula em que ensinou a preparar o aut�ntico espaguete � carbonara. “Mostrei como se faz um molho bem cremoso s� com gemas, queijo pecorino, grana padano e �gua do cozimento”, lembra. As alunas tamb�m aprenderam a fazer o baccal� mantecato t�pico de Veneza.
 
Uma das receitas mais conhecidas da professora � o arroz de pato, que, ao longo do tempo, ganhou muita personalidade. Silvana conta que aprendeu a trabalhar com carnes com o chef Ivo Faria, do Vecchio Sogno. “Ele foi o meu grande mentor, me ensinou a fazer longos braseados, puxar o molho bem devagar. O pato, que antes s� fazia fazer assado, agora � braseado com muito elementos arom�ticos”, detalha. Depois de desfiada, a carne se mistura ao arroz, cebola tostada e batata palha. Agora ela usa a mesma t�cnica para fazer bochecha de porco, servida com polenta, cogumelos e couve frita.
 
Pavlova
Pavlova

TRUQUES O picadinho de Silvana tamb�m � muito elogiado. Pesquisando aqui, provando ali, ela chegou a uma receita pr�pria e n�o esconde os truques. “Corto a carne em cubos de 1cm, vou fritando aos poucos para n�o soltar �gua e coloco sal s� no fim”, explica. Para alcan�ar o sabor desejado, a professora acrescenta molho de tomate r�stico, bem peda�udo, uma base de funghi porcini e molho roti (que leva dois dias para ficar pronto). Uma das op��es de acompanhamento � a farofa de abobrinha.
 
Semifreddo al torrone
Semifreddo al torrone
 
Assim como o picadinho, as outras receitas das aulas geralmente s�o simples, mas n�o deixam de ter sua complexidade. “O suspiro da pavlova � r�pido, s� leva a��car e clara, mas o que fazer para dar certo? � isso que quero que as alunas entendam.” Por isso, Silvana valoriza muito o momento de ensinar as t�cnicas, das mais simples �s mais complicadas. Para servir o pavlova, ela criou por��o individual da sobremesa, empilhando suspiro, chantili e morangos em uma base de creme ingl�s.
 
Bochecha de porco braseada

Ingredientes
18 unidades de bochecha de porco; vinagre; sal; 2 pimentas malaguetas frescas; 5 dentes de alho; 2 cebolas m�dias picadinhas; 3 galhos de tomilho; 2 folhas de louro; �gua quente ou caldo de carne.

Modo de fazer
Lave as bochechas com �gua quente e esfregue vinagre. Seque com papel-toalha. Em um pil�o, amasse os dentes de alho com as pimentas malaguetas e o sal at� formar uma pasta e esfregue em cada bochecha. Junte a cebola picadinha e misture. Deixe marinar por, no m�nimo, duas horas na geladeira. Aque�a uma ca�arola grossa e junte quatro colheres de sopa de �leo. Raspe a cebola das bochechas e acomode uma do lado da outra na panela. Deixe dourar de todos os lados. Junte a cebola picada da marinada e continue fritando para dourar muito bem, sem queimar o fundo da panela. Junte �gua quente ou caldo de carne bem aos poucos, sempre raspando o fundo da panela para formar o molho roti. Quando a carne j� estiver bem dourada e o molho roti se formando, complete com o restante do caldo at� cobrir as bochechas. Junte o louro e o tomilho e deixe cozinhar em fogo bem baixo, com a panela tampada, por aproximadamente duas horas e meia. Ao fim do cozimento, as bochechas estar�o quase desmanchando, por�m inteiras, e o molho estar� grosso. Sirva com polenta, cogumelos e couve frita. 
 
 
Pannacota de baunilha com frutas vermelhas
Pannacota de baunilha com frutas vermelhas
 
Do escrit�rio para a cozinha
Silvana cresceu dentro da cozinha, observando a intimidade das av�s polonesa e italiana com as panelas. Escolheu ser tradutora e int�rprete, mas nunca perdeu de vista o interesse pela gastronomia, fez cursos e sempre teve muito prazer de cozinhar em casa. Ela j� tinha parado de trabalhar quando amigas sugeriram as aulas e ela embarcou na ideia. “Com esta experi�ncia de receber em casa, al�m de ter me reinventado tive a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas.”
 
Na primeira aula, eram oito alunas. O n�mero subiu para 15 no encontro seguinte e logo o grupo teve que se dividir em dois. Silvana n�o esperava reunir tanta gente em casa, a maioria mulheres que nunca entravam na cozinha e n�o sabiam fazer nenhuma receita. Com o tempo, ela descobriu que gosta mesmo � de transmitir conhecimento. “Gosto de compartilhar o que sei, isso me d� muito prazer”, confessa. “Fico orgulhosa de ver que elas tentaram e conseguiram.”
 
Silvana Zulkiewicz Loureiro
Silvana Zulkiewicz Loureiro
 
A empres�ria Ana L�cia Cabral faz parte da turma desde 2016. Quando soube da ideia do livro de receitas, se voluntariou para ser a editora, j� que gastronomia sempre a interessou. Foi dela a ideia de dividir o conte�do em cinco esta��es: primavera, ver�o, outono, inverno e um cap�tulo com a hist�ria de Silvana. Tr�s alunas – Beatriz Menin, Heloisa Veiga e Val�ria Dias – selecionaram 48 receitas, privilegiando as de maior sucesso. No fim, poucas ficaram de fora.
 
Ana L�cia elogia a forma como a professora recebe as alunas. “Al�m de ser chef, ela � uma grande anfitri�. Sempre com muito capricho, muito apre�o aos detalhes”, refor�a. Nas aulas, ela sempre aprende algo novo e, normalmente, reproduz o card�pio completo para a fam�lia no fim de semana seguinte. Tudo fica f�cil de fazer com as explica��es de Silvana.
 
Entre as receitas que Ana L�cia j� fez em casa, est�o cherne com tomatinhos e azeitonas � moda da Sic�lia, medalh�es de lombinho su�no com molho de jabuticaba, semifreddo de chocolate e sufl� cheesecake com calda de frutas vermelhas e farofa de biscoito. “O conv�vio com as pessoas tamb�m me agrada. S�o mulheres de todas as idades e de universos diferentes do meu, que � o de decora��o. Conversamos e trocamos muitas ideias”, comenta.
 
Apesar de ter nascido em S�o Paulo, Silvana se sente mais mineira que paulistana. J� mora h� 33 anos em Minas. 

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