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Estado de Minas

Vinhos produzidos em Minas Gerais est�o em busca de identidade pr�pria

De Norte a Sul do estado, vinhos mineiros crescem em n�meros e em qualidade. Pesquisa da Epamig come�a a trabalho de identificar terroir mineiro


17/01/2021 04:00 - atualizado 19/01/2021 18:05

Luiz Porto(foto: Luiz Porto/Divulgação)
Luiz Porto (foto: Luiz Porto/Divulga��o)

Quase 20 anos depois da primeira colheita, os vinhos produzidos em Minas Gerais j� s�o realidade e conquistam espa�o em um mercado competitivo, ainda marcado por preconceito com produtos locais. Enquanto investem em qualidade e t�m o trabalho reconhecido atrav�s de pr�mios nacionais e internacionais, produtores do estado se movimentam para definir o t�o falado terroir.
 
A hist�ria dos vinhos mineiros come�a por iniciativa do pesquisador Murillo Regina, da Empresa de Pesquisa Agropecu�ria de Minas Gerais (Epamig), que adaptou a produ��o de uvas para o clima local usando o ciclo invertido e dupla poda. Isso significa transferir a colheita para o inverno, per�odo com condi��es clim�ticas ideais: dias ensolarados e quentes, noites frias e tempo seco, algo parecido com o ver�o europeu. Por isso, o que � produzido aqui tem o nome de vinho de inverno. A primeira colheita foi no campo experimental da Epamig de Caldas, no Sul, em 2003.
 
Luiz Porto se apaixonou pelo campo e comprou terras em Cordisl�ndia, no Sul de Minas. Investiu em v�rios neg�cios (importou vacas holandesas, produziu laranja), at� que soube da possibilidade de fazer vinhos finos. Vision�rio, plantou 45 mil mudas francesas. Infelizmente, n�o chegou a ver os vinhos prontos, mas seu filho, Luiz Porto J�nior, deu continuidade ao projeto. “Na �poca, falavam que �ramos loucos, mas, com apoio cient�fico e muita paix�o pelo neg�cio, enfrentamos tudo isso.”
 
Visionário, Luiz Porto plantou uvas em Cordislândia e foi chamado de
Vision�rio, Luiz Porto plantou uvas em Cordisl�ndia e foi chamado de "louco" (foto: Luiz Porto/Divulga��o)
 
Em 2012, a fam�lia Porto fez a primeira vinifica��o comercial, com estrutura e profissionais pr�prios. Desde ent�o, luta para quebrar o preconceito dos brasileiros com vinhos nacionais e levantar a bandeira da produ��o local. Para isso, est� sempre pensando em como melhorar a qualidade. “A nossa miss�o � transformar a rela��o do brasileiro com o vinho produzido no nosso estado, transformar a percep��o de que vinho brasileiro n�o � bom. � muito bom, sim, e tem reconhecimento internacional.”
 
A vin�cola tem 14 r�tulos, entre tintos, brancos e espumantes. O seu �cone � o syrah da linha Luiz Porto, que j� ganhou medalha de bronze em Londres. “Ele � intenso, saboroso, instigante, perfeito para combinar com a gastronomia mineira, de costelinha de porco, galinha caipira, tropeiro e at� torresmo”, descreve J�nior. Esse vinho passa por envelhecimento de 12 meses em barricas de carvalho. Destaque tamb�m para o espumante produzido com a mesma t�cnica dos champanhes franceses.
 

Valoriza��o do regional

 
O parreiral est� em expans�o para dar conta da demanda, que aumentou 40% nos �ltimos anos. A produ��o, hoje em 50 mil garrafas por ano, vai triplicar na pr�xima d�cada. “A nossa regi�o ainda tem um longo caminho para percorrer, mas, gra�as ao p�blico mineiro e produtos de qualidade, temos belas perspectivas, apostando na valoriza��o do regional”, diz J�nior, que sonha com o registro da denomina��o de origem. Ele mira no exemplo da regi�o de Napa Valley, na Calif�rnia, que venceu o preconceito e se desenvolveu rapidamente.
 
Fundadora da Uva Escola Etílica, Ana Borges enxerga que o futuro da viticultura mineira está na uva cabernet franc(foto: Filipe Amorim/Divulgação)
Fundadora da Uva Escola Et�lica, Ana Borges enxerga que o futuro da viticultura mineira est� na uva cabernet franc (foto: Filipe Amorim/Divulga��o)
Em abril, a empresa, totalmente familiar, vai inaugurar a primeira vin�cola de Tiradentes. A produ��o das uvas continuar� em Cordisl�ndia, mas todo o restante do processo poder� ser visto de perto pelos turistas. Haver� tamb�m espa�o para degusta��o. Segundo J�nior, essa � uma das iniciativas para fincar Minas no novo mapa do vinho brasileiro.
 
Assim como Luiz Porto, muitos mineiros encaram o desafio de entrar no competitivo mercado de vinhos. O n�mero s� cresce. A maioria das vin�colas d�o o start no campo experimental da Epamig em Caldas, que funciona como uma incubadora.

 

Hoje, nove produtores do estado s�o atendidos e h� outros tantos interessados. “A videira demora tr�s anos para come�ar a produzir, ent�o vamos ter uma expans�o nos pr�ximos anos. O mercado � promissor, principalmente pela qualidade de vinhos de inverno, que v�m ganhando muitas premia��es e a aten��o do consumidor”, aponta a en�loga da Epamig Isabela Peregrino.

 

Isabela � respons�vel por toda a produ��o, da colheita � garrafa. O suporte t�cnico permite a realiza��o de testes antes de montar uma vin�cola, o que exige alto investimento (uma pequena, de sete mil litros, n�o sai por menos de R$ 1 milh�o). “A Epamig produz os vinhos por tr�s anos e, nesse meio tempo, o produtor consegue testar a �rea, fazer ajustes de qualidade, ver se o produto tem aceita��o no mercado, para depois caminhar com as pr�prias pernas.” No momento, o laborat�rio est� trabalhando com a capacidade m�xima, que � de 40 mil litros de vinho ou 30 toneladas de uva por safra.
 
Na vinícola Luiz Porto, a bebida é envelhecida em barricas de carvalho(foto: Luiz Porto/Divulgação)
Na vin�cola Luiz Porto, a bebida � envelhecida em barricas de carvalho (foto: Luiz Porto/Divulga��o)
 
Por ser pioneiro na produ��o de vinhos, o Sul do estado concentra os cultivos mais estabelecidos. A regi�o de Diamantina tamb�m se mant�m firme na corrida por um espa�o no mercado. Apesar de ainda ter pouco tempo (est� na terceira safra), o cerrado mineiro tamb�m tem se destacado. Pelo que observa a en�loga da Epamig, o Sudeste, como um todo, ser� a nova regi�o vit�cola reconhecida do Brasil, e Minas leva vantagem por estar em uma posi��o geogr�fica bem central.
 

Tradi��o antiga

 
A produ��o de vinhos finos em Minas n�o � de hoje. Diamantina chegou a ter tr�s vin�colas no come�o do s�culo retrasado. Em 1812, o pesquisador ingl�s John Mawe provou um vinho feito em Mariana. Anos mais tarde, o franc�s Auguste Saint-Hilaire, em sua passagem pelo Sul do estado, tamb�m registrou cultivos. Naquele tempo, todas as uvas vinham de Portugal.
 
“O nosso hist�rico n�o � s� de vinho de mesa (de qualidade inferior). Na verdade, tivemos 300 anos de produ��o de vinhos finos, que acabou quando as videiras norte-americanas chegaram e trouxeram a praga, matando as plantas europeias”, destaca a consultora e educadora em vinhos Ana Borges, fundadora da Uva Escola Et�lica.
 
O vinho syrah da Epamig ganhou, no ano passado, medalha de ouro em concurso internacional(foto: Erasmo Reis/Divulgação)
O vinho syrah da Epamig ganhou, no ano passado, medalha de ouro em concurso internacional (foto: Erasmo Reis/Divulga��o)
 
Ana trocou a consultoria de comida pela de vinhos, vendeu o carro para fazer mestrado em enologia na Espanha e acompanhou desde o in�cio as produ��es experimentais de vinhos finos mineiros. “Os primeiros anos foram um pouco dif�ceis, mas agora estamos come�ando a entender o nosso terroir, o nosso clima, solo, manejo, e produzindo vinhos com qualidade cada vez maior.” De modo geral, os vinhos mineiros t�m teor alco�lico mais alto, notas de frutas maduras e muita presen�a de madeira.
 
De acordo com a educadora, Minas se destaca mais pelo trabalho com as uvas syrah e sauvignon blanc. “Falta ch�o para comparar com grandes vinhos do mundo, mas n�o que vamos precisar de 300 anos. A Nova Zel�ndia faz vinho h� 40 anos e j� � refer�ncia mundial de sauvignon blanc e pinot noir.” Para ela, o futuro da viticultura mineira est� na uva cabernet franc, que tem dado excelentes vinhos em S�o Paulo. Atualmente, apenas a vin�cola Luiz Porto utiliza essa variedade.
 
A produ��o de vinhos tem se espalhado por Minas e Ana destaca iniciativas, inclusive, na Grande BH (Juatuba, Mateus Leme e, em breve, Moeda). Ela mesma est� com vontade de plantar uvas. “Os neg�cios est�o ganhando corpo e n�o vai demorar para termos um circuito de enoturismo metropolitano”, avista a consultora, que est� fazendo faculdade de agronomia. Segundo ela, faltam profissionais locais que tenham conhecimento espec�fico sobre os vinhos mineiros.
 

Terroir mineiro

 
J� podemos falar em terroir para vinhos mineiros? Pesquisa da Epamig, em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla), d� in�cio a essa conversa, que pode fazer a produ��o local subir v�rios degraus. “� um trabalho inicial, mas abre caminho para estudar detalhadamente as caracter�sticas de cada vinhedo. Isso agrega muito valor ao vinho, porque o consumidor quer ouvir hist�ria, saber de onde vem o produto”, comenta a engenheira-agr�noma e pesquisadora Claudia Rita de Souza.
 
A pesquisa tem como objetivo tra�ar o perfil qualitativo dos vinhos de inverno, inicialmente dos que s�o feitos com uvas syrah, as que mais se adaptaram � dupla poda. Os pesquisadores acompanharam, de 2016 a 2018, a produ��o em vinhedos de cinco cidades no Sul de Minas (Tr�s Cora��es, Tr�s Pontas, Cordisl�ndia, S�o Sebasti�o do Para�so e Andradas), todos com mais de 10 anos. “Avaliamos fisiologia e vigor da planta, qualidade da uva, fizemos uma caracteriza��o bem detalhada do solo e a an�lise dos vi- nhos. O que est� pendente � a parte sensorial.”
 
O campo experimental da Epamig de Caldas funciona como uma incubadora para novos negócios(foto: Erasmo Reis/Divulgação)
O campo experimental da Epamig de Caldas funciona como uma incubadora para novos neg�cios (foto: Erasmo Reis/Divulga��o)
 
Os resultados v�o servir como base para que produtores entrem com o pedido de indica��o geogr�fica, que pode chegar � denomina��o de origem (DO), como no caso do Vale dos Vinhedos (RS), a primeira regi�o vit�cola do Brasil a conquistar o selo. “Quando se fala em terroir, n�o � s� solo e clima. A qualidade do vinho � resultado da intera��o da planta com a natureza e da interfer�ncia humana, o manejo empregado, a quantidade produzida e o processo enol�gico”, esclarece Claudia. 
 
 

Guisadinho viajante
Luciano Avellar (chef executivo do Senac em Minas)


Ingredientes
600g de ma�� de peito; 125g de cogumelos-de-paris; 250ml de vinho tinto; 150g de parmes�o; 50g de torradas; 5ml de �leo; 20g de sal; 2g de pimenta-do-reino; 30g de cebola; 30g de sals�o; 30g de cenoura; 2 folhas de louro

Modo de fazer
Corte a carne em cubos de 3cm. Tempere com sal e pimenta-do-reino. Leve para uma panela aquecida com �leo e sele a carne. Retire a carne e entre com mirepoix cortado em brunoise. Acrescente o louro. Deixe cozinhar por 7 minutos para que se desprendam os aromas. Volte com a carne para o preparo. Despeje o vinho tinto e deixe reduzir por 10 minutos. Em seguida, adicione ½ litro de �gua e deixe cozinhar por 45 minutos. Coloque a carne em uma frigideira para regenerar at� que atinja a temperatura de 80 graus. Assim, ela se manter� quente para a montagem (se necess�rio, utilize fundo de legumes para que n�o desidrate demais). Em uma frigideira com fundo antiaderente, aquecida e levemente untada, disponha uma fina camada do queijo at� que se funda e fique male�vel para dar formato de cesta. 

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