Nova gera��o de destilados mineiros se destaca por qualidade e variedade

A produ��o de cacha�a faz parte da nossa hist�ria. Mas n�o pense que os mineiros pararam no tempo quando se fala em destilados. Uma nova gera��o chega ao mercado com vontade de mostrar a diversidade e a qualidade de bebidas que s� conhec�amos importadas, como u�sque, rum e gim. O uso de ingredientes brasileiros � um ponto em comum. A pr�pria cacha�a vem repaginada – um dos r�tulos que representam esse novo momento das destilarias mineiras tem o “treme” do jambu.

 

Os irm�os Lamas herdaram do pai, dono de um pequeno alambique, o interesse por bebidas. Por mais de 30 anos, continuaram com a produ��o artesanal de cacha�a, sem fins comerciais, mas nunca esconderam uma paix�o em comum: o u�sque. “De 2000 para c�, eles decidiram ter esse foco. Testaram receitas, t�cnicas, equipamentos e, ao longo do tempo, viram que conseguiam alcan�ar uma bebida de qualidade”, conta a diretora de marketing Luciana Lamas, j� da terceira gera��o da fam�lia.

 

A destilaria Lamas, que fica em Matozinhos, tem quatro u�sques. Os r�tulos seguem a tradi��o escocesa, mas carregam um toque de brasilidade. Isso fica evidente no Nimbus, que � o carro-chefe, envelhecido em carvalho americano e defumado (na Esc�cia, utiliza-se a turfa, material vegetal em decomposi��o antes de virar carv�o). “O que decidimos fazer? N�o vamos usar turfa, vamos fazer a nossa vers�o, defumar os gr�os de malte com madeira de eucalipto de reflorestamento”, explica.

 

O Nimbus fica com sabor de fuma�a – tem quem ache que � de bacon l�quido. No ano passado, quando foi lan�ado, ganhou medalha de prata em um concurso nos Estados Unidos e bronze na Inglaterra. Al�m disso, foi classificado pelo jornalista brit�nico Jim Murray, um especialista na bebida (j� provou mais de 20 mil r�tulos), na “B�blia do u�sque 2021”, como uma bebida genial.

 

 

Para os mais tradicionalistas, a sugest�o � consumir o u�sque puro ou com gotas de �gua para real�ar suas notas sensoriais. Mas por que n�o inclu�-lo na coquetelaria? A Lamas vai iniciar uma parceria com Pedro Lelis, da Drink S/A, de Goi�nia, para quebrar o tabu de que n�o se usa u�sque bom para fazer coquet�is. Como exemplo, o mixologista criou o Alexia, com u�sque, lim�o siciliano, xarope de a��car demerara e �gua de coco, refrescante como pede o clima do Brasil.

Sempre em busca de inova��o, a destilaria, uma das poucas fabricantes de u�sque no Brasil, trabalha para provar que o produto brasileiro pode ser exclusivo e de qualidade. A edi��o especial do Nimbus envelhecido em barril de amburana, madeira local muito usada para fazer cacha�a, se esgotou em menos de tr�s se- manas. “Isso abriu nossos olhos para um mercado ansioso por experimentar novidades. Estamos tentando usar outras madeiras brasileiras e fazer algo diferente no universo do u�sque.”

 

 

A hist�ria do gim Yellow Bird come�a em 2015, quando Gustavo Sanches conheceu o destilado em visita ao restaurante do tio, na Espanha. Provou e amou. Tr�s anos depois, ele e o s�cio Felipe Resende, seu amigo de inf�ncia, resolveram entrar neste mercado, que explodiu no Brasil, enxergando muito potencial na produ��o nacional. “A nossa ideia era fazer um produto diferente, que se destacasse. N�o dava para ser mais um no mercado”, diz Gustavo.

 

 

Por isso, eles fizeram tudo sem pressa. O desenvolvimento do produto levou tr�s anos. Gustavo (engenheiro de produ��o) e Felipe (engenheiro mec�nico) testaram mais de 70 receitas at� chegar � �ltima vers�o, 100% autoral e com �lcool de qualidade superior. A proposta � oferecer um gim equilibrado e f�cil de fazer combina��es. “Como n�o quer�amos deixar o gim muito azedo, trouxemos elementos doces, como cascas de laranja serra d’�gua e lim�o siciliano”, destaca.

Entre as especiarias, cardamomo, gengibre, pimenta-da-jamaica e o zimbro, que, por lei, � ingrediente obrigat�rio e deve ser predominante. Ali�s, o nome Yellow Bird � uma alus�o a uma fam�lia de p�ssaros que reside na Am�rica do Norte e se alimenta de frutos carnosos, como o zimbro.

 

A garrafa tem design exclusivo e se tornou um diferencial da marca. Os s�cios demoraram um ano para encontrar o fabricante, �nico que trabalha com vidro reciclado na Am�rica Latina. “O mais comum � importar garrafas da China e fazer adapta��es. No nosso caso, desenvolvemos um design pr�prio para fugir das garrafas cil�ndricas.” A do Yellow Bird � quadrada, tem o r�tulo amarelo e tampa tamb�m criada pela destilaria, que fica no bairro Olhos D'�gua.

 

 

Gim vai muito al�m de gim t�nica, avisa Gustavo. N�o que ele seja contra o coquetel, que se popularizou rapidamente, mas diz que existem diversas outras formas de consumo. Desde cl�ssicos (negroni e dry martini) at� ex�ticos (a destilaria criou, por exemplo, o red berry, com gim, campari, morango, ch� de frutas vermelhas, pimenta rosa e �gua t�nica).

 

 

A fot�grafa Bruna Brand�o sempre gostou de beber cacha�a. Da� para produzir foi um pulo. Nas idas para Bel�m, onde, h� sete anos, desenvolve uma pesquisa sobre o estilo musical tecnobrega, ela teve a ideia de unir o melhor de Minas e do Par�. “L� tem cacha�a com jambu fresco, mas a cacha�a n�o � boa como a daqui, deixa a desejar. A� comecei a trazer a planta e fazer com a nossa bebida”, conta. O primeiro lote da Jambruna fez sucesso no carnaval de 2018 em BH.

 

 

Para ter sempre jambu fresco, que d� um sabor especial � bebida, Bruna mant�m parceria com uma associa��o agroecol�gica na Regi�o Metropolitana de Bel�m. “Plantar aqui seria dif�cil, porque a planta n�o sobrevive f�cil fora do clima amaz�nico, mas, al�m disso, acho importante trazer de l� para exaltar a cultura deles. A minha cacha�a � uma combina��o de Minas e Par�.”

 

Por aqui, ela fez uma rigorosa sele��o da cacha�a. Decidiu por uma envelhecida em barril de amburana e jequitib�, produzida em um alambique com tradi��o centen�ria em Itaverava, na Zona da Mata. O sabor de baunilha, que vem da madeira, se mistura ao jambu em um processo de infus�o, acompanhado de perto por Bruna. Utiliza-se apenas a flor, onde est� concentrado seu poder de adormecer a l�ngua. “Para mim, o jambu n�o pode cobrir tanto a cacha�a, porque ela tem um paladar bom para oferecer. Busco o equil�brio para voc� sentir o jambu e as especiarias das madeiras.”

 

A Jambruna pode ser consumida pura, para curtir a sensa��o do tremor, que dura alguns minutos na boca, ou em coquet�is. “O jambu � um aliado para fazer a experi�ncia memor�vel, j� que provoca o paladar e chama a aten��o para outros ingredientes. Gosto de usar a cacha�a na coquetelaria para real�ar algum sabor.” O Calma nervo, inven��o do bartender Albert Coelho, da Lamparina Cacha�aria, com cacha�a com jambu, lim�o capeta, licor de pequi, �gua t�nica e manjeric�o, virou patrim�nio da marca.

 

 

Henrique Chaves cresceu vendo o pai bebendo rum e, quando se lan�ou no mercado de bebidas com a Benerick’s, decidiu resgatar o destilado em sua vers�o com especiarias. Inspirado na pr�pria hist�ria do spiced rum, fruto de uma pesquisa de um norte-americano no Caribe em busca de novos sabores, ele criou uma receita mineira, o Don Bene. “Acho que o rum ficou esquecido porque faltava um produto artesanal brasileiro de qualidade, s� se encontravam industrializados”, aponta.

 

 

Mais raro, o spiced rum � muito difundido na coquetelaria, mas tem pouca visibilidade na ponta. Henrique quer facilitar o acesso do consumidor final a uma bebida que tem a complexidade do rum e notas de especiarias. “O que seria do Brasil se s� pud�ssemos consumir rum importado? A produ��o local e artesanal � necess�ria, at� para o consumidor se sentir parte do produto.” Sugere-se usar o rum com especiarias no lugar do tradicional em coquet�is como cuba libre e mojito. A experi�ncia se transforma.

 

Como a Benerick’s tem a filosofia de valorizar sabores brasileiros, incluiu na receita do rum o cumaru, conhecido como baunilha-da-amaz�nia. As especiarias que d�o sabor � bebida est�o representadas no r�tulo, com ilustra��o do artista mineiro Jo�o Gabriel.