
Lugar de mulher � onde ela quiser, e n�o importa a idade. A maranhense Concei��o de Maria Gon�alves Figueiredo aprendeu a li��o. Aos 69 anos, ela encontrou nos estudos a v�lvula de escape para superar a perda de dois dos quatro filhos e uma depress�o, consequ�ncia do luto. "Entrei em desespero, perdi o gosto de viver, n�o queria saber mais de nada, n�o sa�a de casa. Aos poucos, fui vendo que eu ainda tinha que fazer alguma coisa pelos meus outros dois filhos e netos que ficaram", conta a aposentada ao relembrar o per�odo dif�cil.
Nascida no interior de S�o Lu�s do Maranh�o, ainda jovem, precisou driblar os obst�culos desde cedo para seguir com os estudos. Saiu da sua cidade natal Pio XII para morar com a tia e, assim, conseguir concluir o ensino m�dio.
Na juventude, a forma��o no ensino superior era um sonho distante, principalmente depois do casamento e do nascimento dos quatro filhos. "Conclu� meu ensino m�dio normalista, me casei, tive os meus filhos e voltei para minha cidade, Pio XII, no interior do Maranh�o. L�, comecei a trabalhar como professora p�blica do estado. Em 1979, fui transferida para S�o Lu�s e continuei trabalhando como professora. Ap�s 27 anos de dedica��o, me aposentei", revela a idosa.
Com a depress�o devido � perda de dois filhos em um curto espa�o de tempo, o sonho de ter uma gradua��o parecia, mais do que nunca, sepultado. Mas foi a dor que acabou impulsionando a aposentada para a sala de aula. Ao acompanhar o filho at� o campus da CEST Faculdade Santa Terezinha para fazer a inscri��o na sua segunda gradua��o, a idosa recebeu um convite inesperado para participar da turma de Gastronomia da institui��o. "No come�o, achei aquilo um absurdo... eu, na minha idade, com a sa�de debilitada, voltar para uma faculdade. Achei que n�o ia dar certo e n�o aceitei. Depois, meus filhos e meus netos me incentivaram tanto que eu mudei de ideia. Meu filho fez a inscri��o, marcou a prova do vestibular e eu fui achando que n�o ia ser aprovada mas passei", comemora.
Foi na Gastronomia que a idosa encontrou a verdadeira paix�o e o tratamento ideal para curar-se da depress�o. Com o incentivo da fam�lia, amigos e colegas de turma, superou seus limites, ressignificou a rela��o com as panelas e conseguiu realizar o sonho de conquistar um diploma universit�rio.
"Gra�as a Deus, encontrei o que eu queria, um lugar para me distrair, pra conhecer e conversar com pessoas novas. Quando cheguei na minha turma, velhinha, fui muito bem recebida, me aplaudiram, vieram me abra�ar, dar as boas-vindas. Eu ficava pensando o que eu estou fazendo na faculdade, tenho que voltar pra casa para a minha costura. Mas foi l� que encontrei, depois de v�rias sess�es de psic�logos e psiquiatras, uma verdadeira terapia. Fui amada e respeitada por todos", revela com gratid�o.
Por conta da pandemia do Coronav�rus, a gradua��o, que come�ou na modalidade presencial, precisou se adequar ao novo normal. As aulas passaram a ser remotas. Nada suficiente para impedir a jornada acad�mica de dona Maria. A aposentada tirou de letra o desafio tecnol�gico e seguiu conectada com colegas e professores, focada na realiza��o de seu sonho.
"Nos primeiros semestres, as aulas eram presenciais e eu trabalhei de igual para igual com meus colegas, fazia tudo que o professor pedia. N�o tinha aquela hist�ria de dizer ela n�o vai fazer isso porque ela j� tem a idade avan�ada. Desde crian�a, eu sempre gostei de ser uma aluna aplicada. Ap�s a pandemia do coronav�rus, o restante do curso passou a ser online mas foi tudo tranquilo".
A cola��o de grau tamb�m foi online mas sem perder o brilho e a emo��o da conquista. "Para os jovens que pensam em desistir dos seus sonhos, eu digo que qualquer tempo � tempo. Se a gente n�o tem condi��es de realizar os nossos sonhos na juventude, a gente realiza quando Deus determina. E sempre � o tempo certo", conclui a aposentada.