
Esta �ltima tentativa foi a 8ª vez que Matheus fez a prova do Exame Nacional do Ensino M�dio (Enem), quatro anos exclusivamente direcionados para o curso de medicina. Tantos anos de prepara��o deixaram o estudante desgastado, e, em um momento mais dif�cil ainda por conta da pandemia, ele pensou em desistir.
“Na associa��o aqui do bairro n�o tinha como estudar porque l� tinha bares ao redor. Em casa tamb�m n�o dava, porque tinha irm�o, barulho. Eu falei ‘vou parar de estudar’, pensei em desistir v�rias vezes. Sabe quando voc� chega naquele pico de satura��o?”, recorda.
A alternativa veio de uma amiga que tinha uma casa pr�xima, mas a constru��o n�o tinha energia el�trica. Matheus conseguiu realizar o sonho de passar para medicina com a ci�ncia de que o caminho foi mais dif�cil do que o de muitos e agora pretende se esfor�ar para usar o seu trabalho em prol de comunidades com menor acesso � sa�de.

Amor pelo irm�o influenciou na escolha do curso
Matheus vem de uma fam�lia com seis filhos. Entre eles, o terceiro irm�o � uma inspira��o para ele. “Um dos maiores focos de estilo de vida foi ele”, conta. O irm�o tem sequelas de meningite meningoc�cica, que pode comprometer capacidades motoras, audi��o, vis�o, mem�ria, capacidade cognitiva, entre outros.
Na reda��o do Enem, o irm�o tamb�m ajudou na bagagem para o texto. Matheus tirou 980 na reda��o do tema “O estigma associado �s doen�as mentais na sociedade brasileira”. “Foi um tema que eu tinha bastante propriedade para falar”, explica
Apoio da fam�lia e comunidade foi complicado
“No primeiro momento, como eles n�o tiveram acesso � educa��o, eles n�o aceitavam muito”, relata Matheus sobre a fam�lia e os vizinhos. “Me viam estudando, me chamava de doido porque eles me viam subindo e descendo todo dia com a mochila de domingo a domingo”.
Ele conta que trabalha meio per�odo desde os 17 anos para conseguir pagar inscri��es de vestibulares, locomo��o para os locais de prova e investir nos estudos.
Matheus chegou a cursar enfermagem, mas largou em 2017, ap�s dois anos no curso, para tentar medicina. “Da� eles n�o apoiavam mesmo. Diziam ‘j� est� em uma universidade boa, tudo j� certo, encaminhado, tu vai voltar para dar tipo um passo atr�s?’”, recorda.
Hoje, ele � motivo de orgulho para o bairro. T�mido, ele tenta lidar com a repercuss�o da conquista, mas aproveita para outras pessoas que tamb�m sonham com o ensino superior. “Primeiro passo � ter f�. Segundo, � voc� ter um foco. Eu falo direto que sonho sem a��o � apenas ilus�o. Ent�o, � ter f�, foco, acreditar que � poss�vel e levantar a cabe�a”.
“A motiva��o maior que a gente tem � nossa vida. A gente tem que olhar para nossa vida e usar como v�lvula para conseguir algo mais”, finaliza.
*Estagi�ria sob supervis�o da editora Ana S�
