
Pela Lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, Antonieta criou o Dia do Professor e o feriado escolar em Santa Catarina. Vinte anos depois, em outubro de 1963, o ent�o presidente Jo�o Goulart tornou a lei nacional.
Hist�ria de luta
Para chegar at� a Assembleia Legislativa, em 1934, ostentando o grande feito de ser a primeira deputada mulher de Santa Catarina, Antonieta travou uma hist�ria de rompimento de barreiras racial, de g�nero e de classe.
Natural de Florian�polis, ela nasceu em 11 de junho de 1901, pouco antes do pai falecer. A m�e, Catarina Waltrick, assumiu o desafio de cuidar dela e dos irm�os e usou o of�cio de lavadeira para garantir um sustento para a fam�lia - na �poca, Catarina j� que era escrava liberta.
Foi em um dos empregos da m�e, na casa do pol�tico Vidal Ramos, em Lages (SC), que a paix�o de Antonieta pela educa��o come�ou. Com a ajuda da fam�lia empregadora, a quem os historiadores afirmam que tinham carinho por Antonieta e a m�e, ela foi alfabetizada em uma escola particular em 1906, quando tinha cinco anos. Quatro anos depois foi para a escola p�blica e aos 16 anos, em 1917, preparava-se para fazer as provas da Escola Normal Catarinense - forma��o que a daria possibilidade de seguir o sonho de ser professora.
O sonho individual se tornou coletivo quando, antes de se formar, Antonieta decidiu passar o conhecimento obtido para outras pessoas � margem da sociedade. Em maio de 1922, aos 17 anos, ela inaugurou o Curso Particular de Alfabetiza��o Antonieta de Barros, cujo objetivo era preparar alunos para os exames de admiss�o do chamado Gin�sio do Instituto de Educa��o e da Polit�cnica, al�m de alfabetizar adultos. A educadora acreditava que o ensino libertaria as pessoas dos postos de marginaliza��o.
"Educar � ensinar os outros a viver; � iluminar caminhos alheios; � amparar debilitados, transformando-os em fortes; � mostrar as veredas, apontar as escaladas, possibilitando avan�ar, sem muletas e sem trope�os; � transportar �s almas que o Senhor nos confiar � for�a insuper�vel da F�", frisou em um dos discursos feitos no Congresso.
Nas reda��es e movimentos pol�ticos
Para ampliar os ideais educacionais pelos quais lutava, Antonieta come�ou a participar, em 1922, de movimentos pol�ticos, ainda enquanto estudava na Escola Normal, com a atua��o na milit�ncia Liga do Magist�rio, na qual se tornou a primeira secret�ria. Tr�s anos depois, ela passou a participar da forma��o do Centro Catarinense de Letras (CCL), do qual tornou-se membro da diretoria.
Em 1926, assumiu o posto de escritora e jornalista, tornando-se uma das poucas mulheres que o faziam, principalmente no estado catarinense. A inten��o de Antonieta era levar a mais pessoas as mudan�as necess�rias no Estado, como quest�es sociais, a necessidade de a��es para crescimento educacional e redu��o do analfabetismo, e as defini��es dos pap�is sexuais. Foi nessa �poca que ela, com o pseud�nimo de Maria da Ilha, fundou o jornal A semana; al�m de contribuir para a Folha Acad�mica, O Idealista, Correio do Estado e O Estado.
Em um artigo publicado em outro ve�culo, o Jornal Rep�blica, em julho de 1932, Antonieta fez duras cr�ticas � falta de oportunidades de mulheres continuarem a forma��o estudantil em faculdades. "H� uma grande lacuna na mat�ria de ensino: a falta dum gin�sio onde a mulher possa conquistar os preparat�rios para ingressar no ensino superior. O elemento feminino v�, assim, fechados diante de si, todos os grandes horizontes", frisou na publica��o.
A educadora criticava a gest�o de Irineu Bornhausen, que governava o Estado na �poca, ao afirmar que ele n�o estava preocupado em tornar a educa��o acess�vel a todas as pessoas. Foi para mudar o cen�rio educacional e de pequeno acesso que Antonieta se candidatou a uma cadeira na Assembleia Legislativa em 1934, pelo Partido Liberal Catarinense. Ela foi a primeira deputada estadual a ser eleita no estado ap�s ter sido concedido o direito de voto �s mulheres.

Incans�vel
De acordo com a doutora em letras Luciene Font�o, Antonieta de Barros "foi uma mulher engajada com as lutas do tempo dela": na Assembleia, atuou pela melhoria da educa��o popular e fez parte da Comiss�o de Educa��o e Justi�a, onde prop�s projetos de lei para ampliar a carreira do magist�rio de Santa Catarina. Na �poca, foi aprovada a lei para a realiza��o de concursos para o magist�rio, al�m de legisla��es para conceder bolsas de cursos superiores, o que contribuiu para a amplifica��o da alfabetiza��o e da profissionaliza��o local.
Incans�vel, a educadora continuava a dar aulas e a escrever nos jornais do estado. Em 1937, reuniu os principais artigos no livro Farrapos de ideias, cujo lucro da primeira edi��o foi doado para a constru��o de uma escola para abrigar filhos de pessoas afastadas da sociedade por terem lepra - a maioria internados no lepros�rio Col�nia Santa Tereza.
Reeleita e criticada
Com tantas a��es positivas, o eleitorado a elegeu deputada mais uma vez em 1948. No entanto, apesar de ser reconhecida e apreciada por uma parte da popula��o, a postura combativa de Antonieta fez com que ela fosse atacada por diversas personalidades da �poca, inclusive com falas racistas.
Historiadores afirmam que Antonieta n�o se abatia com as cr�ticas e permanecia firme nos cargos em que ocupou. Quando poss�vel, ela chegava a responder publicamente aos ataques. Um deles foi Oswaldo Rodrigues Cabral, pol�tico, jornalista e professor de hist�ria catarinense, que afirmou que as publica��es da escritora nos jornais eram "intriga de senzala".
Na ocasi�o, Antonieta respondeu o coment�rio em uma publica��o no jornal O Estado e afirmou que era um benef�cio � popula��o o distanciamento de Oswaldo das salas de aula para realizar outros afazeres, como a pol�tica. "Sua Excel�ncia, para a felicidade de todos quantos s�o arianos - apesar de portador de um diploma de jornalista - n�o milita no ensino p�blico. Dizemos felicidade porque, � sua Excel�ncia, falta uma das qualidades de professor: n�o distinguir ra�as, nem castas, nem classes", frisou, em maio de 1951.
Menos de um ano depois, Antonieta faleceu por complica��es de um quadro de diabetes, em 28 de mar�o de 1952. No entanto, o legado da educadora e escritora permanece vivo at� hoje. Em homenagem a ela, foi criada a Medalha de M�rito Antonieta de Barros, que homenageia pessoas f�sicas e jur�dicas que criam trabalhos relevantes, ou, ainda, destacam-se na luta na defesa do direito das mulheres.
Tamb�m leva o nome da her�ina brasileira negra da educa��o o Pr�mio Antonieta de Barros, criado pela Secretaria de Pol�ticas de Promo��o da Igualdade Racial direcionado a reconhecer jovens comunicadores negros do pa�s.
Legado permanente
A historiadora Karla Leonora Nunes, na tese de doutorado sobre a educadora, afirma que Antonieta "� uma personagem feminina que inaugura o cen�rio pol�tico catarinense por ter sido eleita a primeira deputada na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina em um tempo e em um espa�o onde tal fato ainda estava muito distante da maioria das mulheres negras de nossa terra".
De fato, ainda hoje, Antonieta � uma das exce��es inaceit�veis em um pa�s democr�tico: desde 1948, apenas outras 15 mulheres ocuparam igual cadeira da Assembleia de Santa Catarina - e mais nenhuma delas negra.