
Segundo Agnaldo, a raz�o de levar os dois instrumentos de trabalho foi para homenagear seus pais, ex-cortadores de cana, que, pelo esfor�o de seu trabalho,conseguiram proporcionar ao filho acesso � educa��o. Agnaldo conta que ambos foram suas maiores inspira��es para estudar. E ele aproveitou a oportunidade da melhor forma, afinal, este � o segundo diploma superior que ele obt�m. A primeira forma��o foi em administra��o. E ele garante que est� se preparando para fazer o concorrido Exame de Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
"No in�cio, o p�blico pensou: 'o que esse doido est� fazendo a�, com essa enxada e a faca na m�o?'. Ao longo do discurso, contei que foi uma homenagem aos meus pais e a todos os pais que trabalham e lutam tanto pelos filhos", relata. Para ele, foi um momento bastante especial, que causou uma como��o n�o s� em si mesmo, como em todos ali presentes � cerim�nia. Agnaldo se mostrou surpreso com tanta repercuss�o da sua hist�ria. E conta, ainda, ter recebido muitas mensagens de apoio com pessoas revelando que tinham se inspirado no seu caso."Me enche o cora��o, de verdade, eu me sinto muito grato", disse.
AT� OS 23 ANOS TRABALHOU NO CORTE DE CANA
Agnaldo � natural de Peabiru, no norte paranaense, mas, aos 4 anos, a fam�lia migrou para o interior paulista, em 1982, para o trabalho nos canaviais do munic�pio de Arei�polis (SP), como �nica forma de prover sustento para os filhos. Aos 12 anos, Agnaldo tamb�m teve que trabalhar, at� aos 23 anos, no corte de cana. Mas decidiu que queria mudar de vida. E percebeu que a melhor forma para isso era focar nos estudos: "Lembro de quando cheguei em casa, chamei minha m�e para conversar e falei com ela: eu vou mudar a hist�ria da nossa fam�lia, eu vou quebrar esse ciclo, vou estudar e ser algu�m na vida".
Durante esse per�odo, o agora formado em direito relatou, ainda, ter sofrido com preconceito e racismo, o que o motivou tamb�m a buscar uma vida melhor para si e para sua fam�lia por meio dos estudos. "Eu tive que ralar muito mais para isso. Eu sabia que eu s� seria valorizado se eu tivesse conhecimento. Por isso, persisti", conta. A luta contra a discrimina��o racial foi uma bandeira que, desde cedo, Agnaldo levantou.
Tanto que, durante sua carreira profissional e acad�mica, ele tamb�m assumiu o posto de presidente do Conselho da Consci�ncia Negra em Len��is Paulista (SP), cidade onde reside, e tornou-se exemplo para v�rias pessoas negras na causa antirracista. Suas grandes inspira��es de vida, al�m de seus pais, s�o em personalidades marcantes do Movimento Negro, como Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela, de quem obteve muitos aprendizados sobre consci�ncia de classe, consci�ncia negra e a import�ncia da luta contra as desigualdades.
Logo ap�s ter sa�do da lavoura de corte de cana e ter dedicado o tempo que tinha estudando, Agnaldo fez um curso de vigilante. Ano ap�s ano, ele se aperfei�oou e foi conseguindo cargos cada vez mais altos na empresa onde trabalhava, at� se tornar CEO. Nisso, ele adquiriu gosto em trabalhar na �rea de seguran�a, e desde os 31 anos, atua no ramo empresarial na �rea, tanto que a primeira gradua��o foi em administra��o de empresas na Faculdade Marechal Rondon (FMR-SP), onde concluiu o curso em 2015. N�o satisfeito em ter apenas um curso, Agnaldo logo entrou para o curso de direito, na mesma institui��o, e obteve o segundo diploma.
PAI MORREU DE LEUCEMIA E M�E, POR CAUSA DA PANDEMIA, VIU HOMENAGEM PELO V�DEO
A homenagem de Agnaldo teve um peso emocional ainda mais forte por conta do pai, que faleceu no ano passado de leucemia. A m�e n�o esteve presente na cerim�nia de formatura por causa da pandemia, mas p�de ver a homenagem do filho em v�deo, o que a emocionou bastante, segundo o agora addvogado. "Sozinho, voc� n�o conquista nada, sozinho, voc� n�o � ningu�m e n�o vai a lugar algum. Ent�o, sou grato a eles e demonstro isso todos os dias, fa�o quest�o disso", salienta.
Ele conta, emocionado, como o pai o incentivou a estudar na �poca e como ele se alegrava com cada conquista ao longo da sua carreira, e como isso o ajudou a estar onde ele est� hoje. "Meu pai foi um cara �mpar, foi um exemplo de dignidade, de honestidade, de retid�o; nunca vi ele falando mal de algu�m ou deixando de cumprir com suas obriga��es, e eu via muito valor nisso", relembra.
Agora formado em direito, e com uma trajet�ria marcante na vida, Agnaldo ainda n�o definiu algo concreto para seu futuro. Mas ele diz pensar muito no futuro do filho e no seu desejo de poder proporcionar a ele um futuro ainda melhor. Al�m disso, afirmou n�o se ver fora de uma sala de aula ou fora da cria��o de algum projeto social voltado �s comunidades necessitadas, com o sonho de poder inspirar cada vez mais pessoas a superarem obst�culos e conseguirem grandes feitos na vida. "N�o importa de onde voc� veio, o que importa � aonde voc� quer chegar", disse.
*Estagi�rio sob a supervis�o de Ana S�