
J� cantava Elba Ramalho: "Pra descrever uma mulher n�o � do jeito que quiser, primeiro tem que ser sens�vel sen�o � imposs�vel... e sempre faz o que bem quer, ningu�m pode impedir e assim come�a a definir Mulher...". A presen�a feminina � crescente em cargos de lideran�a, na sa�de, ci�ncia, assist�ncia social, nos esportes e, tamb�m, na educa��o - como m�es, professoras e alunas. Mas nem sempre foi assim e ainda h� muito o que se conquistar.�
Com um passado cheio de limita��es com impedimentos ao acesso inclusive � educa��o formal, a trajet�ria de mulheres nas salas de aula come�ou tardiamente. Hoje, elas mostram que n�o existe tempo certo para come�ar a estudar. Evid�ncia � que, mesmo em meio a tantos desafios, o p�blico feminino � maioria no ensino superior, conforme a pesquisa "Estat�sticas de G�nero: indicadores sociais das mulheres no Brasil", divulgada nessa semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).�
Dividindo a aten��o com o trabalho fora de casa, as atividades dom�sticas e cria��o dos filhos, elas t�m persistido para concluir uma faculdade. No grupo com 25 anos ou mais de idade, 19,4% das estudantes tinham ensino superior completo, em 2019, contra 15,1% dos homens. Na faixa et�ria de 45 a 54 anos, 19,4% das mulheres tinham n�vel superior contra apenas 13,8% dos homens com a mesma titula��o, segundo a pesquisa.�
A pedagoga Ana L�cia Alves da Silva, 60 anos, nasceu em uma fam�lia tradicionalmente brasileira, de baixa renda, em que o direito b�sico � educa��o veio tardiamente. Seu pai n�o dava apoio para que ela estudasse. J� a m�e, mesmo sem ter frequentado a escola, incentivava o contato da filha com os livros.��
Ana L�cia j� tinha mais de 40 anos e uma vida corrida, dividida entre dois trabalhos, quando resolveu retomar os estudos. Voltou para a sala de aula na 5� s�rie, na modalidade de Educa��o de Jovens e Adultos (EJA). Conclu�da essa etapa, fez o Enem em 2014, se matriculou na primeira turma de Licenciatura em Pedagogia EAD da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Hoje comemora sua cola��o de grau prevista para o pr�ximo dia 11, na semana da Mulher.��
"Achei que n�o iria conseguir acompanhar as aulas, mas nunca perdi nenhuma disciplina. Minhas notas s�o 9, 10... tirei 9 no meu TCC que fiz sobre Educa��o de Jovens e Adultos. � um orgulho! Minha faculdade � uma conquista t�o grande para mim que ningu�m � capaz de avaliar. S� fico triste pensando se ainda vou conseguir dar aulas, se vai dar tempo de realizar esse sonho. N�o fiz o curso s� por fazer, quero ser a melhor professora", declara emocionada.�
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Heran�a desigual e a luta pela Educa��o��
Segundo a Hist�ria do Brasil, as escolas do per�odo colonial constitu�das, inicialmente, pela ordem dos padres jesu�tas, eram voltadas apenas para os homens. Nesse per�odo, mulheres n�o tinham acesso � leitura e � escrita. Conta-se que um ind�gena foi a primeira pessoa a reivindicar pela educa��o igualit�ria para ambos os sexos. No entanto, o pedido foi negado por ter sido considerado ousado demais.�
O come�o de uma s�rie de mudan�as teve origem ap�s a expuls�o dos jesu�tas, quando a educa��o�
passou a ficar a cargo do Estado. Na �poca (s�culo XVIII), Marqu�s de Pombal instituiu a reforma educacional com a primeira tentativa de transforma��o da educa��o para as mulheres. Assim, oficialmente, elas tiveram permiss�o para frequentar salas de aula ainda que separadas por sexo.��
Hoje, o reflexo de uma heran�a desigual ainda pode ser visto nas �reas de tecnologia e ci�ncias exatas, onde elas s�o minoria. Representam apenas 13,3% dos alunos de Computa��o e Tecnologia da Informa��o e Comunica��o (TIC) e 21,6% dos cursos de engenharia e profiss�es correlatas, segundo o IBGE.�
�nica mulher dentro do seu segmento de atua��o em Tecnologia da Informa��o, na empresa onde trabalha, a analista de suporte de sistema Larissa Sena, 27 anos, precisou perseverar para n�o desistir de atuar em uma �rea predominantemente masculina. "Gostaria de ver o mercado de TI daqui a alguns anos com mais mulheres atuando e tendo oportunidades assim como tive de fazer o que ama", afirma a profissional que tem mais de oito anos de experi�ncia na �rea.�
Mesmo sendo maioria com diploma de gradua��o e mostrando habilidade para multitarefas, as mulheres ainda recebem menos do que os homens. Segundo dados do IBGE, divulgados nesse m�s, o p�blico feminino ganhou 77,7% do sal�rio dos homens em 2019. A diferen�a se acentua ainda mais em compara��o com cargos de dire��o e ger�ncia, no qual as mulheres ganharam apenas 61,9% do rendimento dos homens. A desigualdade salarial nos cargos de lideran�a � registrada em todo o pa�s. Apenas 34,7% dos cargos gerenciais est�o ocupados pelo sexo feminino, conforme apurou o IBGE.�