Natural de Ibirit�, fui criada em um bairro perif�rico da regi�o metropolitana de BH. Sempre tive um ambiente familiar muito est�vel e com um grande empenho por parte dos meus pais em dar uma boa educa��o para mim e para o Felipe, meu irm�o.

A nossa din�mica familiar sempre foi: meu pai trabalhava e era o provedor, minha m�e era profissional do lar e cuidava da fam�lia. Meus pais se casaram muito jovens, ela aos 16 e ele aos 20. Logo tiveram n�s 2 e n�o estudaram a partir de ent�o, nesse sentido, a simplicidade que os impossibilitaram nos auxiliar na vida acad�mico n�o os impediram de nos preparar com o mais importante dos conhecimentos: as virtudes humanas.

As pautas dos assuntos em casa sempre eram r�gidas, onde virtudes como a honestidade, respeito, f�, verdade, humildade, generosidade e dilig�ncia (oposto da pregui�a) estavam sempre em evid�ncia. Ora, n�o seria essa a melhor educa��o que poder�amos ter? embora n�o possuam alfabetiza��o completa, meus pais s�o extremamente s�bios e por meio do exemplo criaram dois filhos que amam estudar e crescerem enquanto pessoas.

Quanto ao meu irm�o, esse sempre foi mais inteligente que o normal mesmo. Ele sempre muito quieto, reservado e estudiosos buscando novas ideias e concep��es sobre a vida. E eu sempre o vi como o meu her�i, uma admira��o imensa que me fazia querer seguir os mesmos passos. Estudamos nas mesmas escolas, quando completamos o ensino m�dio n�o poder�amos ir a curso pr�-vestibular por falta de condi��es financeiras, na �poca meu pai estava mal financeiramente. Tampouco, portanto, poder�amos seguir para uma faculdade j� que n�o ter�amos como custear e nem perto passar�amos de uma universidade federal tendo em vista o ensino prec�rio a que fomos submetidos.

O ano foi 2010, completei o ensino m�dio e me vi contra a parede: o que um jovem sem dinheiro faz quando se forma? Desiste de estudar e corre para arrumar um trabalho. Foi mais ou menos isso que aconteceu, arrumei um trabalho como vendedora de shopping e fiz Enem no final do ano s� para ver qu�o ruim eu seria nisso. Mas a boa not�cia veio, fiz uma boa nota na reda��o o que na �poca elevou a minha m�dia geral na prova e me permitiu ganhar uma bolsa de estudos para administra��o ou direito na PUC MG, a realidade � que o pobre no brasil na maioria das vezes n�o pode sonhar, ele faz o que d�. Naquela circunst�ncia eu s� pensava
em qual curso me daria um emprego razo�vel e r�pido, assim escolhi administra��o.
J� no segundo semestre de curso, eu seguia trabalhando no shopping aos s�bados, domingos, feriados e encaixando os estudos nos intervalos de lanche, no �nibus e onde dava. Foi nessa �poca que procurando vagas de est�gio para amenizar aquela rotina incapacitante que eu me deparei com uma vaga em um banco. Mais que depressa me adiantei, mandei o curr�culo, participei dos processos e entrei. Em resumo, foram 6 anos de banco, me formei em administra��o e todo esse processo serviu para uma coisa: me mostrar que eu poderia muito mais, que eu j� tinha conseguido conquistar o imposs�vel dentro da minha realidade e que n�o poderia parar por ali. Eu acordei e descobri de repetente que tamb�m poderia sonhar.
Foi assim que acordei e resolvi ouvir meu cora��o chamando pelo desejo de fazer medicina, desejo esse que j� era uma fa�sca no meu peito e virou uma chama quando por ocasi�o de um namoro com um cirurgi�o passei um m�s no M�xico e tive a oportunidade de acompanha-lo na rotina cl�nica.

Nesse contexto, eu acordei um dia e disse: vou fazer medicina. Foi quando eu comecei o cursinho e mudei toda a minha vida para chegar nessa conquista. No in�cio eu trabalhava no banco ainda, para manter meus estudos e emendava o trabalho no cursinho, estudava aos finais de semana, nas f�rias, no hor�rio de almo�o. No primeiro ano de vestibular eu nem cheguei perto, mas j� estava bem melhor do que antes de come�ar e essa era a minha motiva��o, melhorar a cada dia e superar a mim mesma, pois eu sabia que seria uma loucura me comparar com outro aluno que teve a oportunidade de estudar nas melhores escolas e estava bem mais preparado do que eu.

Recapitulando o assunto das virtudes ensinadas, eu sempre tive a certeza que embora nunca tenha sido a melhor aluna da sala, a minha disciplina, dilig�ncia e coragem me levaria a sobrepor a falta de talento. E a vit�ria veio, sa� do banco e passei 1 ano estudando sozinha, com livros e aulas online. J� que para eu ter mais tempo para estudar eu n�o teria dinheiro para pagar cursinho presencial, assim me dediquei totalmente aos estudos em casa. Acordava e ia dormir com a cara nos livros e nessa rotina cheguei no Enem de 2019 a aprova��o veio, para a supresa de muitos. Aos 26 anos inicio ent�o a minha segunda gradua��o e mudo completamente a minha carreira.
Concluo dizendo para meus futuros colegas que est�o na luta pela t�o sonhada vaga: a medicina � s� um detalhe, minha maior conquista foi a maturidade, o crescimento espiritual, o autoconhecimento e a resili�ncia que adquiri nesse percurso. Estudar para um vestibular concorrido ou um concurso, vai muito al�m de foco no objetivo final, esse � um processo que te leva a um profundo fortalecimento interior.
Se em breve serei a primeira m�dica da fam�lia � porqu� Deus me mandou os anjos certos, por isso deixo meus sinceros agradecimentos ao Rafael e aos professores do Determinante pr�-vestibular, foram voc�s os primeiros a acreditarem em mim quando tudo parecia imposs�vel.
Artigo escrito pela aluna de Medicina Lorrane Hishihara
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