
Estudar, fazer faculdade, arrumar um bom emprego, casar, ter filhos. A partir de ent�o, trabalhar para chegar ao topo da carreira e, finalmente, se aposentar. Ufa! Que vida! Esse era o sonho (e a trajet�ria) de grande parte dos brasilienses com mais de 50 anos – e o destino que muitos deles queriam para seus filhos e netos.
Mas essa configura��o tem mudado. Aposentar-se est� mais dif�cil e nem todos tra�am como meta casar, ter filhos e at� mesmo alcan�ar a t�o valorizada estabilidade. A vida batendo crach� n�o satisfaz tanto ou, simplesmente, deixou de ser a principal op��o.
"Posso fazer tudo ou nada num dia. Posso acordar �s 7h ou �s 11h. Mas tenho que me sentir produtivo. Se eu ficar improdutivo, volto pro mercado, porque a ideia n�o � essa, e a� n�o tem recompensa nenhuma"
Alexandre Neves de Almeida, Publicit�rio
Para a psic�loga e consultora organizacional Alessandra Fonseca, os jovens s�o levados a escolher uma profiss�o ainda muito cedo e a vontade de seguir novos rumos pode surgir em outras fases de suas vidas. Jogar tudo para o alto e apostar na aventura. Al�m disso, muitos fatores podem levar as pessoas a mudan�as. “�s vezes, � um sonho inicial que n�o foi perseguido por causa da expectativa de outros ou por necessidade”, avalia. “Mas, em muitos casos, s�o profissionais que se incomodam com a falta de autonomia nas empresas, liderados por pessoas que n�o conseguem motivar os funcion�rios, que reagem � mesmice”, destaca Alessandra.
� claro que a crise econ�mica do pa�s, entre os motivos, leva as pessoas a procurar coisas diferentes para fazer. Al�m de ter desempregado muita gente, a crise colocou ainda mais press�o em quem permaneceu em seus respectivos trabalhos.
Junta-se a isso o fato de que o brasileiro foi definido como pessoas que t�m um desejo nato de empreender pela The Global Entrepreneurship Monitor de 2015. Segundo levantamento da institui��o, quatro em cada 10 brasileiros t�m um neg�cio. A taxa de empreendedorismo aqui � superior � dos Estados Unidos, M�xico, Alemanha, �ndia e China.
INSIGHT

Na �poca, os m�sicos de casamento, segundo ela, eram pessoas que n�o deram muito certo e aquele nicho era o que restara. Resolveu, ent�o, abrir a pr�pria empresa e trabalhar com o que mais gosta de fazer: m�sica.A carreira anterior agregou muito ao novo projeto, ela usa, em seu novo neg�cio, todas as estrat�gias de marketing que estudou na faculdade e colocou em pr�tica em anos de trabalho.
Para Let�cia, a m�sica em um casamento tem que combinar com o casal, o ambiente, o clima e deve funcionar como a trilha sonora de um filme, com momentos de mais emo��o, outros de mais tens�o e, claro, de romance. “N�o d� para colocar apenas uma playlist das m�sicas mais tocadas em casamento e esquecer o evento”, ensina.
At� ent�o, a m�sica, � qual sempre foi muito ligada, era s� um hobby que n�o lhe parecia muito promissor, ainda que o talento dela fosse reconhecido. “Na �poca, n�o tinha orienta��o sobre o que fazer com as minhas habilidades, que eram est�tica e musical”, conta. Parecia-lhe tamb�m que a carreira de m�sico dependia muito da sorte. Por isso, achava que precisava se manter em algo mais formal.
Passou tr�s anos como designer na ag�ncia e tinha uma banda com a qual se divertia e fazia algum dinheiro. “N�o pensava na m�sica como profiss�o”, afirma. Hoje, trabalhar para si mesma n�o � moleza. Let�cia conta que dedica muito mais tempo do que em seus empregos anteriores, por�m, para ela, � muito mais gratificante. “Parece que n�o estou trabalhando. Al�m de fazer o que mais gosto, mexo com o sonho, com a alegria das pessoas. Ent�o, isso contagia a gente”, anima-se.
A criatividade que liberta

O publicit�rio Alexandre Neves de Almeida, de 35 anos, est� no meio do caminho em busca de um novo modo de ganhar a vida. Enquanto o retorno financeiro n�o � certo, prefere dizer que est� tendo um “ano sab�tico” e considerar o momento como uma licen�a.
Ele trabalhou com marketing esportivo por 10 anos, tinha a pr�pria empresa, organizava eventos, criava estrat�gias de patroc�nio para atletas. Fez um mestrado da Fifa, que era realizado na Inglaterra, na It�lia e na Su��a. Trabalhou na Copa e nas Olimp�adas e, com a carreira consolidada na �rea, resolveu parar. “Abri m�o da minha carreira por esse tempo para come�ar um novo projeto, coisas que eu sempre quis fazer e n�o tinha tempo.”
Os eventos que fazia, em geral, ocorriam em intervalos. Ele conta que 90% dos seus colegas de profiss�o aproveitavam esse tempo livre e o dinheiro ganho para viajar, passar at� dois meses fora, em f�rias. Foi a� que decidiu: em vez de fazer uma grande viagem, tiraria o ano para tentar sucesso como roteirista. Agora, todos os seus esfor�os est�o voltados para uma s�rie de anima��o infantil: Os bolecos.
Apesar de adorar a �rea esportiva, ele acreditava que, depois de tantas boas experi�ncias, s� lhe restava a repeti��o. “Estava meio estagnado”, confessa. “Decidi entrar num mercado novo e, para isso, preciso estudar, escrever, tocar m�sica, compor”, enumera.
"Estava num restaurante, vi um homem na tev� com uma Ferrari falando sobre como ele ganhou dinheiro com isso e eu pensei: acho que preciso de uma Ferrari"
Alexandre Neves de Almeida, Publicit�rio
A irm� de 6 anos � sua maior inspira��o. Ele estava em uma reuni�o chata, quando come�ou a esbo�ar uma m�sica dedicada a ela. Foi quando percebeu que precisava investir mais em seu lado criativo. “O meu trabalho no marketing era de planejamento. Tem que solucionar problema, ent�o, envolve pouco de criatividade. Acabou virando um ambiente que n�o me estimulava mais. Eu me consumia, mas n�o dava essa recompensa que um trabalho criativo oferece”, explica.
Mas n�o ter, teoricamente, nada pra fazer o dia inteiro poderia ser uma cilada. Ser dono do pr�prio tempo � desafiador. “Posso fazer tudo ou nada num dia. Posso acordar �s 7h ou �s 11h. Mas tenho que me sentir produtivo. Se eu ficar improdutivo, volto pro mercado, porque a ideia n�o � essa, e a� n�o tem recompensa nenhuma”, considera.

LIBERDADE Nos �ltimos 12 anos, Lorena Barbosa de Oliveira, de 34, e o marido, Andr� Iacono, de 39, ambos operadores do mercado de a��es norte-americano, moraram em quatro pa�ses diferentes e mudaram de casa 22 vezes. D� pra entender que os dois n�o gostam de mesmice. Mas foi um caminho duro at� conquistarem essa liberdade.
Lorena conta que se formou em administra��o s� porque era o que se esperava dela. “Naquela �poca, o pensamento era que tinha que fazer faculdade e depois ainda um cursinho para concurso e ser funcion�rio p�blico”, conta. Formada, foi morar em Londres. Viver no exterior era uma experi�ncia que sempre quis ter, mas a m�e n�o deixava. L�, conheceu Andr� e est�o juntos desde ent�o.
Ela trabalhou em v�rias empresas, mas nunca ficou completamente satisfeita. J� ele fazia algo que adorava: dava aulas na Cisco Networking Academy, um programa de capacita��o profissional no setor de tecnologia da informa��o para institui��es de ensino e pessoas em todo o mundo. Mas ele havia alcan�ado o topo na carreira pretendida e n�o tinha mais para onde crescer. Um dilema.
Em 2013, Andr� come�ou a mexer com a��es. Era um hobby. “Estava num restaurante, vi um homem na tev� com uma Ferrari falando sobre como ele ganhou dinheiro com isso e eu pensei: acho que preciso de uma Ferrari”, brinca.Treinou muito, tinha um mentor que lhe ensinou tudo.
Na procura por algo que satisfizesse o casal, em 2014, os dois abriram uma empresa de cursos on-line. Podiam gerenciar a empresa de qualquer lugar do mundo e chegaram a faz�-lo de Londres e de Orlando. Mas, no fim ano passado, perceberam que o mercado deles estava saturado e os cursos nem t�o atraentes. Al�m disso, o que ele faturava como trader (investidor do mercado financeiro) superava o que ganhava com a empresa. Ela, ent�o, come�ou a estudar e praticar tamb�m o of�cio do companheiro. “Tudo que n�s abandonamos foi porque n�o gost�vamos e, agora, o dia mais esperado da semana para n�s n�o � o fim de semana e sim a segunda-feira, porque a bolsa vai reabrir”, conta Andr�.
A investidora se incomodava com a dificuldade de conseguir promo��es nos empregos e aumentar seu sal�rio. Com a abertura da primeira empresa do casal, a situa��o melhorou.