
Ainda h� quem pense que para ser criativo s� nascendo. Um dom. N�o �. Ou melhor, tanto pode ser uma caracter�stica nata quanto � poss�vel desenvolver a criatividade para aplic�-la, n�o s� em sua atividade laboral, como na vida. � o que o mercado denominou de mindset, ou seja, conjunto de atitudes mentais que influencia diretamente o comportamento e o pensamento de cada um e que podem ser adquiridas e treinadas. Para pensar fora da caixa � necess�rio base, repert�rio e conhecimento, n�o s� da �rea de forma��o e atua��o, quanto informa��es gerais que ajudam a ampliar a vis�o.
Jacqueline Rezende, CEO da Sias Educa��o e Consultoria, consultora em RH, planejamento estrat�gico, personal coach e mestre em administra��o, afirma que a criatividade tem se tornado uma disciplina discutida com mais frequ�ncia seja nas salas de reuni�o das empresas ou nas mesas de refei��es em casa. “Cada vez mais pensamos, no nosso dia a dia, como podemos ser mais criativos em um mundo competitivo e extremamente mut�vel.”
Para Jacqueline Rezende, a cultura da criatividade ainda � limitada porque achamos que ser criativo � reinventar a roda, e n�o �. “Voc� pode ser uma pessoa criativa buscando e ampliando horizontes cada vez mais intensos e com resultados na melhoria dos processos, das ideias dos trabalhos executados pelas pessoas e nas rotinas das tarefas di�rias. Muitas vezes, o que precisamos s�o gatilhos mentais que cabem, por exemplo, dentro das empresas em qualquer lugar.”
A consultora destaca que o m�todo Scamper de criatividade � uma ferramenta para estimular e usar esses tais gatilhos mentais. Jacqueline Rezende explica que ele foi desenvolvido pelo americano Bob Eberle para melhorar a criatividade e o desenvolvimento de ideias criativas. “O m�todo foi elaborado pelo autor em meados do s�culo 20, publicado em seu livro de mesmo nome. Basicamente, � uma lista de verifica��o de perguntas onde novas ideias s�o criadas. Ele � muito usado para repensar o problema ou criar nova oportunidade de neg�cio. Tamb�m podemos aplicar o m�todo para modificar o projeto de um produto, servi�o ou processo ou mesmo us�-lo para �rea do pensamento.”
Jacqueline Rezende diz que, conforme o autor, o m�todo Scamper � aplicado, principalmente, para melhorar um processo de produto, no desenvolvimento de um servi�o novo ou existente, seja ele pr�prio ou concorrente. “O m�todo � muito �til para abrir a mente para novas maneiras de se concentrar no problema e, com isso, mudar toda a nossa capacidade criativa ou pelo menos dar asas a ela.”
Diretora da Sias Educa��o e Consultoria, Jacqueline Rezende diz que a cultura da criatividade ainda � limitada
CULTURA
Para Jacqueline Rezende, cada vez mais � necess�rio mudar e construir uma cultura criativa nas empresas para acompanharmos os processos de globaliza��o: “Uma cultura criativa � mais do que simplesmente se divertir no local de trabalho, trazer ideias ou decorar uma mesa. Essas coisas podem contribuir, mas o verdadeiro poder para restaurar o processo criativo est� na mente. � uma quest�o de mudar como voc� pensa e de trabalhar para remover obst�culos que est�o no caminho de sua criatividade natural”.
Jacqueline Rezende lembra que trabalhar a criatividade n�o � f�cil. � trabalhoso para uma pessoa e ainda mais se ela trabalha em grupo ou em uma empresa com colegas criativos: “Mentalidades s�o dif�ceis de mudar e � complicado se desfazer de h�bitos. Mas, com o tempo, mudan�as positivas podem ocorrer. O ideal � exercitar e seguir a intui��o”.
Para a consultora de RH, a criatividade � um recurso precioso que precisa ser estimulado. “Isso significa que n�o se pode simplesmente deixar pra l� e esperar que n�o acabe. � necess�rio um cultivo cuidadoso e o ambiente certo para que continue a fluir, assim como um esfor�o concentrado para ter a certeza de que nada fique no caminho do processo criativo. Se n�o tiver essa aten��o, correr� o risco de deixar sua criatividade � demanda do acaso, situa��o preocupante para qualquer profissional criativo.”
Criatividade, portanto, precisa ser alimentada, agu�ada, desafiada. Jacqueline Rezende enfatiza que “tenha sucesso e descobrir� que sua imagina��o n�o tem limites. O c�rebro � um espa�o pouco explorado e l� mora nossa criatividade”. Para os gestores, a mestre em administra��o deixa um recado: “N�o podemos ocultar que muitos minam a criatividade dos profissionais em vez de estimular e isso � um preju�zo e uma torneira do desperd�cio para sua empresa. Portanto, deve ser um compromisso do gestor proteger a criatividade de cada funcion�rio. Desde o que senta em uma mesa para trabalhar, aquele que est� na linha de produ��o, nos servi�os gerais, na gest�o, na estrat�gia... N�o existe limite nem cargo, criatividade se encaixa em qualquer cen�rio”.
MENTE CRIATIVA
Os sete gatilhos mentais, conforme Bob Eberle e o m�todo Scamper, que pode e deve ser usado sempre que a mente criativa n�o surgir de forma efetiva:
Substituir: � o processo com a inten��o de determinar o que � que pode ser usado como substituto daquele pensamento. Essa quest�o a equipe precisa analisar no sentido de que dever�o ser colocados alguns pontos, de modo a averiguar que produto ou servi�o pode ser substituto de um produto ou servi�os j� existente. A ideia consiste na substitui��o.
Combinar: investiga como � que a ideia pode ser combinada com outro fato para gerar algo novo, pois ao combinar objetos e ideias, podemos desenvolver novos produtos ou servi�os.
Adaptar: saber como se pode adaptar uma ideia existente ou a ideia de outra pessoa. Nesse sentido, � importante questionar “que outra ideia isto sugere?” ou “o que posso copiar para adaptar � minha ideia?”.
Minimizar, tornar maior, modificar: foca na hip�tese da ideia poder ser modificada, minimizada ou maximizada. Assim, a partir de uma ideia j� existente, tenta-se atribuir uma nova utiliza��o, efetuando uma modifica��o a qualquer n�vel (forma, dimens�o, peso, tempo, frequ�ncia, velocidade, entre outros). A quest�o a ser colocada nesta fase � “de que forma o produto ou servi�o pode ser modificado, aumentado e/ou reduzindo?”
Pensar em outros usos: nesta etapa, pretende-se encontrar usos alternativos para ideias existentes, isto �, “a ideia pode ser usada em outros mercados?” De que forma? Por vezes � necess�rio reutilizar o produto, dando-lhe outra utilidade completamente diferente.
Eliminar: � o processo da elimina��o, redu��o ou adi��o de novos ingredientes, componentes, partes de produ��o ou servi�os, de modo a alterar uma ideia. Pensamento na elimina��o de v�rias partes ou caracter�sticas do produto ou servi�o, de forma a solucionar alguns problemas.
Reverter, rearranjar: consiste em reverter o produto ou o servi�o de modo a criar uma outra ideia. A invers�o da sequ�ncia em que as tarefas est�o sendo executadas ou a convers�o do espa�o na possibilidade de cria��o de um novo conceito ou a chamada de explora��o de novas possibilidades no tempo e no espa�o.
PALAVRA DE ESPECIALISTA

Ana Lisboa, master coach para alta performance e consultora de RH
“A criatividade pode ser sim um diferencial competitivo no mercado de trabalho. Pessoas s�o contratadas normalmente por seus diferenciais e a criatividade ou a capacidade de resolver problemas � um grande ponto a favor de quem consegue utilizar essa caracter�stica e principalmente exp�-la em um processo seletivo. As grandes ferramentas detectoras de criatividade s�o as temidas din�micas de grupo. Segundo a vasta literatura sobre o tema, a criatividade � sim, para todos. Algumas pessoas se desenvolvem em ambientes naturalmente criativos e, por isso, t�m mais facilidade em lidar com essa caracter�stica. Mas � poss�vel para todas as pessoas usar o lado criativo do c�rebro para encontrar sa�das inusitadas e eficientes. Se voc�, leitor, considera-se pouco criativo, passe a estimular, mesmo que por brincadeira, essa sua habilidade. Pode ser pensando em sa�das diferentes para os mesmos problemas, fazendo as mesmas coisas de forma diferente e principalmente (e essa pode ser a mais dif�cil), deixando de criticar aquelas respostas est�pidas que normalmente ilustram as conversas entre amigos. L� pode estar uma fonte inesgot�vel de criatividade que precisa contar apenas com um pouco menos de censura para se manifestar.”
Em todo lugar

Criatividade � a habilidade de gerar ideias n�o convencionais, fora da caixa, longe da zona de conforto. Todas as pessoas s�o criativas? Faz parte da natureza humana? Tiago Petreca, consultor, palestrante e comandante da Kuratore, empresa de treinamentos e desenvolvimento humano, enfatiza que essa quest�o pode ser abordada por meio de diversos pontos de vista: “Parto do prisma dos modelos mentais para pensar a criatividade. Sendo que modelo mental � o conjunto de vari�veis que definem a maneira como vemos o mundo, a nossa forma particular de abordar os eventos que nos ocorrem. Isso explica porque h� tantas opini�es diversas sobre a mesma coisa. Parte importante de nossos modelos mentais s�o o sistema de cren�as e valores que carregamos. Se acredito que ser criativo � privil�gio somente daqueles que assim nasceram e se eu n�o me vejo como um desses ‘aben�oados’, eu mesmo limitarei minha criatividade. Todos somos criativos sim, o que muda � o grau de criatividade, a raz�o pela qual seremos criativos e o resultado desejado. Geralmente pensamos nos criativos como aqueles no mundo da arte, da culin�ria, das inven��es em geral e mais recentemente, no empreendedorismo. Mas a criatividade est� em todo lugar. H� que se ter olhos para ver”.
Portanto, n�o desanime, nem desespere. Voc� � criativo e, melhor, pode treinar. O primeiro passo � rever sua cren�a sobre a criatividade, revisar o que ela significa para voc� e de que forma quer que a criatividade lhe ajude. Um treinamento importante para alimentar a criatividade como um todo � ampliar seu repert�rio, isso �, conhecer mais assuntos diferentes, saber sobre temas que podem at� ser opostos a princ�pio, como matem�tica e artes pl�sticas. “Se voc� pensa somente de um jeito e estuda somente um tema, voc� poder� ser bom, um expert, mas suas ideias estar�o limitadas a isso apenas, e mesmo assim grandes ideias podem aparecer. Parece paradoxal, n�o? Mas assim somos como seres humanos, um pouco paradoxais, e isso nos torna especiais, principalmente no que tange � criatividade.”
Outro ponto importante, destaca Tiago Petreca, � a capacidade de observar, notar coisas novas naquilo que � comum. “Nosso c�rebro acaba criando como que um cen�rio conhecido e assim perdemos os detalhes da estrada. Temos que aprender a perceber a flores, as nuances, os detalhes, os aromas, aquilo que est� bem na nossa frente e n�o estamos vendo. Penso ser riqu�ssimo para a criatividade deixar a mente ‘vagar’. Precisamos pensar sobre nossos problemas, sobre as quest�es com as quais estamos lidando, mas temos de deixar a mente trabalhar um pouco sozinha, sem que nossa raz�o esteja no comando o tempo todo.”
Tiago Petreca levanta algumas quest�es: para que voc� quer ser criativo? Para salvar seu emprego? Para conseguir um emprego? Para dar uma boa solu��o � empresa? Para vender melhor? “O mercado sempre foi competitivo, hoje � mais devido � hiperconectividade. Tudo est� mais r�pido e demanda por solu��es, mas se n�o tivermos claro qual o problema que enfrentamos, dificilmente seremos criativos. Criatividade n�o significa ideias mirabolantes, podem ser coisas simples. Lembro de uma foto que vi de um vendedor de milho. Na foto havia uma placa com os pre�os: R$ 1,50 o milho e R$ 2 o milho com fio dental. Incr�vel, absolutamente criativo e simples.”
DESEJO

O consultor garante que a criatividade est� em qualquer lugar, do CEO ao faxineiro. “� a secret�ria que prop�e nova forma de fazer uma planilha, o porteiro que recebe as pessoas com sorriso e gentileza marcantes ou o faxineiro que percebeu que poderia limpar um banheiro com metade do desinfetante que a empresa usava. Lembro de um amigo que trabalhou em uma multinacional. L� fizeram um concurso no qual o colaborador seria premiado caso ajudasse a economizar dinheiro. Um de seus colegas de trabalho notou que durante o almo�o as pessoas pegavam um p�o franc�s para comer e muitos deixavam parte deste p�o em seus pratos, que ia direto para o lixo. Sua sugest�o? Corte o p�o em fatias em vez de deix�-lo inteiro. Ele ganhou um pr�mio: um percentual do que ele ajudou a economizar. Simples, criativo e resultado de algu�m que parou para observar, perceber o que ningu�m mais estava enxergando, embora estivesse na cara de todo mundo.”
Para Tiago Petreca, a curiosidade � um turbo para o motor da criatividade. “Mas apenas ser curioso sem buscar solu��es e execut�-las, sem entender o problema a ser resolvido, far� da pessoa apenas um curioso, mas n�o um criativo.” � importante nesse mundo dos criativos experimentar, se desafiar: “Quem cria tamb�m aprende, pois se criou algo novo, provavelmente, vai errar e o erro � parte da experimenta��o e fundamental para aprender. O modelo das startups, t�o difundido atualmente, que tem seu piv� no Vale do Sil�cio, usa uma m�xima: erre r�pido e barato. Errar custa, ent�o se vai tentar algo novo, que seja com baixo investimento e de forma r�pida. Mas h� um segredo aqui. Tem que aprender no processo, errar por errar, mesmo que custe pouco, ser� custo apenas e isso impacta o resultado de uma empresa. Quanto a existir espa�o para o erro, depende de onde voc� est�. Saiba o contexto no qual est� inserido e entenda as regras do jogo. N�o existe mundo perfeito, ele est� em constante evolu��o e necessita de pessoas criativas”.
Servi�o:
Livro: Mindset – A nova psicologia do sucesso
Autora: Carol S. Dweck
Tradu��o: S. Duarte
Editora: Objetiva
P�ginas: 312
Livro: R$ 44,90
E-book: R$ 29,90
EM TR�S PASSOS
Como desenvolver a criatividade:
1 Buscar solu��o para o que chamamos de problema. Isso � fundamental, pois a maneira como “rotulamos” as circunst�ncias que se apresentam determina a forma como tentaremos resolv�-la. Tudo come�a e termina em n�s mesmos.
2 � importante a forma como olhamos para o mundo. Esse olhar � filtrado por “�culos” compostos por uma s�rie de vari�veis como nossa cultura, experi�ncias, onde e com quem convivemos e, finalmente, nosso conjunto de valores e cren�as.
3 A busca pelo estado de presen�a. Voc� j� notou como as crian�as t�m um poder de criar, de inventar que muitas vezes nos surpreende? Elas t�m menos travas, menos bloqueios, menos “se” e “n�o”. A ingenuidade de uma crian�a lhe d� o poder de criar melhor que n�s, adultos. Mas, como n�o podemos voltar no tempo, precisamos saber usar o tempo que temos para, de fato, nos tornarmos mais criativos.
PARA LER...
A psic�loga Carol S. Dweck, estudiosa e professora de psicologia da Universidade de Stanford, nos EUA, explica que nosso mindset mostra o nosso modo otimista ou pessimista de enxergar diversas situa��es da vida e de como se portar diante delas. Seu livro Mindset se tornou bestseller, um cl�ssico da psicologia, lan�ado em 2014. Ao longo de d�cadas de pesquisa, ele provou que mindset � crucial para o sucesso. Dweck revela de forma brilhante como o sucesso pode ser alcan�ado pela maneira como lidamos com nossos objetivos. O mindset n�o � um mero tra�o de personalidade, � a explica��o do por qu� somos otimistas ou pessimistas, bem-sucedidos ou n�o. Ele define nossa rela��o com o trabalho e com as pessoas e a maneira como educamos nossos filhos. � um fator decisivo para que todo o nosso potencial seja explorado.
1 – Mindset fixa: s�o aqueles que acreditam que o talento e a capacidade s�o definidos � partida e n�o se alteram ao longo da vida. Esse � o caminho para a estagna��o e a desmotiva��o. Pensam que suas qualidades s�o imut�veis.
2 – Mindset progressiva (de crescimento): nessa atitude mental est�o as pessoas que pensam que o talento pode ser desenvolvido, com tempo e persist�ncia. Acreditam que � poss�vel cultivar suas qualidades primordiais por meio do esfor�o e que cada um � capaz de se modificar e se desenvolver por meio da experi�ncia. � o caminho da oportunidade e do sucesso. Pensamento que pode ser fomentado em qualquer altura da vida, potenciando a autoestima, a motiva��o e a capacidade de concentra��o, gerando resili�ncia e paix�o pela aprendizagem — a base dos grandes feitos em todas as �reas.