Habilidades interpessoais podem substituir a educa��o formal no trabalho do futuro?
Com a transforma��o tecnol�gica, empresas buscam colaboradores com compet�ncias t�cnicas, mas o diferencial no processo de sele��o s�o as chamadas soft skills
Cada vez mais, as empresas mudam drasticamente a forma como recrutam e contratam profissionais. Elas concentram esfor�os maiores e est�o mais abertas para decifrar candidatos que se destacam pelas habilidades interpessoais, ou seja, as soft skills. A gradua��o formal em grandes universidades, p�s-gradua��o ou MBA sempre v�o ser cobradas, mas a capacidade subjetiva, atributos pessoais de dif�cil identifica��o e diretamente relacionados � intelig�ncia emocional, s�o qualidades comportamentais valiosas dentro das organiza��es.
As empresas do futuro (e as atuais com vis�o) tender�o a valorizar aspectos como o traquejo que o candidato tem nos meios digitais, a receptividade e a disposi��o em lidar com desafios diferentes e a facilidade em aprender fazendo.
A transforma��o, que assusta muitos, � que os empregadores passaram a entender que o mais valioso em um profissional n�o s�o os cursos que ele fez ou os diplomas que adquiriu, mas as habilidades comportamentais, as soft skills. Habilidades relevantes para o cargo e para a cultura de toda empresa.
A quest�o �: se, de um lado, as empresas reduzem as exig�ncias relacionadas � gradua��o, de outro, elas buscam identificar compet�ncias t�cnicas, comportamentais e anal�ticas que a vaga exige. E, uma vez contratados, os novos colaboradores s�o submetidos a treinamentos direcionados a complementar gaps de conhecimento pr�tico.
Na realidade, essa mudan�a de dire��o n�o � uma novidade. O novo � que mais e mais empresas passam a adotar tal comportamento. O Google, por exemplo, foi uma das corpora��es pioneiras a aderir a essa tend�ncia de recrutamento. Ou seja, n�o se exige gradua��o para vagas efetivas desde que o candidato tenha experi�ncia pr�tica na fun��o. Na Stone, um dos unic�rnios brasileiros, � a mesma coisa, e na PwC tamb�m, sendo que todas elas operam consistentes programas de desenvolvimento de profissionais.
Para Daniela Lib�neo, gerente executiva da Afferolab, a procura � por um profissional que seja colaborativo e tenha atua��o conectada �s tecnologias exponenciais ao mesmo tempo que com valores humanit�rios
(foto: Afferolab/Divulga��o)
Daniela Lib�neo, gerente executiva da Afferolab, empresa de solu��es digitais para aprendizagem e de treinamento presencial e blended para empresas, com mais de 20 anos de mercado, explica que h� v�rios estudos importantes sendo feitos sobre as soft skills mais determinantes na hora da contrata��o. “Gosto do parecer do F�rum Econ�mico Mundial, que ressalta alguns comportamentos determinantes aos profissionais do futuro, hoje. Afinal, estamos em plena Era da Transforma��o Digital. N�o podemos pensar que tais soft skills s�o para empresas do futuro. Eles s�o necess�rios justamente para impulsionar as organiza��es para a potencializa��o de necessidades que se apresentam j� no mundo. S�o eles: intelig�ncia emocional, pensamento anal�tico e inovador, criatividade, originalidade, iniciativa, pensamento cr�tico, capacidade de resolu��o de problemas complexos e skills de lideran�a e de influ�ncia social.”
No mercado do futuro (para muitos analistas, exig�ncias j� cobradas atualmente!), h� uma lista de habilidades que ter�o de ser comuns a todos os profissionais. Daniela Lib�neo destaca que “as soft skills que j� mencionei, seguramente, j� s�o desej�veis. Al�m do mindset digital, que inclui a atua��o por meio de metodologias �geis, pensamento em rede, colaborativo, atua��o conectada �s tecnologias exponenciais ao mesmo tempo que com valores humanit�rios”.
�reas com mais demandas no futuro
Nunca � f�cil dizer para os jovens de hoje qual gradua��o devem escolher para que, dentro de pouco tempo, n�o tenham de lidar com uma profiss�o obsoleta, ou mesmo, extinta. Como lidar com a velocidade da tecnologia e demandas que surgem como num passe de m�gica?
Para Daniela Lib�neo, entre os cargos mais demandados at� 2022 estar�o, no lado da tecnologia, os especialistas em com�rcio eletr�nico e m�dias sociais, cientistas de dados, desenvolvedores de softwares, especialistas em intelig�ncia artificial (IA), machine learning, big data, analistas de seguran�a e engenheiros em blockchain. “No outro lado estar�o as �reas cujas habilidades humanas ser�o evidenciadas, como aquelas relacionadas ao atendimento direto ao p�blico e �reas relacionadas � aprendizagem, como treinamento e desenvolvimento.”
O caminho para desenvolver as habilidades interpessoais n�o � dos mais f�ceis. Daniela Lib�neo aponta o autoconhecimento como fundamental, mas avisa que existem, atualmente, v�rias possibilidades para o seu desenvolvimento, entre assessments, coach, psicoterapia, al�m de empresas de consultoria, como a Afferolab, que desenvolvem solu��es educacionais que podem potencializ�-lo. “Contudo, aprimorar a comunica��o, a empatia, a escuta ativa e a vis�o sist�mica s�o outros skills fundamentais para o desenvolvimento das habilidades interpessoais e que tamb�m s�o potencializados em a��es para aprendizagem.”
Tamb�m � fundamental para esse novo profissional, conforme Daniela Lib�neo, o equil�brio t�cnico e emocional para a progress�o na carreira. “Um n�o sobrevive sem o outro. Por isso, o conceito de lifelong learning (aprender por toda a vida) deve ser levado a s�rio. Estar pronto para aprender, sempre, curioso em rela��o aos conhecimentos t�cnicos para sua atua��o, mas tamb�m em rela��o a si mesmo e ao mundo. De certa forma, o T-shaped professional, aquele capaz de expandir seus conhecimentos para diversas dire��es relevantes e, ao mesmo tempo, aprofund�-los para a execu��o imediata de sua atividade, � o que as empresas conectadas com a transforma��o digital desejam.”
Fazer ou n�o uma gradua��o?
Daniela Lib�neo alerta que a gradua��o permanece importante para o profissional, ainda que muitos a questionem e at� mesmo a descartem. “Entendo que n�o se pode afirmar que a gradua��o n�o ser� importante no futuro, de maneira generalista. Temos que ser cuidadosos com essa afirma��o. Contudo, � ineg�vel que, muitas vezes, a dist�ncia entre a academia e o dito 'mundo real' afasta os jovens, e os valores das novas gera��es os impulsionam para resolu��o de problemas globais nos quais governos e institui��es privadas n�o est�o atuando como deveriam. Ent�o, eles v�o fundar startups, buscar financiamentos coletivos, criar e aprender com tecnologias exponenciais para solucionar os problemas da humanidade. Conhe�o muitos desses meninos e meninas que abandonaram a faculdade (ou nem come�aram) e buscaram in�meras outras fontes de aprendizagem. Eles t�m o entendimento genu�no de que a��o/reflex�o/a��o, lifelong learning � que os levar�o aonde querem. Sem essa de 's� pr�tica'. S�o estudiosos e profundos no que lhes interessa.”
Para Daniela Lib�neo, com a mudan�a de posicionamento do mercado, a educa��o, a forma��o acad�mica, tamb�m precisa mudar. “Acredito que pouco a pouco vai se adaptando. Tem que se adaptar. Meus filhos nunca tinham ouvido falar de startups ou empreendedorismo social no col�gio at� o ano passado. Hoje, as escolas oferecem incubadoras ao lado de aulas de rob�tica, teatro, m�sica, biotecnologia, sustentabilidade, ecologia. Contudo, essa � a realidade de escolas particulares. O problema da educa��o brasileira � muito mais embaixo. Enquanto tivermos a desvaloriza��o da escola p�blica como temos, esses jovens que est�o fazendo a diferen�a como empreendedores e agentes de mudan�a continuar�o sendo casos de exce��o nesse Brasil enorme. Quanto �s forma��es acad�micas... ficam como assunto para uma pr�xima conversa. H� muito que ser feito.”
Capacidade de adapta��o e agilidade para reagir �s mudan�as
Carla Costa, gerente de desenvolvimento organizacional e de recrutamento e sele��o da Boehringer Ingelheim, afirma que a empresa valoriza muito as soft skills na hora de contratar. “Somos movidos pelas nossas pessoas e para elas investimos em um ambiente diversificado, colaborativo e aberto, tratando uns aos outros com respeito, confian�a e empatia. Em nossas contrata��es, consideramos que os atributos pessoais s�o t�o ou mais importantes quanto as capacidades t�cnicas na rotina de trabalho. As entrevistas baseiam-se na sele��o por compet�ncias, considerando os comportamentos essenciais para consolidar o presente e construir o futuro. Buscamos profissionais com alinhamento ao prop�sito de levar mais sa�de �s pessoas e aos animais, al�m de paix�o por desafios e por atuar por meio da colabora��o. Outro skill essencial � a capacidade de adapta��o e agilidade para reagir �s constantes mudan�as do mercado e da sociedade.”
Para Carla Costa, gerente de desenvolvimento organizacional e recrutamento e sele��o da Boehringer Ingelheim, valorizar as soft skills sustenta um ambiente de alta performance, criatividade e inova��o
(foto: Arquivo Pessoal)
Para Carla Costa, h� muitos benef�cios na valoriza��o das soft skills. “Acreditamos que cada indiv�duo traz consigo um potencial �nico de contribui��o, para al�m das habilidades t�cnicas. Nesse sentido, buscamos por profissionais que possam criar rela��es saud�veis e contribuir para o ambiente e para a cultura por meio de skills, como abertura ao di�logo, � diversidade de ideias e pensamentos e capacidade de adapta��o e aprendizado. Valorizando comportamentos como esses, sustentamos um ambiente de alta performance, criatividade e inova��o, com vistas ao nosso prop�sito.”
Carla Costa, assim como Daniela Lib�neo, ressalta que o amplo papel que as soft skills t�m ganhado na hora da sele��o de profissionais n�o significa que a forma��o t�cnica perdeu espa�o. “A capacidade t�cnica de um candidato tamb�m � importante, mas n�o � tudo, pois pode ser complementada pela diversidade do time e pela habilidade de aprender r�pido. Temos exemplos de profissionais que fizeram transi��es de carreira bem-sucedidas, sem ter os skills t�cnicos tradicionais para a posi��o. Particularmente, sinto-me orgulhosa em trabalhar numa empresa que oferece essas oportunidades e poder experimentar o que isso significa. Sou jornalista por forma��o, trabalhei por 10 anos na �rea de comunica��o corporativa e, na Boehringer, tive a oportunidade e a confian�a da empresa de assumir uma �rea de recursos humanos sem a experi�ncia de uma carreira tradicional em RH.”
Como contratar com base na soft skills
Conforme Carla Costa, todas as �reas devem considerar a contrata��o com base em soft skills. “Elas s�o essenciais para a sustentar a performance e o crescimento do profissional. Por outro lado, � preciso ponderar quais �reas exigem claramente um conhecimento t�cnico � fun��o, garantindo complementaridade de skills t�cnicos e softs na diversidade do time.”
Para que n�o haja um gap t�cnico, com eventuais falhas de aprendizado t�cnico dos colaboradores, Carla Costa revela que, no caso da Boehringer Ingelheim, acredita-se que todo indiv�duo � capaz de aprender e se desenvolver e valorizam-se aqueles que apresentam agilidade na adapta��o a novos cen�rios e colocam-se como protagonistas do seu desenvolvimento. “Para suportar esse crescimento, n�o somente em rela��o a skills t�cnicos, mas tamb�m compet�ncias comportamentais, temos uma plataforma que se baseia na teoria de que 70% do aprendizado ocorre a partir dos desafios do pr�prio trabalho. Nesse contexto, � essencial o constante feedback, a exposi��o a projetos desafiadores cross-funcionais e job rotation, por exemplo. Outros 20% constroem-se por meio do aprendizado social. Por isso, oferecemos o mentoring, coaching, feedback 360 graus e oportunidades de networking interno. Os 10% que completam o aprendizado v�m de cursos t�cnicos. Al�m de treinamentos de estagi�rios para lideran�a, facilitamos e incentivamos a atualiza��o em cursos t�cnicos, de p�s-gradua��o, de extens�o e de l�nguas.”
Necessidades que as organiza��es procuram nos profissionais:
– Intelig�ncia emocional
– Pensamento anal�tico e inovador
– Criatividade
– Originalidade
– Iniciativa
– Pensamento cr�tico
– Capacidade de resolu��o de problemas complexos