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Estado de Minas SEM ESFOR�O

Os profissionais que se orgulham de fazer o m�nimo poss�vel no trabalho

A express�o 'demiss�o silenciosa' pode ter sa�do de moda, mas muitos profissionais continuam n�o se esfor�ando al�m do necess�rio


19/08/2023 07:42 - atualizado 19/08/2023 12:54
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homem segura xícara de café em escritório
(foto: Getty Images)

Quando Hunter Ka’imi compareceu ao programa de TV americano Dr. Phil, em 2022, os produtores n�o chegaram sequer a mencionar seu sobrenome. Eles o identificaram apenas como um “demission�rio silencioso”.

“Acredito que a demiss�o silenciosa seja um protesto pelos direitos dos trabalhadores”, afirmou Ka’imi. “N�o acho que o trabalho seja o que h� de mais importante na minha vida, nem acho que deveria ser o mais importante na vida de uma pessoa.”




O programa dedicou meio epis�dio a este fen�meno, que come�ou no ver�o (do hemisf�rio norte) de 2022. Um usu�rio do TikTok chamado Zaid Khan postou ent�o um v�deo de si pr�prio explicando “esta express�o, chamada demiss�o silenciosa, quando voc� n�o est� saindo deliberadamente do seu emprego, mas est� abandonando a ideia de ir al�m das expectativas”.

A express�o viralizou quase instantaneamente. Ela dominou as manchetes e as hashtags. No TikTok, #quietquitting (“demiss�o silenciosa”, em ingl�s) teve cerca de 900 milh�es de visualiza��es at� o fechamento desta reportagem.

Ka’imi explica no seu v�deo: “n�o vou trabalhar em uma semana de 60 horas e me esfor�ar sozinho por um emprego que n�o cuida de mim como pessoa”. O v�deo acumulou mais de sete milh�es de visualiza��es, 38 mil coment�rios e mais de 43 mil compartilhamentos.

O jovem Ka’imi, de 23 anos, era gerente de um restaurante no Estado americano de Washington. Ele se tornou um s�mbolo do movimento, que rapidamente fez com que a demiss�o silenciosa se tornasse uma esp�cie de medalha de honra. Declarar sua demiss�o silenciosa logo se tornou um ato arrojado ou, pelo menos, virou tend�ncia.

Ka’imi afirma que aquilo aconteceu porque muitas pessoas se identificaram imediatamente com a sensa��o de estarem sendo usadas pelos seus empregadores. E os “demission�rios silenciosos” como ele simplesmente deram um nome a esta sensa��o.

“Acho que as pessoas vinham se sentindo frustradas h� tempos, mas n�o tinham as palavras para articular os motivos, a n�o ser ‘estou com raiva do meu patr�o’”, segundo ele.

“Quando a conversa mudou para a demiss�o silenciosa, a quest�o passou a ser sobre a cultura do trabalho, o capitalismo e a explora��o. Foi quando muitas pessoas perceberam, ‘oh, na verdade, � disso que tenho raiva”, explica Ka’imi.

Esta tend�ncia pode j� ter sa�do do linguajar di�rio, mas ele e os especialistas afirmam que o esp�rito da demiss�o silenciosa permanece forte.

Popularidade disparou

A popularidade da demiss�o silenciosa come�ou durante a pandemia, “quando as pessoas reavaliaram suas experi�ncias no trabalho, suas rela��es com seus empregadores e sua vida em geral”, segundo Katie Bailey, professora de trabalho e emprego do King’s College de Londres.

“Como muitas tend�ncias nas redes sociais, ela decolou devido aos comentaristas: acad�micos, economistas, outros especialistas no mercado de trabalho e assim por diante, todos estavam falando sobre ela, o que fez com que ela ganhasse ainda mais import�ncia”, conta a professora. “A express�o foi adotada e usada em diferentes formas por diferentes pessoas.”

Para Bailey, a express�o entrou com muita for�a no zeitgeist (o esp�rito da �poca) devido �s intensas rea��es dos profissionais ao conceito, resumido em uma express�o curta.

Embora muitas pessoas se identificassem com a situa��o (como os seguidores que idolatraram Ka’imi), outras passaram a difamar os demission�rios silenciosos.

No programa do Dr. Phil, o planejador financeiro Brent Wilsey, de San Diego, nos Estados Unidos, afirmou que aquilo era simplesmente pregui�a.

“Acho que [a demiss�o silenciosa] realmente se resumiu a ‘n�s contra eles’”, afirma Ka’imi. Ele esclarece que, embora parecesse algo arrojado e proibido, a demiss�o silenciosa, na verdade, nunca foi quest�o de rebeli�o.

“Ela significa simplesmente fazer o seu trabalho”, explica Ka’imi. “N�o � um protesto exagerado, nem uma ret�rica, digamos, de sabotar seu empregador, chegar tarde todos os dias ou roubar a sua empresa.”

“A demiss�o silenciosa diz que, se sou contratado para fazer A, B e C, isso � tudo que eu irei fazer”, prossegue ele. “� a resist�ncia a fazer X, Y e Z, que n�o est�o na descri��o do seu cargo e pelo qu� voc� n�o est� sendo pago.”

Bailey defende que o mercado de trabalho historicamente restrito, em alguns pa�ses, com empresas lutando para preencher as vagas e reter os funcion�rios, ajudou a encorajar os profissionais em demiss�o silenciosa a irem a p�blico nas redes sociais, sem medo de serem demitidos.

Ka’imi conta que simplesmente n�o teve medo de que os seus patr�es assistissem ao v�deo. Na verdade, ele esperava que eles vissem, mesmo se, com isso, sua demiss�o silenciosa se tornasse, digamos, menos silenciosa.

“Eu n�o me importei”, ele conta.

Ka’imi afirma ainda que ficou orgulhoso quando pediu ao seu patr�o para sair mais cedo para ir ao programa de TV e contar explicitamente o quanto ele n�o gostava do seu trabalho.

Seus empregadores podem n�o ter ficado muito felizes, mas tamb�m n�o discutiram. Ao falar abertamente sobre a quest�o, Ka’imi esperava poder trazer alguma mudan�a significativa, tanto para o seu emprego quanto em escala mais ampla.


mãos e computador
Discuss�es sobre a demiss�o silenciosa podem ter diminu�do, mas isso n�o significa que os profissionais tenham abandonado essa pr�tica (foto: Getty Images)

'Atualmente, a demiss�o silenciosa � o status quo'

A demiss�o silenciosa era uma moda, segundo Katie Bailey, no sentido de que a express�o perdeu relev�ncia em quest�o de poucas semanas.

As pesquisas pela express�o no Google atingiram seu pico em agosto de 2022 e, desde ent�o, os n�meros minguaram.

As discuss�es sobre a demiss�o silenciosa podem ter esmorecido, mas isso n�o significa que os profissionais tenham abandonado essa pr�tica.

“Quest�es subjacentes sobre nossas horas de trabalho e como nos dedicamos ao trabalho – acho que [a demiss�o silenciosa] continua por a�”, afirma Bailey.

N�s podemos ter deixado de rotular esse comportamento como demiss�o silenciosa, mas as pessoas est�o definindo mais fronteiras em torno do seu tempo e energia.

Para a professora, “os profissionais est�o mais conscientes sobre a reafirma��o da autonomia e controle e dizendo ‘sou um ser humano e existem outras coisas na minha vida al�m do trabalho’”.

Bailey destaca que alguns profissionais podem agora estar dedicando menos aten��o a esse comportamento, para n�o prejudicar os seus empregos e proteger sua renda “devido � situa��o financeira enfrentada por muitas pessoas com a infla��o crescente e a deteriora��o da economia”.

Mas, obviamente ou n�o, dados do instituto Gallup indicam que a maior parte dos profissionais ainda pratica a demiss�o silenciosa. A edi��o de 2023 do relat�rio sobre o Estado do Mercado de Trabalho Global, publicado pelo instituto, afirma que seis em cada 10 empregados em todo mundo est�o psicologicamente desligados da sua organiza��o, mesmo quando trabalham nas horas contratadas.

Hunter Ka’imi afirma que “depois que o movimento se reduziu um pouco, acho que as pessoas perceberam que existe uma forma muito mais saud�vel de trabalhar”.

“� normal dizer ‘vou fazer apenas o m�nimo poss�vel; vou chegar para o meu turno e sair quando ele acabar’. Atualmente, a demiss�o silenciosa � o status quo.”

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Worklife.


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