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Estado de Minas

Para investigadores, assassino de primo de Bruno era "profissional"

Pol�cia apura se queima de arquivo foi o que motivou execu��o da principal fonte de informa��es na trama que levou ao sumi�o de Eliza Samudio.


postado em 23/08/2012 06:00 / atualizado em 23/08/2012 08:48

Uma equipe da Divisão de Crime Contra a Vida (DCcV) esteve analisando a cena do crime e levantando informações com parentes e amigos do rapaz(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
Uma equipe da Divis�o de Crime Contra a Vida (DCcV) esteve analisando a cena do crime e levantando informa��es com parentes e amigos do rapaz (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)


Queima de arquivo? Vingan�a? Outro crime para complicar ainda mais o j� excessivamente complexo caso Bruno? Seis tiros disparados friamente, ao que indicam as primeiras evid�ncias por um matador de aluguel, calaram ontem a principal testemunha das investiga��es sobre o sequestro e morte da modelo Eliza Samudio, namorada do goleiro Bruno Fernandes de Souza, e lan�aram ainda mais perguntas sobre o epis�dio j� cercado de mist�rio. Uma das mais importantes: por que S�rgio Rosa Sales, o �nico personagem da trama libertado gra�as � disposi��o de colaborar com a pol�cia, andava sem qualquer prote��o, a ponto de ser eliminado em plena luz do dia, ap�s ser perseguido e implorar pela vida?

Em liberdade h� 378 dias, S�rgio, 24 anos, conhecido como Camelo, foi assassinado pela manh�, a poucos metros de casa, no Bairro Minasl�ndia, Regi�o de Venda Nova, em Belo Horizonte, quando sa�a para o primeiro dia de trabalho em um servi�o de pintura. Testemunhas viram um homem em uma moto vermelha, de capacete rosa, perseguindo o rapaz pelas ruas, com um rev�lver 38 na m�o. Baleado nas costas, S�rgio ainda conseguiu correr por tr�s quarteir�es, gritou por socorro e tentou se refugiar no quintal da casa de amigos. Encurralado, foi atingido outras vezes: bra�o, peito, barriga, m�o e rosto. Morreu na hora.

“Trabalho de profissional”, na opini�o de uma fonte da Pol�cia Civil que preferiu o anonimato. Uma equipe da Divis�o de Crime Contra a Vida (DCcV) esteve analisando a cena do crime e levantando informa��es com parentes e amigos do rapaz. O delegado Breno Pardini diz que as apura��es considerar�o todas as hip�teses, mas admite que as caracter�sticas do assassinato indicam execu��o e n�o descarta a possibilidade de queima de arquivo. “Todos sabem que o S�rgio era um dos acusados da morte de Eliza e que foi a pessoa que relatou detalhes sobre o crime. N�o podemos descartar esse fato, mas tamb�m n�o podemos ignorar outras linhas”, disse o policial, que para isso pretende refazer os passos dos �ltimos dias do jovem.

Breno Pardine confirmou, citando testemunhas, que o homic�dio foi cometido por apenas um homem. Segundo ele, o executor agiu tranquilamente: parou a moto, carregou a arma, olhou para tr�s e atirou. Depois, subiu no ve�culo e fugiu.

Para um agente da Civil ouvido pelo Estado de Minas, essas caracter�sticas refor�am a suspeita de tratar-se de matador profissional, pois o criminoso agiu em plena luz do dia e se comportou friamente, mesmo na presen�a de v�rias pessoas. O assassino tampouco demonstrou dificuldade no manuseio do rev�lver, chegando a carregar a arma quando encurralou a v�tima. “Parece que j� sabia, inclusive, da rotina do S�rgio. N�o � um bandido qualquer e tamb�m n�o deve ser ningu�m da regi�o”, disse a fonte. A suspeita leva inclusive outros envolvidos no caso Bruno a temer uma “opera��o limpeza” para apagar testemunhas, como afirmou ontem o advogado Jos� Arteiro, assistente da acusa��o, que lembra o envolvimento de pessoas ligadas � pol�cia no epis�dio do sumi�o de Eliza.

A fonte da Pol�cia Civil ouvida pelo EM acrescentou que o criminoso teria abordado S�rgio chamando-o de estuprador. O rapaz, teria reagido, afirmando que deveria estar sendo confundido com outra pessoa, antes de ser baleado. “Pode ser uma estrat�gia para tirar o foco da verdadeira motiva��o. Mas tudo ser� checado”, afirmou o policial.

Queima de arquivo

Para o delegado Edson Moreira, que comandou as investiga��es do sumi�o de Eliza Samudio e estava � frente do Departamento de Investiga��o de Homic�dios e Prote��o � Pessoa (DIHPP) na �poca, n�o h� d�vida de que houve queima de arquivo. “A morte de S�rgio interessa a todos os envolvidos no caso, especialmente aos cabe�as Bruno, Bola (o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, acusado de matar Eliza) e Macarr�o (Lu�s Henrique Rom�o, amigo do goleiro), que continuam presos”, diz o delegado.

Ainda segundo Moreira, toda a investiga��o foi ancorada nos depoimentos de S�rgio e de outro primo de Bruno, J., que tinha 17 anos na �poca do crime. “O S�rgio viu a Eliza machucada, a queima da mala dela e a chegada do Macarr�o depois da morte. Tinha informa��es important�ssimas”, completa o policial.

O atual chefe do DIHPP, Wagner Pinto, � mais cauteloso, mas n�o descarta a possibilidade de queima de arquivo. “Temos um quadro de execu��o sum�ria, mas s� trabalhamos com informa��es e fatos concretos. Normalmente tamb�m � poss�vel perceber esse quadro na disputa do tr�fico, por exemplo. Para isso precisamos saber o que S�rgio fazia e com quem andava. Nada est� descartado.”

Parentes e amigos do rapaz afirmam que, desde que deixou a Penitenci�ria Dutra Ladeira, em Ribeir�o das Neves, o jovem vinha levando uma vida tranquila: n�o era usu�rio de drogas, tinha uma namorada, n�o tinha filhos e gostava de jogar futebol. Um primo da v�tima, que pediu para n�o ser identificado, acredita que a motiva��o do crime seja mesmo queima de arquivo. “O S�rgio era um rapaz muito bom, mas n�o ficava de boca fechada. Falava para todo mundo sobre a hist�ria da morte da Eliza. Pelo que sabemos, n�o estava sofrendo nenhuma amea�a e tamb�m n�o se envolveu em nenhuma confus�o para que algu�m o quisesse morto.”

Por�m, a Pol�cia Civil informou que vai investigar uma desaven�a recente ocorrida entre S�rgio e rapazes vizinhos, para checar todas as hip�teses surgidas durante as primeiras apura��es. A briga, entretanto, teria sido por motivo corriqueiro. Ser�o verificadas tamb�m informa��es de que o jovem teria envolvimento com uma mulher casada.

Amizade de inf�ncia com o goleiro

S�rgio Rosa Sales e o goleiro Bruno foram criados pela av� Estela de Souza e moraram juntos desde os 15 anos de S�rgio. Quando deslanchou no futebol, o atleta levou-o para morar em S�o Paulo, quando defendia o Corinthians. J� no Rio de Janeiro, como capit�o do Flamengo, Bruno convidou o primo para ajud�-lo com tarefas simples. Por cinco anos, os dois dividiram um apartamento de luxo na Barra da Tijuca, onde Dayanne, mulher do jogador,  tamb�m morava com as duas filhas.

Em 2008, quando Luiz Henrique Rom�o, o Macarr�o, tamb�m se mudou para a capital fluminense, o primo do goleiro  e ele se desentenderam, segundo S�rgio porque Macarr�o tinha ci�mes de Bruno. Depois da brigas, o atleta mandou o primo de volta para BH, para viver na casa dos pais, no Bairro Minasl�ndia, em um im�vel comprado pelo goleiro.

Pela acusa��o de ter participado do desaparecimento de Eliza Samudio, S�rgio iria a j�ri popular por homic�dio triplamente qualificado, sequestro, c�rcere privado e oculta��o de cad�ver. A testemunha havia conseguido a revoga��o da pris�o justamente por ter contribu�do com as investiga��es sobre o desaparecimento da modelo, em julho de 2010. O rapaz auardava o julgamento em liberdade, sem qualquer tipo de prote��o.


O que ele disse

S�rgio prestou o primeiro depoimento � pol�cia em 8 de julho de 2010, j� preso temporariamente durante inqu�rito que apurava o desaparecimento de Eliza Samudio. Contou que, um m�s antes, em 8 de junho, esteve no s�tio de Bruno em Esmeraldas. Naquele dia, disse que viu Eliza “quietinha no sof� com o filho no colo, com uma brecha, um buraco muito grande na cabe�a”. Na vers�o que deu � Justi�a, em 10 de novembro de 2010, S�rgio negou que Eliza estivesse machucada na cabe�a.

S�rgio disse � pol�cia que viu quando Macarr�o deixou o s�tio com Eliza e o beb�. Ela levava uma mala vermelha e J., o menor que tamb�m � primo de Bruno, seguiu de carro com eles. Em um outro carro, Bruno saiu com um amigo minutos antes. Ao falar � Justi�a, por�m, S�rgio voltou atr�s e disse que Bruno ficou com ele no s�tio.

Na primeira vers�o, S�rgio afirmou ter visto quando Macarr�o e o menor voltaram apenas com o beb� e a mala vermelha, horas depois de deixar o s�tio com Eliza. Ele contou que a bagagem foi queimada pr�ximo � cisterna, nos fundos da casa. Em novo depoimento em 15 de julho, reafirmou: “Eu vi eles (sic) colocando fogo na mala. O z�per estava aberto, deixando as roupas vis�veis”. E disse que Dayanne, ex-mulher do goleiro, tamb�m viu a cena.

S�rgio relatou aos policiais a hist�ria que teria ouvido: o grupo encontrou um homem negro, de barba e careca, que os levou para um lote grande, com a casa no meio e um canil de rotweillers ao fundo. E disse: “Eles relataram para mim que o homem deu uma gravata em Eliza e matou ela (sic) enforcada. E que quando caiu no ch�o, o Macarr�o deu um tanto de chutes. E que o cara perguntou se eles queriam ficar para ver o resto (...) porque o homem ia dar o cad�ver para os cachorros”.

O primo do goleiro contou ter perguntado a Bruno se n�o era melhor ter resolvido na Justi�a e que ele teria respondido: “J� est� feito, cara”.

No depoimento � pol�cia no dia 15, S�rgio contou que Macarr�o queria que ele ficasse no Rio de Janeiro e que fez uma amea�a: “Se voc� abrir o bico, j� sabe. Viu o que aconteceu com a Eliza?” S�rgio afirmou ainda que n�o adiantaria mais oferecerem advogados a ele. “J� abri o bico e falei a verdade.”

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