A educa��o � aliada poderosa para consolidar o estado democr�tico, refor�ar valores de solidariedade e de respeito ao pr�ximo. A educa��o � um instrumento muito eficiente para incutir nos indiv�duos uma postura ambientalmente respons�vel. Ah! A educa��o � a respons�vel pelo sucesso de povos, pela ascens�o social de tantos ... Ah! A educa��o.
O poder da educa��o � o problema.
Da mesma forma que induz as pessoas para uma postura, digamos, correta e cidad�, a educa��o pode, tamb�m, ser o caminho certeiro para o preconceito fincar ra�zes inamov�veis.
Um triste exemplo, entre tantos, � o caso da escravid�o negra no Brasil. At� hoje, quando pergunto em sala de aula por que os portugueses optaram pela escravid�o dos negros africanos no Brasil, em detrimento da escravid�o dos �ndios, escuto respostas terr�veis e demonstradoras de uma ignor�ncia enorme ... e perigosa.
Vamos l�. Quando questionados sobre o porqu� da op��o portuguesa, muitos respondem que o negro j� era adaptado � escravid�o, que o ind�gena resistia e fugia, que os nativos n�o sabiam trabalhar na lavoura, que a Igreja protegia os ind�genas .... Quanta bobagem junta. Mas, se fosse somente bobagem, menos mal. A quest�o, � que essas bobagens foram ensinadas nas escolas, foram eivadas de um verniz de sabedoria e fincadas na cabe�a dos alunos. Esse � o problema maior, pois cria-se o preconceito com uma aura de verdade, com uma tatuagem de ci�ncia e ... pronto, nunca mais o aluno esquece e, o pior e mais grave, perpetua esse saber adquirido incorretamente na sua fam�lia, no trabalho e na vida.

E a pergunta continua sem resposta. Por que os portugueses optaram pela escravid�o negra africana no Brasil? Em primeiro lugar, a explora��o da plantation e da minera��o aur�fera exigia bra�os em grande quantidade, o que n�o era poss�vel arregimentar na Europa. Assim, na din�mica da coloniza��o, a escravid�o tornou-se o tipo de trabalho economicamente mais adequado.
E por que o negro foi a op��o? A pergunta ainda continua sem resposta.
Havia um neg�cio muito rent�vel para a burguesia portuguesa: O tr�fico negreiro. Esta atividade gerava lucros fant�sticos para os lusitanos. Assim, a venda de escravos negros para a grande lavoura e para as minas, representava mais um neg�cio na engrenagem da coloniza��o do Brasil. A escravid�o do ind�gena (que ocorreu em escala pequena) n�o gerava lucros para a metr�pole, � medida que o lucro da comercializa��o dos cativos locais ficava no Brasil.
Portanto, os lucros do tr�fico negreiro foram a causa fundamental para que os portugueses optassem pelo escravismo negro aqui em Pindorama.
Ora, tanto os ind�genas quanto os negros fugiam, resistiam, lutavam contra a escravid�o. O trabalho bra�al, ao qual foram sujeitos, n�o exigia conhecimento t�cnico pr�vio, qualquer um poderia ser escravo. A posi��o da Igreja, por sua vez, pouco interferiu, pois, na Am�rica Espanhola, os nativos foram barbarizados no trabalho compuls�rio diante dos olhos da Igreja Romana ... e ficou por isso mesmo. Ent�o, os argumentos que s�o apresentados em muitas escolas por professores sem conhecimento, n�o se sustentam � luz de um estudo mais cuidadoso da Hist�ria do Brasil.

E, retornando ao ponto de partida, verificamos que a educa��o equivocada contribui para solidificar posturas racistas, entranhadas num suposto saber cient�fico. Ainda estudamos nas salas de aula que os negros eram adaptados � escravid�o e, por isso, foram escravizados.
Esse � o grande problema de um Pa�s como o Brasil. At� hoje, em alguma escola, muitas crian�as, brancas, negras e mesti�as est�o aprendendo, pela voz s�bia de um professor, que o negro � inferior. E v�o crescer e virar adultos preconceituosos.
� assim que o racismo se imp�e. E � na educa��o s�ria e comprometida que ele deve ser combatido, a fim de que a primeira li��o a ser aprendida na escola seja a de que n�o existe ra�a adaptada � escravid�o. A ra�a humana, isso sim, nasceu para ser livre.
Newton Miranda � arquiteto e professor de Hist�ria do Percurso Pr�-vestibular e Enem.