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Estado de Minas SOCIOLOGIA

A greve dos caminhoneiros e o Brasil em colapso

O que a sociologia pode nos dizer sobre isso.


postado em 29/05/2018 12:00 / atualizado em 30/05/2018 10:13

Estamos acompanhando, desde o �ltimo 21 de maio, as manifesta��es dos caminhoneiros pelo Brasil. Unidos e alinhados, com reivindica��es pr�prias, estes trabalhadores pararam seus caminh�es e as estradas do Brasil, do sul ao norte, do leste a oeste. Cargas n�o s�o entregues, supermercados, hospitais, ind�stria e com�rcio n�o recebem suas mercadorias e insumos, postos de combust�vel est�o com seus tanques vazios h� dias, e a popula��o, vivendo um misto de revolta e apoio � causa dos caminhoneiros, encontra-se desnorteada.

(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)
(foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

 

Depois de nove dias de paralisa��es, escolas encontram-se fechadas, cirurgias foram canceladas, o servi�o p�blico n�o funciona, o agroneg�cio se desespera e a economia ainda contabiliza os bilh�es em preju�zos. Enfim, a sociedade convulsiona. O caos � real e, vale salientar, mais para uns do que para outros, uma vez que em uma sociedade com tantas diferen�as sociais, os efeitos s�o sentidos em graus e propor��es distintas, principalmente entre ricos e pobres. Mas mais do que narrarmos os atuais acontecimentos e suas consequ�ncias, o objetivo desse artigo � tentarmos compreender os atuais acontecimentos � luz da sociologia de Durkheim.


�mile Durkheim

 

David �mile Durkheim (1858 – 1917) � um dos principais cl�ssicos da sociologia, inclusive foi o respons�vel pela introdu��o dessa disciplina nas universidades, como ci�ncia acad�mica. De tend�ncia ideol�gica conservadora, ele corresponde a uma corrente sociol�gica funcionalista, cuja teorias e metodologia de car�ter comparativos, consolidaram a sociologia como ci�ncia social. Suas principais obras foram “A divis�o do trabalho social” (1893), “As regras do m�todo sociol�gico” (1894), “O suic�dio” (1897).

Durkheim e uma de suas obras primas: Da Divisão do Trabalho Social.(foto: Wikipedia)
Durkheim e uma de suas obras primas: Da Divis�o do Trabalho Social. (foto: Wikipedia)

A partir da ideia de funcionalismo, Durkheim compreende a sociedade como um organismo vivo, em que cada membro tem sua fun��o espec�fica, sendo que, como em uma grande rede, todos os indiv�duos est�o interligados e interdependentes uns dos outros. Cada um cumpre a sua fun��o, que depende e tamb�m garante a atividade dos demais, e assim sucessivamente. Cada membro da sociedade, tendo uma atividade profissional especializada, passa a depender cada vez mais do outro. Esse fen�meno � denominado de “divis�o social do trabalho”, que promove o maior desenvolvimento econ�mico e social da sociedade como um todo, ou seja, seu progresso. Desse modo, h� condutas e valores que devem ser seguidos e obedecidos por todos os indiv�duos, sem exce��o.

 

Tais comportamentos, valores, princ�pios, envolvem todos os aspectos da vida de todos os homens da sociedade, desde sua forma de agir, at� seus sentimentos, religi�o, passando pelo trabalho, estudo e h�bitos cotidianos. Espera-se que todos os membros de uma determinada sociedade obede�am a tais regras, que Durkheim chama de ‘FATO SOCIAL’.

 

>> Lista de Exerc�cios sobre Durkheim e resolu��o em v�deo. 

 

Em outras palavras, na vida em sociedade o homem se defronta com regras de conduta que n�o foram diretamente criadas por ele, mas que existem e s�o aceitas coletivamente, devendo ser seguidas por todos. As regras, os Fatos Sociais, s�o exteriores ao indiv�duo (n�o foi ele que escolheu), s�o gerais (servem para todos) e s�o tamb�m coercitivas (exercem sobre o indiv�duo uma press�o). Para a sociedade funcionar, todos deveriam obedecer tais regras.

 

Mas e quando algumas dessas regras n�o s�o cumpridas? Durkheim n�o � ing�nuo e entende que nem todos os indiv�duos cumprir�o tais regras. Obviamente que os homens s�o diferentes e, livres, podem fazer escolhas. Inclusive a escolha de desobedecer o que os Fatos Sociais ditam. A esse fato, o soci�logo denomina de Patologia e Anomia social. A patologia social ocorre quando alguns indiv�duos n�o obedecem a alguns fatos sociais. Por exemplo, quando uma parcela dos jovens n�o estuda, sendo que estudar constitui um Fato Social importante. Tal desobedi�ncia � normal que ocorra em uma sociedade e afeta, em alguma medida, o andamento da mesma, mas n�o compromete sua perman�ncia e sustentabilidade.

 

A anomia social j� � mais grave. Ocorre quando v�rios Fatos Sociais s�o descumpridos sistematicamente e, com o agravamento constante dessas desobedi�ncias, a sociedade, como um todo, encontra-se comprometida. Como um corpo que � acometido de v�rias doen�as que tornam-se cada vez mais graves e podem levar o corpo � morte.

 

A greve dos caminhoneiros do Brasil  

 

O Brasil vive uma patologia ou uma anomia social? Sem d�vida, as paraliza��es dos caminhoneiros atingem a todos n�s, indistintamente. Mas, � luz da sociologia de Durkheim, podemos afirmar que tais fatos constituem, ainda, uma Patologia social.

 

Apesar dos efeitos diversos, n�o podemos afirmar que a sociedade brasileira colapsou, encontra-se moribunda, a ponto de perder por completo os rumos, como se estiv�ssemos, por exemplo, em uma guerra civil. Ainda as rela��es sociais s�o administr�veis, os efeitos, por vezes, graves, ainda s�o contorn�veis. Mas a pergunta mais importante �: qual � a possibilidade de uma Patologia Social trazer efeitos bons e favor�veis para o pa�s? Uma sociedade que vivencia uma Patologia poder� sair melhor e mais estruturada desse acontecimento?

 

Tal como um corpo que apresenta sintomas de uma doen�a, se bem tratado e remediado a tempo, pode reerguer-se e tornar-se, por vezes, mais resistente, a sociedade tamb�m pode viver esse mesmo processo. Os acontecimentos que estamos vivendo devem ser analisados, por mais dif�cil que isso seja, como um momento oportuno para que melhorias sejam efetivamente implantadas.

 

‘Tratamentos’ efetivos, que n�o apenas mascarem as doen�as sociais, mas que promovam a cura para problemas hist�ricos e graves da sociedade brasileira. Medidas econ�micas, pol�ticas e sociais que garantam a sustentabilidade da sociedade que, diante de in�meros sintomas pol�ticos, econ�micos, sociais e jur�dicos, mostra sua insatisfa��o, dores e hemorragias, que devem ser tratadas adequadamente por gente competente, antes que seja tarde demais. 

 

Richard Garcia � professor de Filosofia e Sociologia do Determinante Pr�-Vestibular.

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