Recentemente, o presidente Jair Bolsonaro criou muita pol�mica ao orientar os quart�is a comemorarem a "data hist�rica" do dia 31 de mar�o de 1964, quando um golpe militar derrubou um governo eleito democraticamente, e iniciando um regime autorit�rio que durou 21 anos. Chamada tamb�m de "Revolu��o de 1964" e "Contrarrevolu��o de 1964" por simpatizantes do regime militar, o "Golpe de Estado de 1964" encerrou o mandato do presidente Jo�o Goulart (Jango). Com o fim do regime democr�tico, cinco generais se sucederam no poder e estabeleceram uma ditadura civil-militar at� as elei��es indiretas de Tancredo Neves e Jos� Sarney em 1985.

O Palco do Golpe
Em 1961, o presidente brasileiro J�nio Quadros renunciou ao mandato no mesmo ano de sua posse, gerando uma grave crise pol�tica. Quem deveria substitu�-lo automaticamente era o vice-presidente, Jo�o Goulart, segundo a Constitui��o de 1946. Por estar na China e por ser do mesmo partido de Get�lio Vargas (PTB), os militares acusaram Jango de ser comunista e o impediram de assumir seu lugar como mandat�rio no regime presidencialista.
Depois de uma negocia��o com os militares, lideradas principalmente pelo cunhado de Jango, Leonel Brizola, na �poca governador do Rio Grande do Sul, os apoiadores de Jango e a oposi��o acabaram fazendo um acordo pol�tico pelo qual se criaria um regime parlamentarista, passando ent�o Jo�o Goulart a ser Chefe-de-Estado.

Em 1963, por�m, houve um plebiscito, e o povo optou pela volta do regime presidencialista. Jo�o Goulart, finalmente, assumiu a presid�ncia da Rep�blica com plenos poderes, e durante seu governo tornaram-se aparentes v�rios problemas estruturais na pol�tica brasileira, acumulados nas d�cadas que precederam o golpe e disputas de natureza internacional, no �mbito da Guerra Fria, que desestabilizaram o seu governo. Para ser ter uma ideia da exalta��o do per�odo, o governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, ao jornal Los Angeles Times, convocou as For�as Armadas do EUA a "derrubar os comunistas que estavam no poder".
Mesmo n�o sendo comunista e muito menos autorit�rio, Jango foi visto erroneamente como um pela sociedade conservadora brasileira, devido ao seu Plano Trienal e medidas de reforma agr�ria e a reforma urbana. Em 1964, houve um movimento de rea��o, por parte desses setores – notadamente as For�as Armadas, o alto clero da Igreja Cat�lica e organiza��es da sociedade civil, apoiados pela pot�ncia dominante da �poca, os Estados Unidos] – ao temor de que o Brasil viesse a se transformar em uma ditadura socialista similar � praticada em Cuba. In�meras entidades anticomunistas foram criadas naquele per�odo, e seus discursos associavam Goulart, sua figura e seu governo, e o "perigo comunista" ou "perigo vermelho". Esse discurso, que at� fins de 1963 ficara confinado a setores da extrema-direita, conquista rapidamente maior espa�o e acaba por propiciar uma uni�o de setores heterog�neos numa frente favor�vel � derrubada do presidente.
No dia 13 de mar�o de 1964, data da realiza��o do Com�cio da Central do Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, perante trezentas mil pessoas, Jango decreta a nacionaliza��o das refinarias privadas de petr�leo e a desapropria��o, para fins de reforma agr�ria, de propriedades �s margens de ferrovias, rodovias e zonas de irriga��o de a�udes p�blicos. No mesmo com�cio e com um discurso radical, Brizola defendeu o fechamento do Congresso Nacional e sua substitui��o por uma Assembleia Nacional Constituinte, que deveria ser integrada por "camponeses, oper�rios, muitos sargentos e oficiais nacionalistas". Desencadeou-se uma crise no pa�s, com a economia j� desordenada e o panorama pol�tico confuso. A oposi��o militar ao governo cresce especialmente a partir de 25 de mar�o, com a rebeli�o dos marinheiros, que estavam amotinados no Sindicato dos Metal�rgicos da Guanabara, reivindicando o reconhecimento de sua entidade representativa. Fuzileiros navais, enviados ao local para prender os rebelados, acabaram por aderir � revolta. A quebra da hierarquia e da disciplina na Marinha � um argumento decisivo em favor do golpe militar, em nome da restaura��o da ordem. Esse acontecimento foi um desastre pol�tico para Jango e o in�cio do fim do seu governo.
No dia 28 de mar�o de 1964, na cidade de Juiz de Fora, os generais Ol�mpio Mour�o Filho e Od�lio Denys se reuniram com o governador de Minas Gerais, o banqueiro Magalh�es Pinto para o estabelecimento de uma data para o in�cio da mobiliza��o que culminaria com o golpe militar de 1964. Apesar deles terem planejado a��o para depois de 8 de abril, o General Mour�o resolver partir com suas tropas no dia 31 de mar�o no Rio de Janeiro. Foi in�cio do golpe, que logo foi conquistando o apoio dos outros militares, parlamentares, imprensa e da maior parte da classe m�dia.
Apesar de ainda ter apoio de parte dos militares e setores populares, Jango se recusou resistir pois fora informado que os golpistas tinham o apoio da armada americana, que estava se encaminhando para o Brasil, o que poderia conflagrar uma guerra civil. O presidente deixou o Brasil com a fam�lia e refugiou no Uruguai, morrendo em 1976 em Mercedes na Argentina.

O Congresso Nacional, em elei��o no dia 11 de abril de 1964, elegeu Presidente da Rep�blica o marechal Castelo Branco, ent�o Chefe do Estado-Maior do Ex�rcito. Em seus primeiros 4 anos, o governo foi endurecendo e fechando o regime aos poucos. Vieram os atos institucionais, artificialismos criados para dar legitimidade jur�dica a a��es pol�ticas contr�rias � Constitui��o Brasileira de 1946, culminando numa ditadura. O per�odo compreendido entre 1968 e 1975 foi determinante para a nomenclatura hist�rica conhecida como "anos de chumbo".
Segundo o coronel e parlamentar Jarbas Passarinho, que vivenciou o acontecimento, o golpe de 64 foi causado pelo "[]...apoio da sociedade brasileira, da imprensa, praticamente un�nime, da maioria esmagadora dos parlamentares no Congresso, da Igreja, maci�amente mobilizada nas manifesta��es das enormes passeatas, as mulheres rezando o ter�o e reclamando liberdade, tudo desaguou na deposi��o de Jo�o Goulart, sem o disparo de um tiro sequer, o povo aclamando os militares".
Artigo de Hist�ria do Percurso Pr�-Vestibular e Enem.