Alan Rios*

Para os amantes da filosofia, S�crates foi um dos mais importantes pensadores da Gr�cia Antiga. Para os amantes do futebol, esse � um dos �dolos do esporte nacional. J� para os irm�os Arthur e Andr� Costa, o cachorrinho que ganhou o nome famoso � um amor, daqueles que ensinam sobre o mundo e ajudam a superar problemas. Os garotos, de 12 e 9 anos, respectivamente, dificilmente largam S�crates, presente do tio veterin�rio. Mas essa rela��o das crian�as com os pets nem sempre foi assim.
Bastava ver um cachorro na rua que os meninos se sentiam inseguros. Casa com animal era melhor nem visitar. O medo pode ter vindo da m�e, que nunca se sentiu bem com os pets, mas tamb�m foi dela que partiu a solu��o para essas e outras complica��es.
Diagnosticada com fibromialgia, a odontopediatra Ludimila da Costa, de 43, ouviu um conselho, para ela dif�cil de seguir. “Quando descobri a doen�a, que tem cunho psicol�gico, a m�dica me aconselhou a arrumar um cachorro. Porque, com ele, voc� abstrai os problemas, tem que dar comida, dar banho, limpar…”, conta.
Os benef�cios terap�uticos dos pets n�o param por a�, como percebeu a veterin�ria Nayara Brea com estudos e pr�ticas � frente do Projeto Pet Amigo, da Associa��o de Volunt�rios do Hospital de Apoio de Bras�lia. Para Nayara, a intera��o frequente com animais traz diversos benef�cios, descritos at� em artigos cient�ficos. “Podemos citar a diminui��o da percep��o da dor, o aumento dos n�veis de endorfina, que ajuda a diminuir os efeitos da depress�o, a diminui��o da solid�o e a melhora no comportamento social.”
Se S�crates falasse, poderia se gabar de ser respons�vel por tudo isso e muito mais. O pet causou surpresa ao chegar ao lar de Ludimila, diminuindo pouco a pouco a avers�o da fam�lia aos animais e aumentando cada vez mais o afeto das crian�as. “O Arthur est� na transi��o da inf�ncia para a adolesc�ncia, e o cachorro ajudou muito nisso. Ele despertou para a adolesc�ncia com as responsabilidades que o S�crates trouxe. Com 12 anos, ele sabe das obriga��es que tem com o animal e sabe que tem que voltar para casa porque algu�m depende dele”, exemplifica a m�e.
FAM�LIA MAIOR
Davi Lucas Castro enfrentava problemas de gente grande. Com apenas 11 anos, sofria de ansiedade, dificuldades na socializa��o e fobia de animais. A m�e, Luciana Castro, de 29, providenciou acompanhamento psicol�gico, mas nem a psic�loga de Davi imaginava o tamanho do bem que o pet poderia fazer, quando indicou aos pais um cachorro para melhorar o quadro do menino.

“O Davi sempre teve dificuldade de socializa��o. N�o queria ter amigos nem brincar com os outros. E era muito ansioso, ficava muito voltado para a televis�o”, conta Eric. “Depois da Elza, ele ficou mais seguro, passou a se comunicar melhor, a se socializar.” E o Isaque n�o ficou de fora das mudan�as. Ele, que n�o tinha responsabilidades e fugia das obriga��es, passou a ter tantos cuidados com a Elza que os pais resolveram adotar mais um membro na fam�lia, a Amora, mistura de yorkshire e lhasa apso.
A dedica��o das crian�as ao cuidar dos pets tem explica��o, como diz Rita de C�cia, idealizadora da Terapia C�o Carinho. “Os c�es n�o julgam, s�o alegres e cheios de amor para dar. Eles estimulam o tato, por meio do carinho e do aconchego, auxiliam na vida social, ajudam a diminuir a agressividade e at� mesmo casos de convuls�es.”
O projeto realiza a Atividade Assistida por Animais (AAA), que valoriza o contato entre os animais e as pessoas. Com visitas a hospitais e centros de reabilita��o psicossocial, os volunt�rios do C�o Carinho completam seis anos de servi�os. Na bagagem, hist�rias de crian�as que sa�ram da cama depois de dias para brincar com os pets ou que tiveram mudan�as de humor, importantes para o tratamento, depois de receber a visita dos cachorros.
Davi n�o chegou a frequentar hospitais e a tomar medica��es para alguma doen�a. Mas ter a Elza ao seu lado pode ter prevenido problemas que o rondavam, al�m de permitir momentos que seus pais n�o sabiam como poderiam proporcionar.
“Foi uma surpresa quando desci do pr�dio e o vi cheio de crian�as ao redor, conversando e brincando com a cachorrinha. Ele falava ‘m�e, eu tenho amiguinhos!’. E, na escola, uma vez a professora nos chamou porque ele estava conversando muito na sala. Achamos isso �timo! Foi um avan�o enorme para quem n�o tinha colegas.”
Para brincar (e curar)
» N�o existe ra�a espec�fica para o tratamento terap�utico com animais, mas para crian�as s�o indicados cachorros novos, que gostem de brincar, como west highland white terrier, labrador, retriever, papillon, beagle, schnauzer, d�lmata, golden retriever, fox paulistinha, pastor australiano e o sempre fiel vira-lata.
» Existem tr�s tipos de terapias com pets: Atividade Assistida por Animais (AAA), atividade casual com intuito de motivar, recrear e socializar, apresentando benef�cios emocionais e cognitivos; Terapia Assistida por Animais (TAA), interven��o com objetivos espec�ficos para cada doen�a e idade, com animais treinados; e Educa��o Assistida por Animais (EAA), usada principalmente para auxiliar o trabalho de pedagogos e fonoaudi�logos no desenvolvimento escolar.
» Estudo cient�fico comparou o per�odo de interna��o de pessoas que tiveram a companhia dos animais com os de outras que n�o tiveram. Entre os que contaram com a ajuda dos bichos, houve diminui��o de 16% da medica��o e sa�da antecipada do hospital em at� dois dias.
* Estagi�rio sob a supervis�o de Val�ria de Velasco
