A empres�ria belo-horizontina Mar�lia Pitta nasceu com o dom da costura, e � a ca�ula de uma fam�lia de tr�s filhos. Casou-se cedo, teve quatro filhos e s� se dedicou ao trabalho depois que a filha mais nova completou dez anos. Sua brincadeira de crian�a era costurar roupas para a �nica boneca que teve, que acompanhou toda sua inf�ncia e adolesc�ncia. Hoje, � propriet�ria de uma maison que leva seu nome, onde as clientes encontram roupa casual, de festa e at� mesmo vestidos de noiva. Mar�lia nunca reclamou de nada, tem como filosofia de vida ver sempre o lado positivo de tudo e ensinou aos filhos que problemas todo mundo t�m e sempre tem algu�m com uma dificuldade maior que a deles. Seu exemplo � de dinamismo, otimismo e perseveran�a. Este ano, a grife Mar�lia Pitta completa 30 anos de mercado.
Sua fam�lia � de Belo Horizonte?
Meus pais se conheceram em Lavras, cidade natal de minha m�e Edith Pitta. Meu pai foi estudar no Col�gio Gamon, refer�ncia na �poca, e a conheceu l�. Ele � engenheiro agr�nomo e por isso morou muito tempo no interior. Depois de casados vieram para a capital, porque ele foi trabalhar na Camig.
Como foi sua inf�ncia?
Normal, tranquila. Eu brincava muito de boneca. Naquela �poca n�o existia essa diversidade grande de bonecas como tem hoje, era uma s� e ela me acompanhou na inf�ncia. Na verdade, gostava de brincar de fazer roupa para ela.
Como assim?
Minha m�e tinha uma m�quina de costura, por�m n�o gostava muito de costurar. Naquela �poca as m�quinas eram de pedal, n�o sei dizer com que idade j� costurava na m�quina, mas lembro que meus p�s n�o alcan�avam o pedal, era a maior dificuldade. At� que um dia minha m�e conseguiu colocar um motorzinho nela, a� foi a maior alegria, estava com a vida feita. Costurava o tempo todo.
O seu lazer era costurar?
Era. Minha brincadeira de crian�a era costurar, isso me dava o maior prazer e alegria. Lembro que certa vez, nas f�rias, fomos para a casa de uma tia em S�o Paulo e l� eu vi, pela primeira vez uma m�quina que fazia zigue-zague. Isso para mim foi maravilhoso, era um novo universo cheio de possibilidades que se abria. Todos saiam para passear eu ficava na casa costurando. Sempre pedia um retalho, um pedacinho de pano e costurava roupinhas lindas para a minha boneca com zigue-zague.
Quem te ensinou a costurar?
Ningu�m, aprendi sozinha. Simplesmente pensava em um modelo sentava na m�quina e fazia. V�rias vezes, ainda crian�a, desenhava uma roupa que eu queria e pedia minha m�e para fazer para mim. Ela achava ruim, na maioria das vezes preferia comprar a roupa pronta, mas naquela �poca as ofertas eram poucas. Mor�vamos na Serra e l� tinha uma butique,onde mam�e comprava nossas roupas.. Mas eu gostava mesmo era de ir ao Centro e ver as lojas. Tinha a Guanabara que era loja de departamento, a Sloper que tinha roupas lindas, mas o chique mesmo era a Sib�ria, e era meu sonho dourado ter uma roupa de l�, por�m n�o t�nhamos condi��es financeiras para comprar l�. Quando minha m�e n�o queria fazer o vestido eu mesma fazia.
De onde herdou esse dom para costura?
Meu av� materno era alfaiate. Ele fazia os palet�s e minha av� fazia as cal�as. Mas eles n�o me ensinaram nada, porque ele morreu quando eu era crian�a e minha av� quando eu tinha 8 anos. E ela n�o morava em Belo Horizonte, e quando vinha aqui ficava a casa de minhas tias.
Como a roupa dava certo?
N�o sei explicar, mas ficava certinha. Nasci com jeito para o of�cio.
Com todo esse dom, n�o fazia roupa para vender?
Desde a pr�-adolesc�ncia eu j� fazia vestidos para minhas amigas. Elas viam as pe�as que fazia para mim e pediam para fazer para elas. Casei muito cedo, aso 20 anos, logo depois de me formar no normal no Col�gio Izabela Hendrix. Aos 25 j� estava com meus quatro filhos. Quando os levava para o col�gio as m�es dos coleguinhas encomendavam roupas, eu fazia e vendia.
Por que n�o abriu um neg�cio?
Com quatro filhos pequenos, em escadinha, n�o dava tempo para nada. Queria dar presen�a, me dedicar a eles. Fazia uma ou outra coisa em casa. S� abri minha f�brica quando minha ca�ula, Raquel, fez 10 anos, com total apoio do meu marido. Por sinal foi ele quem sugeriu, mas desde antes de abrir a f�brica ficava enlouquecida para trabalhar. Lia no jornal sobre as feiras de moda e ficava doida para participar.
E quando abriu a f�brica?
Em outubro de 1989. J� comecei participando de uma feira que a Sarah Vaintraub fazia no Othon Palace. Meu produto principal era camisaria. Fazia camisas de zibeline de seda, com aplica��o de renda, detalhes sofisticados. Eram lindas. Vendi muito bem. Participei de muitas feiras aqui e em S�o Paulo. Minha filha mais velha, a Priscila, come�ou a me acompanhar aos 13 anos, e est� comigo at� hoje.
Ela tamb�m costura?
N�o, mas se precisar, ela faz. � �tima em vendas e tamb�m na cria��o e com isso fazemos uma �tima dobradinha: n�s duas no estilo, eu na costura, comandando a turma e ela no atendimento ao cliente. A Raquel tamb�m est� conosco, mas fica cuidando das coisas administrativas e pr�ticas, mas � nosso bra�o direito. Quando precisa ela tamb�m atende e muito bem.
Como decidiu a abrir a loja?
Estava procurando um espa�o para mudar a f�brica e me interessei pelo BHZ Fashion Mall, na Rua Para�ba, onde ficava a maioria das marcas do Grupo Mineiro de Moda. Ronaldo, meu marido – que apesar de seu trabalho � quem cuida do nosso financeiro desde que comecei o neg�cio – come�ou a negocia��o com o propriet�rio do im�vel e eu dei continuidade. Foi nesse momento que ele questionou porque n�o abrir uma loja. Isso me instigou e abrimos ali nossa primeira butique. Ficamos l� muitos anos, cheguei a ter duas lojas, uma para ponta de estoque, depois decidi mudar para uma casa e viemos para o atual endere�o, h� 18 anos, aqui na Bias Fortes, porque eu morava aqui pertinho.
Com a loja, fechou o atacado?
Sim. � muito prazeroso trabalhar com o que se ama, mas este mercado n�o d� garantia. Os clientes fazem o pedido, n�o d�o nenhum sinal, s� pagam com 30, 60 e 90 depois que recebem a mercadoria, e algumas vezes, quando envi�vamos a mercadoria, alguns devolviam dizendo que n�o queriam mais, e t�nhamos que absorver o preju�zo. Preferimos fabricar apenas para nossa loja.
Come�ou com o casual chique. Quando passou para festa?
Minha roupa sempre foi mais trabalhada e chique, e naquela �poca as pessoas iam para os casamentos de vestido curto, foi a partir da� que comecei a fazer vestidos mais trabalhados, para casamento. Em seguida, a moda levou as mulheres a usarem vestidos longos e acompanhei a moda, apesar de meus vestidos serem bem atemporais. A maioria dos tecidos e rendas que usamos s�o importados, mas temos tamb�m tecidos nacionais muito bonitos que atendem bem e o pre�o da roupa fica bem mais em conta. Alguns modelos s�o eternos, porque caem muito bem na mulher brasileira. Um deles � perfeito para mulheres mais encorpadas, que t�m um abdome maior. Ele � seco, com um corte que favorece e emagrece bem. Certa vez, uma cliente veio aqui para fazer o vestido que usaria no casamento de sua filha. Pediu um modelo esvoa�ante, bem solto para esconder o corpo. Antes de ela se decidir pedi que experimentasse o tal modelo. Ela ficou surpresa com o resultado. Fizemos na cor que ela queria. Ela ficou t�o feliz e agradeceu muito. Isso � gratificante para n�s. Nosso casual tamb�m mudou bastante. Quando comecei a vida da mulher era outra, hoje, a maioria das mulheres trabalha, tem que estar arrumada, mas com roupas mais pr�ticas, que possam ser lavadas na m�quina. Tem tamb�m a moda resort que chegou forte. Nosso casual antes era muito delicado, a maioria das pe�as tinha que ser lavada a seco. Hoje isso � quase invi�vel. Tamb�m temos pe�as de outras marcas.
O que levou voc� a entrar no ramo de noivas?
Foi mais ou menos por acaso. Entre esses modelos “eternos”, t�nhamos um que era frente �nica e sobre ele vinha um tecido leve, importado, quase um brocado de dourado e prata. Uma noiva chegou aqui para olhar outra roupa e quando viu o vestido apaixonou e disse que queria se casar com ele. Fizemos uma vers�o com cauda e ficou lindo. Isso me despertou para este segmento. Al�m das roupas sob medida tamb�m representamos aqui a espanhola La Novia, que est� presente nos cinco continentes. Ainda temos modelos deles, mas trabalhamos mais o sob medida.
J� est� passando o neg�cio para as filhas e diminuindo o ritmo?
N�o, eu amo trabalhar, amo o que fa�o, tenho prazer em vir para a loja, em costurar. Venho at� quando estou doente. Fazer o que se gosta abastece a gente, em vez de cansar e desgastar, acredito que recarrega as energias. De 2007 a 2014 tive uma loja em S�o Paulo. Priscila e eu nos desdobr�vamos, mas valia muito a pena. Quando minha filha teve seu primeiro filho ela parou de ir para S�o Paulo e fiquei sobrecarregada. Tinha uma funcion�ria excelente, mas ela foi trabalhar com a irm�, que estava abrindo um novo neg�cio. A partir da� ficou invi�vel e optamos por fechar a loja de l�.
Como � para voc�, completar 30 anos de marca?
Gratificante, mostra que estamos no caminho certo. Mesmo em meio a uma crise t�o grande, conseguimos continuar. Isso demonstra nossa capacidade de criar e driblar os problemas.
A que atribui conseguir driblar a crise?
Ao nosso atendimento, nossa capacidade de perceber o desejo da cliente e propor o que lhe cai melhor. Outro ponto positivo em nosso trabalho � a agilidade com que fazemos uma roupa. Conseguimos fazer um vestido de um dia para o outro, desde que n�o tenha muito bordado, claro, e com isso conseguimos atender nossa cliente a tempo e a hora.
