
A empres�ria Tarsia Gonzalez � exemplo de dedica��o e compet�ncia. Ao lado dos dois irm�os, assumiu pap�is fundamentais na sucess�o e evolu��o do Grupo Transpes, uma das maiores empresas de transportes de cargas do pa�s. Especialista em qualidade e gest�o, formada em psicologia e especializada em alta performance em lideran�a pela Funda��o Dom Cabral, participou ativamente dos movimentos que levaram a Transpes a ser eleita, por tr�s anos consecutivos, uma das melhores empresas para se trabalhar pela revista Voc� S/A. Hoje, ap�s sete anos como presidente do Conselho de Administra��o do grupo, Tarsia ocupa uma cadeira no conselho, d� consultoria e viaja o Brasil dando palestras e ajudando a moldar novas lideran�as.
"N�o queria ser uma copiloto, queria ser dona da minha vida, dona da minha hist�ria, para ser feliz comigo mesma"
Fale um pouco da sua fam�lia
Nasci em Belo Horizonte. Sou filha de Tarsicio Gonzales, espanhol, e Ruth de Castro, natural de Pires de Goi�s, que veio para BH em 1962, depois de concluir sua gradua��o em nutri��o, na Universidade de Vi�osa. Conheceu meu pai em 1963, ele j� atuava no ramo de transportes, e ap�s se casarem os dois fundaram o Grupo Transpes, em 4 de maio de 1966. Ela sempre esteve ao lado dele como empreendedora e vision�ria. S�o meus dois grandes exemplos. Tiveram tr�s filhos, dois homens e eu, que sou a filha do meio.
Quando e como seu pai veio para o Brasil?
Veio em 1951, fugindo da guerra da Coreia, porque a Espanha tinha que enviar tropas para a guerra, por fazer parte da ONU. Um amigo, que tamb�m fugiu, deu o aviso de que ele seria convocado e deveria fugir tamb�m. Atrav�s da embaixada brasileira conseguiu o endere�o de um tio que morava no pa�s, depois de um ano, mas o tempo tinha se esgotado por causa da convoca��o para a guerra. Ele ficou escondido por um ano em pa�ses da Europa. Embarcou em um navio de carga, sem nenhum documento, e veio para o Brasil. Na Espanha, era camel�, e come�ou aqui trabalhando em feiras fazendo trabalho bra�al descarregando caminh�es. Trabalhou tanto que conseguiu dinheiro suficiente para comprar seu primeiro caminh�o. Com a constru��o de Bras�lia, era preciso levar m�quinas e cargas pesadas para l�. Ele cortou seu caminh�o, e o transformou em carreta para levar as m�quinas. Foi a primeira carreta da Tanspes. Minha m�e era uma grande vision�ria, s�cia na empresa, foi ela quem criou e implantou o servi�o de escolta para transportes pesados. E a empresa foi crescendo.
Quando os filhos assumiram a empresa?
Na d�cada de 1990, meus irm�os e eu demos continuidade ao sonho deles, e empreendemos mais. Ampliamos a empresa, passando a atuar em todo o pa�s. Investimos em pessoas, funcion�rios satisfeitos trabalham com prazer, e o resultado � surpreendente. Hoje, atuamos em toda a Am�rica Latina. Este ano, a empresa completa 56 anos. Meu pai passou para n�s os quatro valores que em um ser humano deve ter para vencer: amar o pr�ximo, saber perdoar, saber perder e ter humildade.
O queria ser quando crescesse?
Queria ser m�dica, mas n�o tenho certeza de que esse era um sonho real ou n�o, porque a minha vida acelerou quando eu engravidei precocemente, aos 17 anos. Hoje, tenho um filho de 35 anos, Ruz Gonzalez, que � administrador, e uma filha, Regina, de 27, que � psic�loga. Estava terminando o ensino m�dio e tive que interromper meu sonho por causa de problemas pessoas e tive que acelerar a vida profissional, n�o tive tempo para fazer essa escolha. Eu me casei, virei m�e e comecei a trabalhar. Na verdade, n�s fomos criados para o trabalho, desde os meus 13 anos ia � empresa para ajudar meus pais, mas s� comecei mesmo a trabalhar tr�s anos mais tarde. Isso cria uma responsabilidade e um amor pelo neg�cio. Era a necessidade de colaborar e de fazer parte da empresa familiar. Minha op��o passou a ser honrar meus pais e ajud�-los no que precisassem. Era uma continuidade da pr�pria casa, da nossa fam�lia.
Como foi sua trajet�ria at� chegar na presid�ncia do Conselho?
No in�cio, fazia tudo que fosse preciso. Comecei na parte organizacional, de administra��o, pagamentos, lan�amentos, caixa, tesouraria, enfim, toda a parte financeira. Pela necessidade das minhas fun��es, fiz o curso de ci�ncias cont�beis na UNA. Fiquei na �rea financeira por 12 anos, e voc� acaba se envolvendo em todas as outras �reas da empresa. Sempre com muito empenho. Percebi que precisava entender mais sobre gest�o de pessoas, e fui me graduar em psicologia. Com as duas gradua��es, percebi, nos anos 1990, a necessidade de instalarmos processos dentro da Transpes. Fui para a �rea de qualidade e h� 18 anos certifiquei a empresa no ISO 9000. Aos 20 e poucos anos, j� estava mostrando meu empreendedorismo dentro do grupo, trazendo todas as inova��es necess�rias.
� uma apaixonada pelo faz?
Sou. Todo esse trabalho foi um caminho sem volta, porque come�amos, de uma forma apaixonada, a buscar a melhor performance naquilo a que me propus fazer. Acredito que esse � o grande barato que devemos levar para as mulheres. Independentemente do que escolher para fazer, quando faz muito bem-feito, traz uma satisfa��o tanto para voc� quanto para quem voc� presta o servi�o, e voc� evolui cada vez mais na sua carreira. Buscar fazer o melhor, com paix�o e amor, � o que traz o diferencial n�o s� para ser o empreendedor, mas colher o resultado do empreendedorismo.
E a vida pessoal?
Ela sempre existiu. Fiz administra��o, contabilidade, psicologia fui para parte de processos. Gest�o de pessoas. A empresa crescendo muito, e t�nhamos que ser bem-informados por causa das muitas leis que t�nhamos que saber para o neg�cio. Era como uma sede, faminta por mais informa��es e em dar o meu melhor. Porque eu queria encontrar o meu lugar naquela fam�lia. A empresa familiar acaba sendo uma continua��o da fam�lia. Cada um tem um papel na fam�lia, suas dificuldades e faltas. Por eu ter me afastado um tempo por causa da gravidez, era importante retomar o meu lugar e a minha independ�ncia, porque queria ter e ser independente, mesmo estando dentro daquele grupo. Em qual lugar poderia me destacar?
Sofreu preconceito por ser mulher?
Tive que enfrentar muitos desafios por ser mulher. Por causa da cultura, do tipo de neg�cio – transporte e log�stica. A �rea empresarial e financeira, nos �ltimos 30 anos, e sempre foi um mundo muito liderado por homens, e enfrentei muitas resist�ncias, mas tinha dois grandes exemplos de pessoas vencedoras, que eram meus pais. Eles me davam muita motiva��o para eu seguir, independentemente do que as pessoas diziam. N�o queria ser uma copiloto, queria ser dona da minha vida, dona da minha hist�ria, para ser feliz comigo mesma. Foi um caminho muito nobre. Mas ainda falta muito ch�o pela frente, porque estamos sempre nos transformando todos os dias.
Foi com todo esse empenho e paix�o que chegou � presid�ncia do Conselho?
Sim. Cheguei a presidente do Conselho de Administra��o da companhia. Fui diretora nas �reas administrativa e financeira, de marketing, especializei-me em planejamento estrat�gico, governan�a, pedi demiss�o do cargo de diretora e entrei como presidente do Conselho h� sete anos, atuei nesse cargo at� dois anos atr�s.
Por que saiu?
Estava fazendo 50 anos e queria novos ares, quis buscar mais qualidade de vida, e fui para a cadeira de conselheira. Nesses dois anos, j� desenvolvi o Conselho de Inova��o e o de ISG, al�m de planejamentos estrat�gicos, gest�o de pessoas etc.
Quais empresas comp�em o grupo?
S�o tr�s. A Transpes, de transporte e log�stica. A Inova, na �rea de educa��o, a primeira parceria p�blico-privada (PPP) de educa��o no Brasil, com 52 escolas e 25 mil crian�as, da qual meu filho Ruz � o presidente. E a Sa�de BH, projeto junto � PBH para constru��o de postos de sa�de em BH. Estamos indo para 40 postos constru�dos.
Em 2018, voc� lan�ou um livro. Fale um pouco sobre ele.
“Apaixonados pelo Brasil, onde est�o?” faz uma an�lise hist�rica sobre a lideran�a no Brasil. � um apanhado dos �ltimos 50 anos de lideran�a no pa�s e traz a minha experi�ncia de mais de duas d�cadas de gest�o, e lan�o um desafio: onde est�o os novos l�deres, aqueles que v�o transformar o Brasil novamente em um pa�s pr�spero e do qual todos se orgulhem?. Estamos vivendo um tempo �mpar, no qual, mais do que nunca, precisamos unir mente e cora��o para fazer uma escolha consciente nas pr�ximas elei��es, da� a import�ncia da gest�o da emo��o, que � um dos temas do livro. Estamos sendo liderados por herdeiros indolentes, que n�o t�m comprometimento, muito menos pulso firme para tomar decis�es e suportar suas consequ�ncias. Onde est�o os cora��es apaixonados pelo Brasil? Nos tornamos um povo sem p�tria, que tem vergonha de seus governos, como se eles n�o fossem escolhidos por n�s.
Foi dif�cil se impor e ser respeitada em um setor comandado por homens?
Na empresa, n�o, e nem com meus irm�os. Meus pais sempre nos criaram de forma a manter nossa uni�o, respeito, e sabendo a capacidade de cada um e que est�vamos em p� de igualdade. Meu irm�o mais velho, o Sandro, dirigiu a empresa por muitos anos, depois eu assumi e agora � nosso irm�o mais novo, o Alfonso, quem est� no comando. Nunca dei muita import�ncia para a opini�o alheia e acredito que esse fator foi crucial na minha trajet�ria de sucesso. Mas tamb�m sei que existem realidades diferentes e tamb�m empresas que tratam de forma muito diferente, ainda, homens e mulheres. A quest�o �: o que fazer?. Sei que a mulher ainda sofre muita discrimina��o no mundo corporativo e na sociedade, e sei tamb�m que muitas vezes as coisas se tornam muito dif�ceis. Menores sal�rios, dificuldade para promo��es, descr�dito de chefias masculinas. A lista � grande se formos enumerar todas as situa��es pelas quais passamos no dia a dia corporativo. � preciso pensar em uma maneira social de reverter essa realidade, aliando o pensamento de construir e agregar para estar sempre apta a brigar de frente com a forte barreira que encontramos.
Voc� aceitou participar do chefe
secreto. Como foi essa experi�ncia?
Foi oportunidade �nica na vida, onde pude viver o dia a dia dos funcion�rios ch�o de f�brica, sem que eles soubessem quem eu era. Aprendi muito, principalmente onde poder�amos melhorar. Ir a campo e pegar no pesado n�o foi dif�cil, porque sempre fui muito pr�xima dos funcion�rios.
Como conciliou trabalho, casamento e fam�lia?
Essa pergunta sempre bate � minha porta e seria uma inverdade dizer que no malabarismo da vida eu sou uma supermulher, de que dei conta de todas as minhas metas. Na verdade, esse � o desafio de todas n�s e a minha sa�da foi usar da intelig�ncia emocional, me cobrar menos e viver um dia de cada vez sem valorizar a “culpa” daquilo que n�o foi perfeito. Tive dois relacionamentos, nos quais tive dois filhos maravilhosos, depois n�o me casei novamente. Hoje, com 52 anos, com filhos formados e cada um construindo sua hist�ria, busco priorizar minha qualidade de vida mantendo a disciplina de atividades f�sicas, uma alimenta��o saud�vel e principalmente evoluindo espiritualmente. A f� em Deus � primordial para meu equil�brio. Todos os dias erramos e acertamos, e s� assim evolu�mos como seres humanos.
Como a empresa passou pela pandemia?
Como uma empresa que conquistou o pr�mio de melhor empresa para se trabalhar por tr�s anos consecutivos, sempre priorizamos o ser humano. Acolher, acompanhar e instruir todos foi uma regra desde do in�cio. Passamos como todo o mundo por um processo de transforma��o, e hoje considero que conseguimos evoluir para uma nova realidade. O trabalho h�brido � a nova regra e isso mudou totalmente o mercado.
Quais as principais conquistas da sua carreira?
Foram muitas conquistas. Em 1994, estruturei o Departamento de Pessoal; dois anos depois, iniciei a consultoria para a implanta��o da cultura do programa 5S, preparando a empresa para a primeira de muitas de suas certifica��es. Em 1998, conseguimos pela primeira vez a ISO 9002 e mantemos a certifica��o at� hoje. Elaborei o Departamento de Recursos Humanos, focado exclusivamente nos processos de recrutamento, sele��o e treinamento; trabalhei no planejamento estrat�gico da Transpes, que foi constru�do com a assessoria externa de uma renomada empresa de consultoria. Um dos resultados foi a mudan�a do nome de Transpesminas para Transpes, e passamos a atuar em todo o territ�rio nacional, hoje com 22 filiais. Implantei, de forma in�dita no Brasil, o primeiro ERP (sistema Protheus); implantei o sistema integrado de gest�o empresarial; implantei o conceito de gest�o de pessoas; criei o departamento de Marketing e Comunica��o; iniciei o projeto de cria��o do Conselho de Administra��o da empresa; encabecei a elabora��o do c�digo de �tica. Em 2015, assumi o cargo de presidente do conselho administrativo, e implantei o Projeto Melhores Ideias.
Como s�o suas palestras sobre consultoria?
Viajo pelo Brasil falando de temas como felicidade interna bruta e desafios e oportunidades no ambiente de trabalho. Falo da minha experi�ncia e especializa��o. Quando consegui colocar os processos da Transpes nos eixos, vi que ainda faltava algo, sabia que a companhia poderia ir al�m, mas n�o percebia qual o caminho, foi quando me dei conta de que estava faltando o tempero daquela mistura: engajar as pessoas, olhar para elas e entender o que fazia sentido para cada time, s� assim foi poss�vel gerar uma companhia realmente saud�vel. Na consultoria, busco entender o que a companhia precisa, em qual caminho est� e em que fase de reestrutura��o. Nada pode ser plastificado, embalado, cada situa��o � �nica e os m�todos, bem como os resultados, tamb�m ser�o.