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Consumo consciente

Vencendo preconceitos, brech�s ganham novo status impulsionados pelos princ�pios da economia circular e da sustentabilidade �


06/09/2020 04:00 - atualizado 04/09/2020 15:58

Clima retrô no brechó Brilhantina(foto: divulgação)
Clima retr� no brech� Brilhantina (foto: divulga��o)
Foi na d�cada de 1990 que a est�tica retr� ganhou o aval da moda e os brech�s tiveram permiss�o para entrar no mundo fashion pela porta da frente. Revisitar o passado, garimpar pe�as �nicas, descobrir vestimentas e acess�rios preciosos, entrou para a agenda de jovens antenados, que adotaram a novidade para montar looks autorais e diferenciados. A afirma��o dos conceitos de sustentabilidade, economia circular, upcycling, entre outros que caminham a passos largos no s�culo 21, contribuiu para que a pr�tica se disseminasse e encontrasse seu apogeu nas redes sociais, onde os grupos de desapego se proliferam. A m�xima � prolongar a vida �til daquela roupa ou objeto. O planeta agradece, j� que um dos problemas com que ele se depara � o descarte dos res�duos, particularmente os t�xteis.
 
Bárbara Porto é responsável pela curadoria apurada da Duacervo (foto: Bárbara Dutra/divulgação)
B�rbara Porto � respons�vel pela curadoria apurada da Duacervo (foto: B�rbara Dutra/divulga��o)
O assunto ganhou a aten��o da jornalista e professora Val�ria Said, que � adepta da tend�ncia. O seu mestrado em Estudos Culturais Contempor�neos, na Fumec/Fapemig, teve como tema a “Cultura  vintage na moda e sua dimens�o pol�tica, cultural e filos�fica”, e ela tem muito a ensinar, como, por exemplo, que o termo brech� � express�o brasileira. “A origem remonta ao final do s�culo 19. Conta-se que um mascate de nome Belchior vendia roupas e artigos de segunda m�o, no Rio de Janeiro, em sua Casa do Belchior. Esse estabelecimento ficou t�o conhecido que passou a designar, pela corruptela ‘brech�’, todo tipo de com�rcio de usados”.
 
Marcas e acessórios de luxo na nova loja Duacervo(foto: divulgação)
Marcas e acess�rios de luxo na nova loja Duacervo (foto: divulga��o)
A partir da pesquisa, a especialista descobriu que � poss�vel categoriz�-los em tr�s formas de percep��o imediata para se identificar a curadoria oferecida:
os secondhansd, mais comuns, comercializam qualquer tipo de roupas ou acess�rios usados e s�o procurados por consumidores que querem fazer economia e comprar pe�as de segunda m�o em bom estado de conserva��o. “Muitos vezes confundidos com bazares filantr�picos, d�o um car�ter popularesco ao com�rcio, remetendo �s origens caritativas do mercado de usados do s�culo 19 (fliperie). Em geral, oferecem roupas mais pr�ximas da est�tica mainstream, mas � poss�vel se encontrar pe�as vintage. A frugalidade � apontada como motiva��o principal para a compra nesses locais”, observa.
 
A jornalista Valéria Said é adepta do estilo vintage (foto: arquivo pessoal)
A jornalista Val�ria Said � adepta do estilo vintage (foto: arquivo pessoal)
Os brech�s label s�o os especializados em grifes e multimarcas do mercado do luxo, ideais para se adquirir produtos e acess�rios seminovos de estilistas brasileiros e internacionais por pre�os acess�veis aos valores das lojas. “O consumo dessas pe�as � carregado de status social pois, ainda que sejam pe�as usadas, exigem certo capital para serem adquiridas”, define Val�ria.
Por fim, existem os brech�s vintage (thrift shops vintage), onde as roupas s�o valorizadas pelo seu aspecto hist�rico e afetivo. “Neles h� uma preocupa��o maior com a biografia das roupas, a garimpagem est� relacionada ao prazer da experi�ncia de “ca�a ao tesouro”, ou seja, de garimpar determinados estilos vintage do s�culo 20 a pre�os diferenciados. Os consumidores dessa categoria podem ser classificados como connoisseurs, pois sua garimpagem exige certo capital cultural para a produ��o de looks autorais, afetivos e criativos, cujo desafio de estilo � saber mistur�-los com pe�as contempor�neas, evitando a apar�ncia caricatural”, enfatiza a jornalista. Segundo ela, as tr�s categorias t�m propostas sustent�veis atreladas � vida �til das roupas e funcionam melhor quando o consumidor est� ligado no consumo consciente.

Tradicional Frequentado por um p�blico cool, o Brilhantina � um dos mais conhecidos brech�s de Belo Horizonte. Instalado h� 17 anos na Savassi, a propriet�ria Raquel Fernandes acompanha com interesse o crescimento desse mercado. Se antes corria atr�s de fornecedores, hoje s�o eles que chegam at� o local levando seus desapegos. “Com a tecnologia, agora fa�o a curadoria por internet, o que facilitou muito o trabalho. Muitos come�am como fornecedores, tomam gosto, e terminam como clientes”, informa a empres�ria.
 
Desapegos da Cris Guerra na Wabi(foto: divulgação)
Desapegos da Cris Guerra na Wabi (foto: divulga��o)
Filha de costureira, ela conta que, muitas vezes, solicitava � m�e um vestido novo, e n�o podia ser atendida. “Ela estava sempre ocupada com suas demandas, e eu, levada por um gosto pessoal, ia garimpar nos brech�s para me vestir como queria com pre�o acess�vel”. Apesar de, atualmente, oferecer tamb�m pe�as contempor�neas, o foco da loja � o vintage. � ele que mais desperta a aten��o de um p�blico, entre 25 a 55 anos, que aprecia moda, valoriza uma compra especial motivado pela qualidade das roupas e pelo estilo diferenciado.
 
“� um com�rcio de oportunidade, tudo � �nico, o velho para voc� torna-se novo para outro”, sintetiza Raquel. O Brilhantina det�m um acervo precioso de pe�as dos anos 1930 e 1950 e � muito procurado pelos produtores e stylists para produ��es e editoriais fashion. “Observo ao longo do tempo que h� uma mudan�a de consci�ncia, principalmente na cabe�a dos novos estilistas, compondo cole��es menores e sustent�veis”, observa.

Desapego O instagram Wabi Desapego tem chamado aten��o virtualmente, nas redes sociais, com campanhas que unem figuras conhecidas nessa plataforma, com compet�ncia para incentivar o consumo, e movimentos sociais com cunho beneficente. As respons�veis pelo empreendimento s�o as engenheiras S�mara Menighi e a advogada Karina Coutinho, que resolveram investir em uma proposta com conte�do diferente. O projeto ainda � um beb�, nasceu em janeiro, mas est� fazendo barulho.
Os lan�amentos s�o divididos em temporadas. A primeira delas foi protagonizada pela jornalista Nat�lia Dornellas, integrante do poadcast “As perennials”, que entregou as organizadoras cerca de cem pe�as e posou com v�rias delas nos posts da Wabi. Com a pandemia, houve um break e a segunda temporada teve como foco as obras sociais da AMR – Associa��o Mineira de Reabilita��o, cujo or�amento foi abalado com a chegada do Coronav�rus. “Parte da renda com as vendas foi direcionada para l�”, explica S�mara.
 
J� na terceira temporada, a escolhida foi a escritora e publicit�ria Cris Guerra, criadora do “Hoje vou assim”, o primeiro site de looks do dia do Brasil , que possui 94, 3 mil seguidores no seu instagram @eucrisguerra. A experi�ncia tem dado certo e � fruto de muita pesquisa. “Participei de outros grupos de desapego, comecei a pesquisar sobre economia circular, consumo consciente, sustentabilidade. Estamos investindo em uma nova ferramenta de vendas em parceria com uma starup e nosso pr�ximo passo ser� com uma marca de upcycling de Curitiba. A campanha ser� destinada a ajudar um hospital”, ela anuncia.

Luxo J� o Duacervo brilha no segmento label. A respons�vel pelo brech� � B�rbara Porto, uma jovem comunicativa e atirada, que tem sangue comercial na veia. Aos 13 anos, saia da escola e ia ajudar na Porto & Guia, neg�cio que a m�e, Roberta, manteve com Sheila Mares Guia durante muito tempo. Flertando com a moda, quis conhecer todos os seus meandros: frequentou o curso da Fumec, fez modelagem com J�nia Melo, e ficou dois anos especializando-se em universidade de Miami. Foi dona de duas franquias da Osklen, no P�tio Savassi e no Diamond Mall, integrou a equipe de estilo da Chouchou, segunda marca do grupo Patachou e, entre essas experi�ncias, trabalhou com o pai nas suas concession�rias de carros.
 
Paralelamente a esse status, criou um instagram direcionado para desapego no segmento do luxo, que sempre conheceu a fundo. “No in�cio, peguei roupas minhas, das minhas irm�s e amigas para vender. O neg�cio come�ou a funcionar, a me dar uma boa renda. Veio da� a necessidade de ter um espa�o especial para receber minhas clientes e me instalei em uma casa, no bairro de Lourdes. At� ent�o, eu fazia tudo sozinha”, conta a empres�ria.
 
A hist�ria j� dura oito anos e � um sucesso. A Duacervo ganhou um endere�o novo, no Belvedere, com um acervo fabuloso de grifes importantes, como Chanel, Dior, Valentino, Louboutin, Diane Von Furstenberg, Gucci, Prada, Dolce & Gabanna, Louis Vuitton, Herm�s, entre outras estreladas. Do vestu�rio aos acess�rios, tudo � selecionado por B�rbara, que, acostumada a frequentar brech�s internacionais, conhece todos os tr�mites para gerar confiabilidade, entre eles certifica��es, que garantem a origem do produto, evitando c�pias. O novo espa�o passou a receber tamb�m marcas nacionais, como NK Store, Cris Barros, Mixed, entre outras, igualmente selecionadas pela empres�ria.
 
Apesar de, agora, contar com quatro vendedoras, ela � a protagonista do neg�cio: veste as roupas, elabora produ��es, mostra a cara nos storys do instagram, encarna a pr�pria personal shopper. E faz quest�o de responder todas as demandas dos seguidores. “Gosto do com�rcio, adoro vender”, ela confessa, lembrando a primeira vez que entrou em um brech�, em Saint Tropez, quando tinha por volta de 18 anos. “Fiquei impactada com o que vi, os brincos da Chanel, que lembravam os da minha av�”, relata. Foi esse conceito sofisticado, que passa pelos cinco sentidos, cheiros e gostos inclusos, que ela implantou no seu point comercial. De l�,  atende o Brasil inteiro, consciente que est� contribuindo com o reuso nos melhores moldes da economia circular. 


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